Formado no HC Sintra clube que representou até à época 2010/2011 altura em que rumou a Oeiras, para realizar uma temporada antes de se transferir para o Ribatejo para representar o HC “Os Tigres” de Almeirim. Falamos de Francisco Veludo com quem tivemos uma conversa para analisarmos a época que agora findou e culminou com a descida da equipa Ribatejana à II divisão.
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Foto: Jornal "Almeirinense" |
CA – Bom dia Francisco. Inevitavelmente temos de começar por esta questão. Quando a época tinha tudo para acabar bem, com a manutenção na I divisão, os Tigres acabam por descer no último jogo. O que falhou?
FV – Bom dia! Muito sinceramente nem a mim próprio consigo arranjar uma razão obvia para o que sucedeu na ultima jornada, a derrota não me escandalizou por todos os motivos ja conhecidos, apresentarmo-nos na jornada mais importante do campeonato com 5 jogadores de campo podia explicar muita coisa mas a nossa equipa ja superou por mais do que uma jornada situações idênticas, não sendo por aí nem por muitos outros motivos, posso responder que são situações que sucedem no desporto, deixar cair todo o trabalho realizado com muito valor na ultima jornada.
CA – Numa conversa que tivemos a seguir ao jogo em casa frente à Académica de Espinho, referiste que a equipa era “bipolar”, ou seja tinha um desempenho em casa e um oposto fora. Foi isso que aconteceu em Ponte de Lima?
FV – Sim, no geral pode-se dizer que sim, mas nesta ultima jornada especificamente não foi o que aconteceu, nós entrámos fortes no jogo, não finalizámos é um facto, mas estávamos a fazer um bom jogo apesar de tudo, na segunda parte, admito que pelo menos no meu caso e pela reação de alguns colegas meus também, ao termos conhecimento do resultado que de repente se registava no jogo da oliveirense, mentalmente ficámos de rastos e sem reacção para dar a volta a situação e juntando a isso o enorme esforço físico que estavam todos a fazer tornou-se impossível vencermos o jogo.
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Foto: Jornal "Almeirinense" |
CA – Muito se tem escrito sobre a ausência do Filipe Gaidão no último jogo, responsabilizando-o pela derrota e pela descida de divisão. Queres comentar?
FV – Como é óbvio a falta do Filipe no último jogo teve uma percentagem muito grande de culpa, mas logicamente não se pode resumir uma época difícil desta forma. Acredito que o Filipe até poderia ter alguma legitimidade para decidir se iria ao jogo, mas existem outras situações que o deveriam ter feito ponderar essa decisão, como o respeito pelo trabalho dos colegas durante a época toda, as pessoas de Almeirim e pela nossa claque ultras Almeirim que para além de serem uma claque são nossos amigos. No meu caso pessoal, quando me recordo do que aconteceu não é o nome do Filipe Gaidão que me vem à mente, são muitas outras coisas.
CA – Francisco, vamos agora analisar a época. Dois treinadores, saídas de jogadores rumo a França, a lesão do Ginjas. Foram estes os “pontos chaves” para o insucesso?
FV – Excepto a lesão do Ginjas, tudo o resto referido apenas serviu para nos unir ainda mais e ganhar uma motivação fora do normal para chegarmos ao fim e caso não tivesse existido este fim “mentiroso” de época, eu referiria esses motivos todos como “pontos chaves” para o sucesso.
CA – Depois da vitória em casa frente ao Sporting CP, e com o calendário teoricamente mais acessível do que as outras equipas em luta pela manutenção, poucos acreditavam na descida, terá sido “inoperância” ou foi a conjugação de resultados das outras equipas que jogou contra os Tigres?
FV – A realidade é que não cumprimos a nossa parte na ultima jornada perdendo na casa do ultimo classificado, mas uma equipa como a Oliveirense mais do que conceituada, que por exemplo esta época derrotou o Liceo da Corunha ex-campeão europeu, que venceu as duas ultimas taças de Portugal com clarividência, estar a vencer por 5-1 e acabar empatando deixa muitas duvidas no ar obviamente.
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Foto: Jornal "Almeirinense" |
CA – Não achas que um clube que tem o escalão sénior, independentemente da divisão onde está, deve ter o escalão júnior para precaver situações de castigos, lesões?
FV – Sim, claramente, desconheço os motivos para não haver uma equipa júnior, mas tenho conhecimento que a comissão administrativa do clube está a tentar criar uma equipa de juniores para a próxima época para prevenir essas tais situações. Caso se venha a concretizar será uma grande ajuda obviamente.
CA – Depois de representares o HC Sintra e a AD Oeiras, que comparação fazes destes clubes com o HC “Os Tigres”?
FV – “Os Tigres” fazem-me muito recordar o HC Sintra á 6 ou 7 épocas atrás com um público entusiasmante, todo ele formado por pessoas locais. Em termos de formação a politica entre estes dois clubes é bem diferente pois o HC Sintra apesar de tudo apoia-se bastante na formação e se não fosse assim o clube tinha acabado há 4 épocas atrás quando se adoptou a politica em que a equipa sénior seria formada por 80% da formação, nos Tigres neste momento é impossível criar uma equipa sénior com base na formação pelo facto de pelo menos ainda não existirem todos os escalões da formação ate aos seniores impossibilitando assim as chamadas gerações alimentarem uma equipa sénior. Quanto ao Oeiras não tenho qualquer apontamento a fazer porque também não foi um clube que me marcasse como atleta, é bem gerido, tem bons jogadores mas não se compara a dimensão dos Tigres hoje em dia.
CA – Como classificas e que comentário tens a fazer à prestação da claque “Ultras Almeirim”?
FV – São únicos no país, a ganhar ou a perder estão presentes, a prova disso foi no fim do jogo em ponte de lima, quando estávamos todos de rastos, quem foi ao balneário mostrar que estávamos unidos e levantar as nossas cabeças foi o líder da claque, o Del Drex, isso reflete muita coisa!
CA – O FC Porto foi um justo campeão?
FV – Sim, sem dúvida alguma, foram melhores em tudo, melhor ataque, melhor defesa, hóquei mais atrativo, mais do que justo.
CA – Na tua opinião, quais as equipas que destacas pela positiva e pela negativa e porquê?
FV – Pela positiva penso que o Paço de Arcos e o Valongo fizeram ambos uma grande época, o Paço de arcos apesar de um final complicado mostrou que tinha capacidade até para ter obtido melhor classificação, já o Valongo surpreendeu-me por ser uma equipa muito jovem, com muitos jogadores novos mas que mostrou muita qualidade de jogo. Pela negativa penso que o Óquei de Barcelos podia ter feito muito mais tendo em conta o plantel que tem.
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Foto: HoqueiSLB.net |
CA – Francisco falando agora de ti. O teu futuro passa por Almeirim?
FV – Sim, em princípio sim, só algo “fora do normal” é que me poderia fazer abandonar o clube. A vontade é continuar e voltar a colocar os Tigres na 1ª divisão com outro tipo de projeto, algo muito mais sustentado.
CA – A nível pessoal como classificas a tua prestação nesta época?
FV – A nível pessoal foi a minha melhor época, vim de um clube da segunda divisão onde passei mais tempo no banco que a jogar, onde só entrava para defender bolas paradas, que me retirou muita autoestima e confiança em mim próprio e chegar aos Tigres na primeira divisão e conseguir mais do que tudo ganhar confiança e segurança em mim mesmo, realizar alguns jogos que me deixam orgulhoso e sentir que as pessoas gostam do meu trabalho só posso julgar que foi muito positiva apesar de tudo.
CA – Estamos numa fase em que muitos jogadores rumam a França. Se aparecer o convite, vamos ver o Francisco Veludo a emigrar?
FV – Não posso nunca deixar de parte essa hipótese, mas neste momento ainda não é algo que deseje.
CA – Vale a pena apostar na carreira de jogador de hóquei em Portugal?
FV – No geral não, é muito difícil hoje em dia, mas como é óbvio dependendo do que vai sucedendo na carreira, na vida pessoal e dependendo da qualidade do próprio atleta é sempre algo a pensar, pois fazer carreira de jogador no próprio país e onde se joga um hóquei de nível muito mais elevado do que a maior parte dos outros campeonatos é o ideal.
CA – Francisco obrigado pela tua disponibilidade, e fica o espaço aberto para alguma mensagem que queiras deixar aos visitantes do Cartão Azul.
FV – Muito obrigada pelo convite feito para realizar esta entrevista, espero que o Cartão Azul continue a crescer e a entreter-nos com as novidades do hóquei, excelente trabalho!