segunda-feira, 6 de agosto de 2007

ENTREVISTA DA SEMANA

Depois de um merecido periodo de férias em Portugal, onde veio carregar baterias com vista aos novos desafios que se avizinham, este ribatejano natural dos Riachos que cedo rumou á Suiça á procura de algo melhor, sem nunca esquecer a modalidade de eleição, e que entre 2000 e 2006 foi o timoneiro da selecção de juniores Helvética, e um dos responsáveis pela brilhante classificação da Suiça no ultimo mundial, pois das suas mãos sairam alguns vice-campeões mundiais, tem agora o desafio de colocar o Juventus de Montreux na elite do hóquei patinado Suiço. Seu nome Pedro Antunes e foi com ele que o Cartão Azul, num saltinho á Suiça teve oportunidade de falar sobre hóquei.
CA – Boa tarde, obrigado pela disponibilidade, e em primeiro lugar qual o resultado do jogo de veteranos que foi realizado no Entroncamento, ou melhor o que significou esse encontro com velhos amigos?
PA – O resultado é sempre um empate, pois cada vez que posso estar com aquela malta, ganhamos sempre todos. Há vários anos que os meus amigos esperam por mim, para fazer um último treino e isso é para mim o verdadeiro sentido da palavra Amizade, ligada a um desporto que neste caso é o Hóquei em Patins. Posso-te dizer que quando me convidaram para ir treinar uns dias alguns jovens do Vilanova (perto de Barcelona), organizei os treinos, para poder estar naquele dia com os meus amigos e ex-colegas do C.D. Torres Novas.

CA – Como é sair do país natal, rumo a um país diferente a nivel de mentalidades e cultura, levando na bagagem a paixão do hóquei?
PA – Quando vim para a Suiça, não fazia a minima idéia do que me esperava. Felizmente, graças ao meu irmão Jorge, tive uma boa integração, pude jogar hóquei na primeira divisão com o Genève RHC durante 3 anos, mas depois tive que escolher...
Chegou um momento em que os horários de trabalho não me permitiam jogar hóquei como queria. Passei então a jogar alternadamente com a 1° e as reservas e em 1993, começei a treinar os Juvenis do clube.
Se respeitas as leis e as pessoas do país que te acolhe, não terás problemas em ser respeitado.
CA – Uma carreira como a tua é conseguida a pulso, nem tudo foi um mar de rosas, como foi o percurso desde a chegada até seleccionador nacional de juniores?
PA – Em 1993 e 94, treinei a segunda equipa de juvenis do Genève. Foi o ponto de partida para uma nova paixão. Em 1995, 96 e 98, fui Campeão Nacional de Juvenis. Ao mesmo tempo era treinador-jogador da equipa de Reservas. Fui também treinador de GR da équipa de Juniores (Campeões) e de Seniores em 2000 (Vice-Campeões).
No ano 2000, recebi a proposta de selecionar & treinar a Seleção Nacional de Juniores. Não estava nada á espera daquele convite, mas aceitei com muita honra. Em 2001 apareceu uma nova oportunidade no Genève. Passei também a Treinador da equipa Principal. Fomos 2° em 2000/2001, 3° em 2001/2002 e ganhámos as Taças Suiças de 2001/2002 & 2002/2003.
Nem sempre é fácil para a família, pois sempre acumulei várias tarefas de treinador ao mesmo tempo, durante muitos anos...


CA – Depois de teres conseguido levar os juniores helvéticos a classificações nunca antes conseguidas, como foi a reacção das pessoas e dos amantes de hóquei?
PA – Depois do 5° lugar do Europeu de 2000, que foi o meu primeiro, a Suiça nunca mais baixou do 4° nos Europeus seguintes, tendo mesmo ganho a medalha de Bronze em 2005. O nosso trabalho primou pela regularidade e faltou-nos sempre muito pouco para ganhar mais medalhas. Os resultados contra Portugal, Espanha e Itália, foram sempre, ou quase sempre, muito equilibrados, embora todos saibamos das diferenças de qualidade de uns e de outros campeonatos.
Durante todos estes anos, a Suiça nunca teve mais de 9 equipas de juniores em todo o país... Não é por isso nada fácil, meter a equipa Suiça a jogar a um nível europeu em meia dúzia de treinos... Porque nós só treinamos um domingo de vez em quando... Ainda hoje é assim para todas as equipas.
Por isso, quando perdemos 2-1 contra Portugal (2002 & 2005 por exemplo), ou contra a Itália (2-1 em 2003, 2004, 2006 nos jogos para o 3° lugar) ficamos com pena, mas temos consciencia de que são belos resultados para um pequeno país como o nosso.
Sabía-mos que o trabalho que estáva-mos a fazer, acabaría por dar os seus frutos mais cedo ou mais tarde... e que esse trabalho era reconhecido em toda a Europa.
O que fiz com os meus treinadores adjuntos durante 7 anos, fez com que todas as pessoas que gostam de Hóquei na Suiça, nos recebam bem e nos apreciem.
Foram muitas as pessoas que me vieram felicitar depois do último Mundial em Montreux. Isso deixa-me muito feliz. Além disso ganhei uma nova amizade. O Jorge Elias, que é para mim como um irmão.
CA – Agora tens outro desafio pela frente que é levar a equipa da Juventus ao topo do hóquei suiço. Estás preparado para o desafio?
PA – Estou sempre preparado... (risos). Mas há muitas coisas que não dependem só de ti. Há coisas que não podes controlar e que podem que fazer que os resultados, não sejam sempre aqueles que pretendes obter. Vou dar 200% para que a Juventus possa fazer uma boa época. Esta equipa ficou apenas no 7° lugar no último campeonato da 2° divisão, por isso são de prever algumas dificuldades. Vamos ver até onde conseguimos ir esta época.


CA – O convite para treinar esta equipa é fruto do teu prestigio na Suiça, ou foi uma aposta da direcção no intuito de levar a equipa a lugares de destaque?
PA – Quando souberam da minha saída da Federação, houve clubes que me contactaram para eu ir treinar as suas équipas. Estes convites são fruto do trabalho que tenho feito na Suiça nos últimos anos e do carinho que muitas pessoas me têm demonstrado.
Ainda este ano, os miúdos que preparei no Genève, obteram boas classificações no
campeonato. Os Iniciados foram Campeões nacionais e os Juvenis vice-campeões.
A minha saída da federação em Janeiro 2007, não foi 100% pacífica e a minha paixão pelo hóquei, levou-me a aceitar este desafio, mesmo sabendo que cada vez que vou estar com a equipa, terei que percorrer 200 kilometros... é o bichinho... e o gosto de trabalhar com pessoas que te apoiam a 200%.
CA – Mudando de assunto, e sabendo que fostes um espectador mais que atento no ultimo mundial, o que achaste da participação da equipa portuguesa?
PA – Achei a equipa algo cansada e pouco regular. Os jogos pareciam ganhos antes de os jogar. Penso que o pensamento da equipa, era que mesmo que fosse mais ou menos difícil, os golos acaberíam sempre por aparecer.
É um pouco a mentalidade portuguesa actual. Não há dinheiro para o carro ou para a casa, mas compra-se na mesma. Depois logo se vê como é que se vai pagar...
O Valter Neves esteve sempre bem, mas teve pouco tempo de repouso durante os jogos. O Reinaldo Ventura fez um campeonato excelente. O Caio e o Carlos Silva também estiveram bem.
O Sérgio Silva e o Tiago Rafael, foram pouco utilizados. O Tó Silva e o Rui Ribeiro não foram os “Matadores” que todos esperavam. O Ricardo Figueira quase não jogou.
Não sei bem o que se passou, nem tenho nada que saber, mas a verdade é que este Portugal, esteve longe do Portugal de anos anteriores.
CA – Na tua opinião o sexto lugar é reflexo de opções menos correctas, como por exemplo não convocar o Luís Viana e o Ricardo Pereira, ou terá outros motivos como planeamento, treino e outros promenores mais técnicos?
PA – O Paulo Batista e o DTN, são pessoas mais que competentes e responsáveis, para fazerem o planeamento e treino que pensam ser o melhor. São eles também que ensinam os outros treinadores a crescer através dos Cursos que se fazem em Portugal. Por isso não quero nem devo criticar o trabalho que eles fizeram.
Simplesmente o resultado final, veio provar que o Hóquei não é como a Matemática.
Podes ser o melhor treinador do mundo, com as melhores habilitações do mundo e as coisas não te correrem bem. Por isso não vale a pena pensar que somos mais que os outros em que matéria for. Se ganhas, és “o maior”, se perdes és “uma merda”. É assim em qualquer parte do mundo...
Quanto ás escolhas, cada um tería certamente feito escolhas diferentes. Não escondo que se fosse eu o treinador, tería de certeza dado uma oportunidade a jogadores como Guilherme Silva, Ricardo Pereira, Luis Viana, Filipe Santos e Pedro Alves, de mostrar nos treinos se ainda são ou não melhores que os outros. E se o fossem, não tería problema nenhum em levá-los.


CA – Achas que a saída do Paulo Batista, vai resolver a situação, ou será o adiar do mau momento que o hóquei português atravessa a nível de selecções, e voltar a começar tudo do zero?
PA – O Paulo Batista já mostrou várias vezes que é um grande treinador. Quando venceu a Taça CERS com o Paço de Arcos, fez jogos Tacticamente maravilhosos. Tem um conhecimento enorme do Hóquei em Patins, a todos os níveis.
Agora uma coisa é certa. Hoje não se pode treinar uma equipa, como se treinava há 10 anos e muito menos como há 20 anos. As mentalidades mudaram muito e o relacionamento com os jogadores está em constante (r)evolução. Não é fácil...
Penso que ficou provado nos últimos Europeus e Mundiais, que começar do zero não é a solução. Portugal só está a atravessar um mau momento “porque quer”... Porque tem jogadores que cheguam e sobram, para estar sempre no topo. Parem de falar em “Renovações” e os resultados vão aparecer de novo.
CA – Na tua opinião quem seria o próximo seleccionador nacional?
PA – Há muitas escolhas possíveis. Não comento.
CA – Como vês a situação actual do hóquei português a nível de equipas?
PA – Basta olhar para as equipas que recusam ir ás competições europeias, para ver as dificuldades financeiras que os clubes Portugueses, têm para poder ter uma equipa de hóquei em patins. Os clubes parecem-me desiludidos com certas decisões e só com grandes sacrificios conseguem manter as estruturas de pé.
Todos se queixam das taxas que têm que pagar cada vez que jogam em casa. O publico que paga para ver um jogo, já não chega para suportar essas mesmas taxas. As televisões raramente transmitem um jogo.
Parece-me que os modelos dos campeonatos, os custos dos arbitros e as taxas, deveríam ser discutidos entre todos e chegar a um acordo que satisfaça todas as partes.
Se houvessem, por exemplo, menos clubes por divisão, os encargos seríam já mais pequenos, mesmo a nível de deslocações.

CA – O que representou este desempenho da equipa Suiça no mundial ao sagrar-se vice-campeã, sabendo nós que alguns desses atletas foram treinados por ti?
PA – Esta equipa já tinha sido vice-campeã da Europa de séniores em Monza 2006....
O Jérôme Desponds, o Matthieu Brentini e o Florian Brentini, cresceram comigo no Genève, desde juvenis até séniores.
O Federico Garcia Mendez, veio da Argentina para o Genève, após eu ter insistido para que o Genève lhe envie os papéis que ele precisava par vir para a Suiça. Fiz a sua integração no Genève e esteve comigo em 2 C. Europeus de Juniores.
O Gael Gimenez e o Michael Muller, também trabalharam comigo em 2 C.E. Juniores.
O guarda-redes Nils Hauert, esteve comigo em 3 C.E. juniores.
Este ano, começaram mal contra a Itália, mas foram crescendo a pouco e pouco, até serem Vice-Campeões do Mundo. Eliminando Portugal nos ¼ e Argentina nas ½ finais. Não há palavras... estou muito feliz. A eles, a toda a equipa, aos treinadores, staff e a toda a família hóquista da Suiça, mando um grande abraço, um grande OBRIGADO e PARABENS.


CA – Para terminar queria agradecer mais uma vez a disponibilidade, e deixar o espaço para mais algo que queiras deixar aos visitantes do Cartão Azul.
PA – Quero-te agradecer por este convite, quero-te dizer que foi uma grande honra para mim, ter estado contigo no Entroncamento e quero-te felicitar pelo excelente trabalho que tens feito para o hóquei através do teu Blog.
Aproveito para convidar todos os leitores desta entrevista a passar pelo meu (http://www.patinslover.blogspot.com/) e desejar muitas felicidades a todos os meus amigos.
Nos nossos Blogs, damos as nossas opiniões dando sempre a cara. Somos frontais.
É disso que eu gosto. O que não gosto, é daquelas pessoas que quando vão para a guerra, mandam as achas para a fogueira, mas depois escondem-se atrás do pelotão para que ninguém os veja.
Um grande abraço para todos os amantes do Hóquei em Patins.

5 comentários:

Anónimo disse...

Boa entrevista. Felicidades para o novo desafio que tem pela frente.

Anónimo disse...

Com aquela equipa de veteranos, a 3ª parte deve ter sido uma goleada, eh eh eh. Felicidades e que para o próximo ano possam ter outro encontro de velhos amigos, com a 3ª parte incluida como é obvio. :)

Anónimo disse...

não me parece bem um treinador que se diz formador apontar nomes para uma selecção nacional que em nada iria beneficiar o surgimento ou a afirmação de novos de valores para o hóquei nacional. visão curta. não se ganhou em termos de resultado, mas no futuro algo há-de surgir.
dizer sobre o Paulo Batista que hoje em dia não se treina como há dez ou vinte anos, é sinal de desconhecimento da realidade em causa.
enfim, "quando ganhamos somos bons, quando perdemos somos uma merda" tão fácil que é fazer o papel de analista.
Ass.jovem atento

PATINSLOVER disse...

Olá "Ass jovem atento",

Não sei se "os velhinhos", não iriam beneficiar... A Suiça agradece... a visão longa... ;-)

A Espanha e os outros, só esperam que continuem assim. Renovando todos os anos.... se possível sempre 3/4 da equipa em vez de 1/2...

É verdade que a frase sobre a maneira e treinar, etc, pode ter uma leitura que não é aquela que eu pretendia dar.

Eu pretendia apenas chamar á atenção, para que no hóquei em geral, os jogadores de hoje, não têm nem de perto nem de longe, o mesmo "Mental" que tinham os jogadores á 10 e muito menos á 20 anos atrás.

Não me queria referir ao Paulo Batista que como referi, penso ser dos melhores treinadores que temos em Portugal. Queria-me referir ao hóquei em geral.

Quanto ao resto. Criticar é fácil. Fazer é mais dificil.

Abraço.

Anónimo disse...

Obrigado Pedro,
conseguiste motivar esta pequena equipa num sò treino, os melhores jogadores ainda vao chegar.
Nao te vais arrepender...