Barbeiro da Marinha é o melhor árbitro de hóquei do distrito. Rui Taborda ficou em primeiro lugar na classificação dos árbitros do Ribatejo e quer agora dar o salto para a primeira divisão enquanto corta cabelos na Marinha.
Rui Taborda é, actualmente, o melhor árbitro de hóquei em patins do distrito de Santarém. Natural de Almeirim, foi jogador e treinador, até que há 10 anos decidiu experimentar “o outro lado”. “Ao princípio era só para mudar um bocadinho a rotina e fazer um ou dois anos de arbitragem. Nem tão pouco pensava em ir para o nacional, apitar jogos de norte a sul. Mas acabei por gostar e ficar”, contou a O MIRANTE.
Rui Taborda ainda se lembra do primeiro jogo que dirigiu, em Santa Cita, Tomar. Daí para cá evoluiu e ficou em primeiro na classificação de árbitros do distrito no final da época 2014/2015. “É bastante satisfatório. Muita gente deu-me os parabéns e disse-me que era merecido. Mas não me considero o melhor árbitro do distrito. A época correu-me muito bem mas nós temos bons árbitros, indivíduos que na minha opinião são bastante isentos”, refere, acrescentando que Carlos Fagulha é a sua referência.
Aos 45 anos ainda tem mais 10 anos de carreira pela frente. Depois de chegar à 2ª divisão nacional, por que não subir mais um degrau? “O sonho passa por subir de categoria e tentar ir à 1ª divisão. Todos nós gostávamos de apitar o Benfica, o Sporting ou o FC Porto mas não é uma obsessão. O objectivo é chegar aos finais de época e estar como estou este ano: nos primeiros classificados. O principal é chegar ao fim de um jogo, ao fim de uma época e sair sempre de cabeça levantada”.
Seja em que jogo for, em que divisão for, do que Rui Taborda não se livra é dos insultos e ameaças. Nisso, o hóquei não é diferente do futebol. “Um jogo em que não haja pelo menos um individuo a chamar nomes ao árbitro, não é jogo. As senhoras são as piores, são terríveis. Ameaças há sempre mas depois chegamos cá fora e nunca está ninguém à nossa espera”, conta, revelando um episódio com um jogador: “Expulsei-o e ele ameaçou-me. Disse que esperava por mim, que me apertava o pescoço, que me ia bater. Mas isso é no calor do jogo. Depois não se passou nada”.
Questionado sobre o momento do hóquei em patins distrital, Rui Taborda deixou alguns lamentos. “O hóquei distrital está muito abandonado. Não há patrocínios, não há apoios. Um dos problemas é que se vier aqui um Sporting, um Benfica ou um FC Porto, leva miúdos com 12, 13 e 14 anos e não pagam nada pela transferência. E depois também há um grande desentendimento entre clubes. Se for preciso os clubes nem se entendem por causa da organização de um jogo. Está muito mau o hóquei em patins na região”.
Marinha é profissão e paixão
A principal actividade de Rui Taborda é, há 27 anos, a Marinha de guerra. Ao seu serviço já correu o mundo. De todas as missões destaca os seis meses em Timor e na ex-Jugoslávia, sendo que foi nestes países que viveu os momentos mais marcantes. Em Timor ficou impressionado com a “pobreza, miséria e tristeza” e nunca se esqueceu de uma menina de cinco anos que se agarrava às suas calças. “Eu vesti aquela menina, eu dei-lhe de comer, eu comprei-lhe tudo o que podia. Isso marcou-me muito”.
Na então Jugoslávia sofreu por não ter estado presente no nascimento da filha mas também com receio dos mísseis. “Os americanos estavam ao nosso lado a mandar mísseis para terra e nós a pensar: se eles se lembram de mandar de lá para cá...”. O maior medo foi, no entanto, no mar dos Açores, quando, para socorrer uns pescadores, ele e os colegas da Marinha se depararam com ondas superiores a 12 metros. “O mar dos Açores é um dos piores do planeta. Temos de ter muito respeito”, explica.
Devido à idade, Rui Taborda já não embarca mais, mas trabalho não falta. É barbeiro da Marinha, tarefa que começou a desempenhar há 20 anos, sem experiência, a bordo de um dos navios. “Neste momento só faço essas funções. Estou a desempenhá-las no antigo ministério da Marinha (actual Unidade de Apoio às Instalações Centrais da Marinha), em Lisboa, onde faço por dia (das 8h00 às 16h00) mais de 20 cortes de cabelo”. A 10 anos de passar à reserva, Rui Taborda pondera depois “arranjar um cantinho” onde possa continuar a ser barbeiro.
In Jornal "O Mirante"
Titulo: Cartão Azul
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