quinta-feira, 29 de outubro de 2015

MENINAS SOBRE RODAS

Seis jovens jogadoras formam a equipa feminina de hóquei do Santa Cita. São orientadas por um treinador também muito jovem e o objectivo do clube é colocar a equipa a jogar no campeonato nacional sénior feminino. Para isso é necessário recrutar mais atletas.

Foto de arquivo: ACR Santa Cita

A Associação Cultural e Recreativa de Santa Cita, no concelho de Tomar, tem a única equipa feminina da Associação de Patinagem do Ribatejo. A primeira época da secção foi em 2014/2015 e, apesar da inexperiência de algumas jogadoras, o balanço foi positivo e o projecto continua. O plantel actual é composto por seis jogadoras (oriundas de Santa Cita e de outros pontos do concelho) entre os 14 e os 18 anos: a guarda-redes Elisabete José e as jogadoras de campo Patrícia Farinha, Joana Lourenço, Bruna Ferreira, Andreia Ferreira e Verónica Pimpão.

Treinam três vezes por semana e, em termos de competição, participam em torneios de sub-­20 e fazem jogos amigáveis, existindo, esta época, a possibilidade de participarem na Taça APL, organizada pela Associação de Patinagem de Lisboa.

Bruna Ferreira é a capitã de equipa. Tem 14 anos mas é a mais experiente, uma vez que já pratica hóquei no clube há cerca de 7 anos. “Foi uma coisa que sempre me fascinou e tinha familiares que jogavam, mas entrei para o hóquei porque quis. O balanço é positivo. Faz-nos distrair dos problemas do dia a dia”, confessa, acrescentando que tem valido a pena fazer parte da equipa feminina.

Os resultados não têm sido os melhores mas temos evoluído. O ambiente com as colegas é excelente. Apoiamo-nos todas umas às outras”, garante. Aluna do 9º ano, diz que em primeiro lugar estão os estudos mas quer sempre conciliar com o hóquei e diz que é tudo uma questão de saber gerir o tempo. Confessa que o hóquei já a prejudicou na escola. “Mas serviu de abanão para me focar no que realmente é importante para o meu futuro. Não é que o hóquei não seja”, diz quem até sonha ser jogadora profissional. Bruna sabe, no entanto, que tem de ter uma profissão e pensa ser engenheira electrotécnica. Com o hóquei tem aprendido a “crescer enquanto pessoa”.

Joana Lourenço, 15 anos, começou a praticar a modalidade no ano passado. Andar de patins não foi problema, visto que transitou da patinagem. “Ando de patins desde pequena e sempre gostei. Andava na patinagem mas saí com problemas de joelhos. Surgiu a oportunidade do hóquei, experimentei e gostei”, conta. Gostou tanto que, apesar do pouco tempo na modalidade, já prefere o hóquei à patinagem: “O meu estilo é mais hóquei. Sou mais maria rapaz. A patinagem é muito rigorosa, temos de andar sempre certinhas e direitas”. Também anda no 9º ano mas não tem problemas em conciliar os estudos com o desporto. Não sabe o que quer ser mas profissional do hóquei não será.

Dificuldades de recrutamento complicam evolução do projecto

O treinador é Santiago Almeida, de 22 anos, natural de Ourém e antigo jogador de hóquei na formação do Juventude Ouriense. Está no primeiro ano do curso de psicologia em Coimbra e, numa atitude de invulgar dedicação a um projecto, desloca-se três dias por semana a Santa Cita para dar um treino de uma hora.

O início não foi fácil: “A minha principal dificuldade foi que elas parassem de falar. Falam muito. E tinha dificuldade em impor-me. Nos rapazes é fácil porque manda-se dois berros ou três mas com elas já não pode ser assim”, explica. Santiago conta que um aspecto positivo é a relação entre jogadoras: “São comichosas com muita coisa mas entre elas dão-se todas muito bem, o que nem sempre acontece em equipas femininas. Têm personalidades muito fortes mas não chocam umas com as outras”.

Na relação entre treinador e jogadoras, Santiago esforça-se para que as atletas percebam que há limites. “Fora do campo somos amigos mas dentro do campo sou treinador. Como sou novo elas têm tendência a falar comigo como falam com outra pessoa qualquer. Mas eu não deixo. Cá fora não me importo mas lá dentro têm de me respeitar. Não me tratam por você nem nada disso mas há limites”.

Mesmo com um plantel muito jovem, o próximo objectivo é a participação no campeonato nacional sénior: “É importante pela visibilidade que traz. Para as jogadoras era bom a nível de experiência pessoal e para crescerem como equipa. Era bom terem contacto com outras realidades porque elas ainda não têm noção do que é o hóquei feminino a sério”.

Para a equipa participar no campeonato é preciso que surjam mais jogadoras. O seccionista Nuno Sousa gostava que mais raparigas se inscrevessem no hóquei do Santa Cita. “Estou a fazer tudo para termos mais atletas mas não tem sido fácil”, assume.

Clube sem hóquei sénior masculino por falta de apoios da câmara

Referência no hóquei sénior masculino, tendo inclusivamente chegado à 1ª divisão (última época em 1991/1992), o Santa Cita abdicou de ter esse escalão esta época e tudo devido a não ter recebido uma verba a que tinha direito por parte da Câmara de Tomar. “As verbas deviam ter entrado em Março mas não foi o caso. Está tudo aprovado mas chega a hora da verdade e não há dinheiro. Como é que eu posso fazer seniores se não tenho dinheiro? É complicado mas mais grave ainda é o facto dos clubes da cidade já terem recebido e as associações à volta do concelho ainda ninguém recebeu”, diz o presidente do clube Nuno Ferreira, que tem esperança que a paragem seja apenas de uma época.

A intenção é que quando os seniores masculinos regressarem, a equipa seja totalmente composta por jovens provenientes da formação: “A formação é primordial. Temos excelentes miúdos que vão ser nossos seniores se um clube grande não os vier buscar”.

Presidente do Santa Cita há quatro anos, Nuno Ferreira orgulha-se de ter recuperado o clube em termos financeiros e de ter dinamizado as outras secções: “Quando cheguei estava tudo estagnado. Era só hóquei. Nós dinamizámos outras secções, nomeadamente o atletismo, o BTT, a columbofilia e o motor aventura”. Esta última secção nasceu pelo gosto comum que vários sócios têm pelos desportos motorizados e pelos desportos de aventura.

In Jornal "O Mirante"

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