sexta-feira, 22 de julho de 2011

A RECEITA FOI TRABALHO E MUITA HUMILDADE

A ACR Santa Cita acabou a época de 2010/2011 a receber no seu Pavilhão o deca-campeão FC Porto em jogo correspondente aos quartos de final da Taça de Portugal. Foi o culminar de uma época de “ouro” onde a equipa de Luís Miguel Cunha, venceu a zona Centro da 3ª Divisão garantido a subida à 2ª Divisão, e eliminou equipas como a AJ Sanjoanense e Riba D’Ave (que subiu à 1ª Divisão), antes de receber os Dragões. O Cartão Azul deu um salto até à Aldeia Ribatejana do Hóquei em Patins para falar com o principal obreiro deste feito, o técnico Luís Miguel Cunha que conta, por exemplo no seu curriculum a subida da J. Ouriense à 1ª Divisão, três subidas a 2º divisão bem como um titulo de campeão nacional da 3º divisão.


CA – Bom dia Miguel em primeiro lugar deixa-me agradecer a disponibilidade para concederes ao Cartão Azul esta entrevista e dar-te os parabéns pela excelente época do Santa Cita. Vamos começar pelos seniores e a pergunta que se impõe é a seguinte: Com um plantel curto, como por várias vezes foi referido, qual foi a receita para uma época de sucesso?
MC – Obrigada Francisco. A receita foi trabalho, planeamento e muita humildade da parte de todos, e também uma grande união onde em 1º lugar esteve sempre o grupo de trabalho. Isso só foi possível porque houve desde o início uma escolha criteriosa dos atletas, bem como uma análise das épocas anteriores, onde foram revistos os pontos negativos das mesmas. Mas o mérito foi todo dos jogadores, pois a equipa técnica só teve o mérito de saber tirar o que eles têm de bom. Acima de tudo houve um enorme respeito entre toda a equipa, e uma vontade enorme em superar as dificuldades por parte de todos. Quanto ao plantel ser curto depende do ponto de vista, eu gosto mais de lhe chamar um plantel jovem pois tinhamos dois  juniores de 1º ano ( Renato e André), um juvenil (Joel Batista) bem como o apoio da equipa de juvenis.
CA – Achas que a equipa podia ter ido mais longe na poule de apuramento do Campeão Nacional da 3ª Divisão, ou depois de garantida a subida, a poule acabou por ser de um Torneio de descompressão e testes para a próxima época?
MC – Sim a equipa podia ter ido mais longe, mas sabiamos que para o conseguirmos  tínhamos de estar muito melhor  que os outros e que mesmo assim ia ser difícil. Acho que o primeiro jogo com o Sporting Clube de Portugal foi quanto a mim um hino ao hóquei patins onde mostrámos que não somos nada inferiores a esta equipa. Desde já aproveito para dar os parabéns ao Sporting Clube de Portugal pelo título conquistado.


CA – Passando agora para a Taça de Portugal, terá sido apenas a motivação de jogar contra o FC Porto deca-campeão Nacional, ou foi essa mesma motivação aliada ao crer e qualidade técnica e profissionalismo dos jogadores que levaram à excelente exibição nos quartos de final?
MC – Este jogo foi como já falei muitas vezes, um prémio para todo o grupo de trabalho, em especial para os jogadores. Quanto ao jogo em si, só veio provar o excelente trabalho realizado ao longo da época por todos. Chegar a meio da segunda parte empatados com o deca-Campeão, a boa época que fizemos, vai fazer desta temporada e deste grupo de trabalho um dos mais lembrados por todos os que gostam do clube, e será certamente um bom exemplo para todos os atletas da nossa formação. Penso que a Taça de Portugal não foi só este jogo pois eliminámos muito boas equipas, como por exemplo o Riba de Ave que subiu este ano à 1º divisão.
CA – É do conhecimento publico que praticamente todos os jogadores do plantel assinaram para a próxima época. Queres “levantar o véu” no que diz respeito a contratações?
MC – Sim, todos os atletas já assinaram, excepto o Rui Nunes, que terminou a sua carreira de hoquista com chave de ouro. A continuidade de todo o plantel foi quanto a mim muito importante, para fazer face à próxima época que vai ser certamente diferente desta, mas que queremos que também seja marcante no que diz respeito ao futuro do clube. Quanto a contratações e como é do conhecimento público, o Rui Alves  integrará a equipa na próxima época. Tal como na época passada, vamos  continuar a fazer a ligação vertical entre a formação e o plantel sénior.


CA – Achas que a AA Coimbra a par do Santa Cita foram as equipas mais fortes na 3ª Divisão Centro, ou como a classificação demonstrou foram as mais regulares? E por exemplo União FE (3º), SCL Marrazes (4º) e FCO Hospital (5º) poderiam ter conseguido um dos lugares de subida? E se sim, o que falhou?
MC – Se o Santa Cita foi o campeão da zona centro e a  AA Coimbra vice Campeã é porque certamente foram as melhores  ou as mais regulares como lhe queiram chamar, desta zona. Quanto ao que falhou nas outras equipas penso que não me compete a mim falar disso, até por uma questão de ética desportiva.
CA – Vou agora pedir-te “in advance” (ainda sem saber ao certo quais as equipas que irão estar presentes na 2ª Divisão Sul) que faças uma antevisão da próxima época, objectivos e claro, candidatos à subida e descida?
MC – O principal objectivo é manter o Santa Cita na 2º divisão e continuar o bom trabalho de formação que vem sendo feito no clube. Quanto aos candidatos á subida e descida de divisão ainda não tenho uma opinião bem formada visto que a grande maioria  dos planteis dos clubes ainda está a ser formado.


CA – Uma redução das taxas de inscrição de jogadores e organização de jogos, e voltar a pagar aos clubes a formação dos seus atletas quando das transferências para outros clubes, poderia evitar a desistência de clubes, e promoveria a modalidade?
MC – Sem dúvida partilho da mesma opinião, bem como a reformulação dos moldes dos campeonatos, que deveriam ser regionais juntando a 2º e a 3º divisão. É uma ideia que defendo há muitos anos pois promove os derbis regionais que levam pessoas aos pavilhões, havendo logo maior encaixe financeiro, assim como reduziriam despesas de deslocação aos clubes. Imaginar um campeonato com as todas as equipas do Ribatejo e de Leiria da 2º e 3º divisão, seria fantástico no meu ponto de vista.
CA – Finalizado o tema seniores, vamos falar da Instituição ACR Santa Cita. Como é que uma pequena Aldeia com cerca de mil habitantes, consegue tamanha vitalidade e projecção no hóquei em patins?
MC – É uma pergunta que muita gente faz ao chegar a Santa Cita  quando não conhece o clube, e se depara com o património existente. Eu na brincadeira digo que temos a “Poção Mágica” e que só temos medo que o “céu nos caia em cima da cabeça”. Falando um pouco mais a sério acho que está relacionado com o bairrismo que existe, e com o orgulho em fazer as coisas bem feitas. Esta aldeia já está ligada ao desporto há várias décadas, pois há muitos anos atrás, quando esta aldeia era um pólo industrial muito grande, no antigo grupo desportivo de Matrena existiam várias modalidades, tais como futebol, hóquei passando pelo andebol,  basquetebol, ginástica, etc. Penso que  de geração em geração todos foram gostando de desporto, principalmente de hóquei, havendo uma grande união e colaboração da população, para manter vivo este clube , que todos gostam tanto. Também tem a ver com a politica desportiva do clube, pois em vez gastar todo o dinheiro nas modalidades existentes no clube,  investe também no património, criando boas condições a todos os que frequentam o clube, quer sejam atletas ou adeptos. 


CA – Segundo informação que chegou ao Cartão Azul, a ACR Santa Cita irá ter na próxima temporada todos os escalões de formação desde Bambis a Juniores. Confirmas? Como se consegue tal “performance”?
MC – Sim, confirmo. Isso é fruto de um trabalho que foi iniciado há alguns anos atrás na formação do clube, que consistiu numa maior abertura do clube às aldeias vizinhas, no intuito dos jovens dessas aldeias virem praticar hóquei patins. Nesta altura já não são só os jovens das aldeias mas também das cidades à nossa volta, o que nos enche de orgulho. A envolvência e ajuda dos pais neste processo também foi muito importante, mas todos o fizeram de boa vontade, pois quando chegam a este clube, são bem recebidos e sentem-se bem. Foi também muito importante a aposta em técnicos de qualidade para obtenção de bons resultados.
CA – Miguel, mais uma vez obrigado pela disponibilidade, e fica o espaço aberto para alguma mensagem que queiras deixar aos sócios e adeptos do Santa Cita em particular e aos visitantes do Cartão Azul em geral
MC – Queria aproveitar para agradecer ao Paulo Lopes que foi o meu braço direito, a todos os meus jogadores que foram uns verdadeiros heróis, e a todos os membros da direcção, seccionistas, ao paramédico, a toda a massa associativa e um obrigado especial para a nossa claque 6º elemento. Gostaria de pedir que para a próxima época continuem todos a apoiar este projecto, sabendo que vai ser uma época diferente e que todos juntos consigamos fazer um A.C.R. de Santa Cita mais forte.
Agradeço, também a oportunidade para falar do meu trabalho e desejar que continue o excelente trabalho que tem vindo a fazer em prol da nossa modalidade, que tem sido tão mal tratada nestes últimos tempos.

Fotos de arquivo: Barros Simões