terça-feira, 15 de dezembro de 2009

"BUTE" LÁ FALAR DE HÓQUEI

Carlos Emídio Martins, encontra-se há muitos anos ligado ao hóquei em patins, actualmente ligado á Secção Juvenil do SC Tomar, é também administrador do Blog “OKJUVTOMAR”. Colaborador do Cartão Azul, e amigo pessoal, fomos ao seu encontro para falarmos pura e simplesmente de hóquei em patins.
CA – Bom dia Carlos, em primeiro lugar obrigado pela disponibilidade, e também pelas informações da nossa modalidade, que me fizeste chegar durante estes meses todos. Em segundo vamos começar a falar de hóquei. Como estão a ser encaradas pelos jovens jogadores as novas regras?
CM – Bom dia e antes da mais quero felicitar-te pelo facto de retomares o teu espaço no panorama hoquístico Ribatejano. Relativamente à pergunta que me colocas, quero antes de mais frisar que sou apenas um amante desta modalidade, e os meus conhecimentos são apenas empíricos e não científicos. Como tal vou tentar responder numa óptica de simpatizante, embora lide todos os dias com os atletas dos mais variados escalões. Houve alguma confusão no inicio, pelo facto de haver muitas duvidas nas interpretações das regras. E isso sentiu-se nas pessoas mais directamente ligadas à modalidade, os árbitros, que também eles tiveram algumas dificuldades para porem em prática as regras, que para cúmulo foram sendo adaptadas quase até ao inicio dos campeonatos. Mas o mais curioso, foi ver que os miúdos tiveram uma capacidade fabulosa em assimilar as novas regras, talvez pelo facto de estarem ainda numa fase de aprendizagem, mas fiquei deveras surpreendido pela positiva, até porque tenho aqui em casa dois 2 "projectos de jogadores" e fui esmiuçando também com eles as dúvidas que foram surgindo. Mas quero também dizer que houve uma preocupação por parte da nossa Associação para que os Clubes tivessem o máximo de informação.
CA – As mesmas foram facilmente assimiladas, ou existiu alguma renitência por parte dos atletas à mudança?
CM – Como disse atrás, foram muito facilmente adaptadas pelos atletas, a dificuldade se calhar até esteve nos mais velhos que fruto de muitos anos a regerem-se pelas mesmas regras, tiveram alguma renitência nalgumas delas. Mas como deves calcular, foi uma mudança quase radical, e como tal há sempre que esteja a favor e quem esteja contra. Claramente que veio trazer ao hóquei e à sua forma de jogar mudanças que ainda não são totalmente visíveis mas que com o tempo irão dar ao jogo uma dinâmica diferente daquele a que nos habituamos a ver. Se para o bem ou para o mal o tempo encarregar-se-á de dizer.
CA – A nível da arbitragem as mesmas tem sido correctamente aplicadas, e explicadas aos jovens atletas, ou notas que também neste patamar as regras ainda estão a caminhar para a perfeição, e os árbitros ainda tem certa dificuldade em aplicá-las na totalidade?
CM – Houve por parte da APR, e do seu quadro de árbitros, a preocupação de antes do inicio oficial da época fazerem-se jogos treino para se aplicarem as regras, até porque também eles, por aquilo que me apercebi, tinham alguma dificuldade nas interpretações e na forma de as aplicar. Isso penso que foi conseguido, mas naturalmente que a situação que se passou com os atletas passa-se com os árbitros, e ainda existe alguma dualidade nos critérios que aplicam das decisões que tomam.
CA – Deixando os escalões de formação, e sabendo eu que acompanhas regularmente jogos do escalão sénior, achas que as novas regras vieram beneficiar o espectáculo, ou pelo contrário vieram complicar a situação da modalidade já de si complicada?
CM – São dois pontos diferentes. Que esta modalidade é complicada e os responsáveis ajudam muitas vezes a torna-la ainda mais complicada, toda a gente sabe. Dando seguimento de certa forma àquilo que disse atrás, a questão fulcral acerca das novas regras, é a interpretação que cada árbitro dá às regras. e é cada vez mais visível que o poder decisório dos jogos está nas mãos dos árbitros, e independentemente da regra ser dogmática a interpretação que dela sai é muitas vezes contraditória, consoante as directrizes emanadas de cada Concelho Regional de Arbitragem. Posso estar a dar aqui uma grande calinada, mas sinceramente é aquilo que vejo. Quanto ao espectáculo em si, fico cada vez mais com a ideia que os jogos começam a ser decididos nos livres directos e penaltis. Com o aparecimento do power play assiste-se a uma dinâmica de jogo totalmente diferente daquilo que assistíamos. As inferioridades numéricas, os livres através da acumulação de faltas, vieram trazer uma nova era na modalidade. E aqueles que mais depressa se adaptarem às novas regras, sairão por cima com as vantagens daí inerentes. É sem dúvidas o ano zero no Hóquei em Patins.
CA – Já que falamos da situação da modalidade, como vistes as declarações do presidente da FPP, no que diz respeito ás transmissões televisivas?
CM – É o constatar de um facto que é do conhecimento de todos. Dividas brutais acumuladas pela FPP (não se diz é quem são os responsáveis), uma má planificação nas bases para o desenvolvimento sustentado da modalidade, e onde é primordial um papel mais activo e envolvente da FPP com as Autarquias, e Escolas para que a modalidade possa ser desenvolvida, são factores que poderão ser decisivos para a continuidade do Hóquei em Patins. Sem dúvida que a divulgação através da TV é importante, mas tão importante quanto isso, é a FPP ( quero dizer o quadro técnico) vir para o terreno e ver como se trabalha nos Clubes. Depois, fazer um levantamento das carências, e mediante isso investir, sim, mas na obtenção de material de iniciação para que os jovens possam experimentar esta modalidade nos Clubes. É responsabilizar os Clubes, apoiar aqueles que trabalham para que esta modalidade tenha futuro, e se calhar daqui a meia dúzia de anos poderemos falar de forma diferente. O Sr. Presidente só fala sobre a TV. E a restante comunicação social, será assim tão cara que não se possa investir para que a informação seja divulgada? É triste pegarmos num qualquer jornal desportivo nacional, e vermos, que nada vemos sobre o hóquei. Há muito trabalho a fazer nesse campo, e se calhar nem será necessário tantos milhares. O que é necessário é vontade, muita vontade.
CA – Achas que a nossa modalidade, vai voltar ao lugar que é seu por direito, ou que com estas mudanças todas, e o “marasmo” de quem tem responsabilidades, vamos continuar a ver o hóquei cada vez mais mal tratado a nível de comunicação social e a perder adeptos para outras modalidades?
CM – Se vai ou não voltar ao que é seu por direito não sei. A única coisa que sei é que neste momento, o hóquei ainda é falado porque existe este novo meio de comunicação que é a Net, e aparecem uns carolas como tu ou eu que fazem isto por amor à camisola, vamos conseguindo informar e estar minimamente informados sobre as incidências deste malfadada modalidade. Agora o tempo que se perdeu dificilmente se recupera, e há que perceber que as ofertas que hoje existem para os jovens são de longe muitas mais do que eram há 20 anos atrás. A FPP tem que perceber primeiro o que quer e depois pôr mãos à obra, mas a sério sob pena de o hóquei passar a ser uma modalidade ainda mais subalternizada.

(Beirante, Bacalhau e Carlos Martins, 3 elementos da Secção Juvenil SC Tomar)

CA – Voltando aos escalões de formação, o SC Tomar tem no passado recente regressado aos nacionais, em vários escalões, coisa que não acontecia há uma série de anos. Este facto deve-se ao trabalho da secção juvenil do clube, onde estás inserido, ou ainda há muito por fazer, ou o mesmo também se deve em parte ao dinamismo do Paulo Beirante?
CM –Isto são duas perguntas em uma -). É um facto que nos últimos três anos o SCT está presente nos Nacionais e esta época já tem duas garantidas (Iniciados e Juniores) e com a de Juvenis a um pequeno passo de lá estar assim como a de Infantis. Ainda falta muito Campeonato mas foi uma das apostas desta Secção tentar levar as 4 equipas de competição aos Nacionais. Se conseguirmos, é excepcional, mas se não for possível, vamos trabalhar ainda mais para que num futuro próximo o consigamos. É essa a filosofia deste grupo de trabalho que todos os dias dá um pouco de si para que a formação do SCT tenha as condições ideais para um trabalho que queremos de qualidade. Naturalmente que nem tudo é prefeito, e todas as épocas há falhas, mas as coisas são mesmo assim, não há volta a dar. Mas dá-me um gozo especial ver aquilo que o é na formação e aquilo que era à já alguns anos atrás. Tem tido um crescimento sustentado tanto na área financeira como desportiva. Criaram-se mecanismos que tem salvaguardado situações que pontualmente surgem. E é aqui que o Paulo Beirante teve e tem um papel fundamental. Dinamizou, promoveu, acreditou sempre que podíamos ser melhores amanha que hoje. È um Homem que com o seu carisma conseguiu congregar um grupo de gente, que posso dizer à vontade e publicamente, pôs a máquina a trabalhar e é responsável por aquilo que o SC Tomar é a nível da formação. Posso adiantar-te e é em 1.ª mão que o Torneio Internacional que vamos realizar na próxima Páscoa, tem a participação já confirmada do FC Porto, do SL Benfica, do Sporting CP, do Óquei Barcelos, Paço d´Arcos, AA Coimbra, Candelária, entre outros, para além de 3 equipas estrangeiras que participarão nos escalões mais velhos. Como vez o bom trabalho que esta secção está a realizar é reconhecido pelos melhores Clubes Nacionais que aceitaram quase de seguida os convites que lhes endereçamos. Mais uma vez o Paulo Beirante está na linha da frente. Mas para finalizar aqui nesta casa Sportinguista (custa-me sempre escrever esta palavra, sendo eu um Lampião empedernido -) ), há sempre coisas por realizar, temos sempre projectos em mente para serem concretizados. Uns conseguem-se, outros não. Mas é sempre com espírito de luta e na procura de um futuro melhor para os nossos “putos” que trabalhamos nesta Secção.
CA – Como está a formação a nível do Ribatejo. Estão a voltar nos escalões mais jovens clubes como o Rio Maior, e outros como o Santa Cita, que de época para época se está cada vez mais a afirmar no panorama hoquista Ribatejano? O que te apraz dizer?
CM – É sempre bom quando vemos os Clubes a apostar na formação. É sinal que há uma mentalidade sã e que cada um deles procura no seu seio criar condições para projectar alguns desses atletas na competição Sénior. Porque também é por isso que se criam estas estruturas. E como dizes e muito bem o exemplo do Santa Cita é um facto. Eu por brincadeira digo que é lá que está a “Aldeia do Hóquei Ribatejano”, por numa povoação daquela dimensão se estar a trabalhar bem e a sério na formação o que é de louvar o empenhamento dos responsáveis do Santa Cita. O J. Ouriense, o União FE são outros dois bons exemplos de que a aposta na formação está a ser feita e com qualidade. O HC Santarém é um dos Clubes com mais atletas, e embora esta época as coisas não estejam a correr da melhor forma em termos de resultados desportivos, é uma potência Distrital. Satisfaz-me igualmente o empenho que o Tigres está a pôr na formação assim como o Corujas que está a apresentar formações mais jovens com muita qualidade, o que pressupõe que se está a trabalhar bem nestes Clubes. Mas acima de tudo o importante é registar a qualidade das nossas equipas, e o exemplo disso é os resultados que elas tem tido nos Nacionais, onde aquelas goleadas que nos presenteavam, praticamente deixaram de existir, e isso deve-se ao trabalho cada vez mais exigente que os Clubes tem com a formação.
CA – Como podemos ver os Torneios Regionais? Pelo lado em que os ficam mais onerosos para os clubes, no que concerne a deslocações, e que a realização destes é a prova que cada vez existem menos praticantes e temos de juntar várias Associações para realizar um torneio credível e competitivo, ou que estes Torneios são uma mais valia para os atletas e ajudam a obter mais lugares de acesso aos Nacionais por exemplo?
CM – Olha é um pouco de tudo daquilo que falas. Fruto das alterações preconizadas pela FPP para as competições mais jovens (a obrigatoriedade de serem pelos menos 6 Clubes num escalão para se poder efectuar o Campeonato, e digo seis Clubes e não seis equipas, porque são coisas diferentes), obrigou a Associações mais pequenas como a nossa a terem que conjugar esforços para que se pudessem efectuar as provas oficiais. É natural que os custos sejam superiores, mas estou convicto que a maiorias das equipas apuradas para os Nacionais estão mais capazes de responder às exigências daquela prova. A formula encontrada pelas Associações esta época para apuramento aos Nacionais, na minha óptica não foram os mais acertados, mas temos que entender que é o primeiro ano que tal se verifica, e só o tempo e a boa vontade dos Clubes das 3 Associações irá limar as arestas que vão surgindo. Que a junção das 3 Associações põem mais equipas nos Nacionais é uma realidade, e é aí que os Clubes vão perceber que os custos da sua presença nessa prova serão menores que da fórmula anterior, porque os grupos como são feitos por uma questão geográfica, as deslocações pouco irão deferir do Camp. Regional. E com a vantagem de ser eventualmente mais fácil a estas equipas conseguirem o apuramento para a segunda fase da prova. Vou esperar para ver se tenho razão ou não nestas questões
CA – Uma pergunta para terminar e que nada tem a ver com a formação, mas sim com o escalão sénior. Mora um candidato á subida á 1ª divisão em Tomar?
CM – Na minha humilde perspectiva, acho que sim. Embora falte muito Campeonato, após 11 jornadas começa-se a criar um fosso entre o grupo da frente e os restantes, que com um terço do campeonato efectuado já indicia alguma coisa. O Nuno Lopes é um técnico ambicioso e desde que chegou a Tomar a equipa Sénior tem tido prestações sempre melhores que as do ano anterior. É um facto que se tem apostado para que essa subida seja uma realidade, mas não é nenhuma cegueira nos responsáveis leoninos. Este ano Nuno Lopes procurou colmatar algumas lacunas no plantel, penso que a equipa está melhor, mas só no final se poderá aquilatar se as opções dele foram ou não as melhores. A ideia que existe é que a subida não é uma obsessão, mas sim o culminar de um ciclo, que a concretizar-se não mudará a estrutura Sénior por esse facto na próxima época.

CA – Obrigado mais uma vez Carlos e fica o espaço á tua disposição para o que quiseres dizer aos nossos visitantes
CM – Quero em primeiro lugar manifestar a minha alegria por o “bichinho” do Hóquei ter reactivado os teus neurónios para dares continuidade a um espaço que foi garantidamente um dos mais visitados na blogsfera nacional nesta modalidade. Espero que quando chegares e depois de matares saudades, te foques naquele espaço, porque todos aqueles que gostam de hóquei esperam pela tua irreverência, e pelas convicções que manifestas sem qualquer receio, o que demonstra o carácter que tens. Aproveito para desejar a todos um Feliz e Santo Natal, e um 2010 um pouco mais risonho que este 2009 tão cinzento a todos os níveis. Para ti em particular um grande abraço extensivo aos teus camaradas e que desfrutes este tempo que ainda falta da melhor maneira possível.

Fotos: Carlos Emidio Martins

4 comentários:

Cartão Azul disse...

Amigo Carlos

Obrigado pelo brinde, e fica a promessa que lá para Fevereiro, quando regressar deste lado do mundo, passar pelo Jacome Ratton para então ao vivo e a cores possamos brindar com essa bebida Tomarense "Mouchão". Até lá um abraço e votos de BOAS FESTAS.

Francisco Gavancho

Curioso disse...

Deixem-me adivinhar, a proxima entrevista sera ao amigo Kaly, depois a Trupe detras da baliza, ou Trupe das minis, etc, etc, etc.
Parabens o cartao azul voltou em grande.

Cartão Azul disse...

Para o Curioso

Não seja por isso, é só enviar o seu mail, e terei todo o prazer em fazer-lhe uma entrevista sobre hóquei em patins, isto se por acaso perceber alguma coisa da matéria.

kaly disse...

Gostaria que o meu amigo curioso quando fala-se na minha pessoa se identifica-se, porque há uns tempos atrás chamei de cobardia a quem o faz. Assim se tiver alguma coisa a esclarecer apareça no União em dia de jogo ou durante a semana para beber uma mini como diz e conhecemo-nos um ao outro, isto se tiver coragem...

Carlos Silva ou Kaly como quiser