"Quem não se sente não é filho de boa gente"
Depois do
artigo que escrevi na semana passada sobre a situação dos Sub-20 na AP Setúbal, a não homologação do distrital e o consequente não apuramento do CN Setubalense, GD Sesimbra e Seixal FC para o nacional da categoria.
O "braço de ferro" entre os clubes e a AP Setubal continua no ordem do dia e ao que parece irá ter novos capítulos agora na TAÇA APS em Sub-17 com a Associação a publicar o seguinte na sua página oficial:
«Informamos que não se realiza na presente época a Taça APS no escalão de Sub-17, única e exclusivamente por desistência no dia do sorteio, 14 de Fevereiro de 2014, das equipas do Seixal Futebol Clube e do Clube Naval Setubalense.
Impedindo que a prova se realizasse, por não haver equipas suficientes após a sua desistência, estes clubes não prejudicaram a APS mas os atletas que ficaram sem a referida competição.»
E o Seixal FC a responder na sua página do Facebook:
«Como esta Associação de Patinagem de Setúbal, se reservou ao direito de expor em publico de forma enganadora, através do seu portal, informação resultante de uma reunião com os clubes seus associados, reserva-nos assim também o direito de em tempo útil podermos responder, usando os mesmos canais de informação.
A Direcção»
Mas este assunto será seguido atentamente para ver o desenvolvimento do mesmo, mas regressando ao tema Sub-20, transcrevemos na integra as cartas de um jogador do CN Setubalense e do Pai de dois atletas que enviaram as mesmas para a redacção da
Plurisports, um grito de revolta "
pois quem não se sente não é filho de boa gente", como se costuma dizer.
Carta de Filipe Fernandes (Cap. do CN Setubalense)
"Exº Senhor Presidente do Comité Olímpico de Portugal
Exº Senhor Presidente do Instituto Português do Desporto e Juventude
Exº Senhor Presidente da Federação de Patinagem de Portugal
Exª Senhor Presidente da Associação de Patinagem de Setúbal
Assunto: Expressão do Direito à Indignação por atleta Federado na Federação de Patinagem de
Portugal.
Sou atleta do Clube Naval Setubalense do escalão de Juniores na modalidade de hóquei patins. O meu nome é Filipe Fernandes e pratico hóquei desde os 8 anos. Sou capitão da equipa de juniores do meu clube. Encontro-me neste momento a tirar um curso superior que me ocupa muito do meu tempo mas mesmo assim o hóquei é o meu mundo e trabalho arduamente nos treinos para participar em campeonatos que estimulam o meu desenvolvimento como pessoa e como atleta. A nossa equipa trabalhou muito durante toda a época e empenhámo-nos seriamente para termos os resultados que acabámos por obter apesar de, como já fiz referência, eu e muitos dos meus colegas já nos encontrar-mos em cursos superiores.
A Associação de Patinagem de Setúbal, na qual o meu clube está inscrito descurou os meus interesses e direitos e os da minha equipa como atletas ao não promover a inscrição da minha equipa em nenhum campeonato quando tal foi pedido pelo meu clube, pelo que apresento a minha indignação a tal facto.
A minha equipa jogou 10 jogos, com todas as equipas do nosso campeonato. A Juventude Azeitonense foi proibida pela Associação de jogar no 2º jogo da 2º volta do campeonato no momento em que o Clube Naval Setubalense já tinha disputado com este clube os dois jogos previstos. Não entendo porque é que a APS não emitiu logo neste momento um comunicado com a informação que devido ao afastamento do clube de Azeitão da competição os clubes de hóquei em patins da margem sul não poderiam disputar o campeonato nacional e esperou para que o meu clube concluísse todos os jogos, ganhasse e festejasse o facto de sermos campeões Regionais em Santiago e ainda esperasse uma semana para então informar o meu clube que estávamos afastados de todas as competições. Agora pergunto-me, será isto uma decisão correta? Será que os senhores dirigentes vêm alguma justiça nesta decisão?
Eu e toda a minha equipa iremos estar fora das competições entre Fevereiro e Setembro deste ano, ou seja, 7 meses parados, com todas as desvantagens daí inerentes ao nosso desenvolvimento como atletas, prejudicando também tal decisão da APS seriamente o planeamento da secção de hóquei patins do meu Clube.
Nós queremos justiça, só isso. E a justiça faz-se devolvendo ao meu clube a oportunidade de participar no campeonato nacional de juniores ao qual nos é totalmente legítimo participar.
O que é para mim participar em campeonatos de hóquei?
É viver momentos únicos de desenvolvimento desportivo e pessoal em equipe, ultrapassar os nossos limites e jogar com estratégia desenhada nos árduos treinos a que me dedico e que tento conciliar com a universidade. É ter a adrenalina no stik, é suar pela vitória, e olhar em volta e ver o apoio da juventude que trago para dentro do pavilhão.
Sou atleta de hóquei patins, cumpro todos os requisitos legais exigidos para a minha participação em competições. Tenho direito à prática desportiva inserida em campeonatos.
Não nos discriminem no desporto!
Sem outro assunto, agradeço desde já toda a atenção que este assunto merece, bem como um
melhor acompanhamento na defesa dos nossos interesses.
O Atleta
Filipe Fernandes"
Carta de José Manuel Contreiras (Pai de atletas de Hóquei em Patins)
"Carta aberta à Federação de Patinagem de Portugal
Exmos. Senhores
É na qualidade de adepto da modalidade e pai de dois jovens praticantes que me sinto na obrigação de escrever estas poucas linhas, que valem o que valem e cuja importância só os senhores poderão avaliar.
Quero frisar que este escrito está a ser redigido de forma perfeitamente livre, ainda sem o conhecimento de qualquer dirigente clubístico, influenciado apenas pelo fato de considerar que os senhores não tomaram a melhor decisão quando resolveram excluir as três equipas sub 20 do Regional de Setúbal apuradas para o Campeonato Nacional, não permitindo que participem nesta última competição.
Mesmo não sendo dirigente desportivo, esta decisão, emanada de Vªs. Exªs., acaba por me tornar parte interessada no assunto, assim como a vários pais que se preocupam com os filhos e têm investido na sua formação desportiva como parte integrante do seu crescimento.
Assim, foi com perplexidade e muita mágoa que li no site da Plurisports a notícia da vossa decisão de excluírem o Club Naval Setubalense, o Sesimbra e o Seixal, que considero ser bastante questionável e completamente desprovida de bom senso.
Sem ter conhecimento do teor do comunicado oficial da FPP, que acredito existir, mas apenas da informação acima referida, motivo pelo qual reconheço poder estar a ser extemporâneo e, a ser verdade, me retrato de imediato, aquela vossa decisão é consequência da resolução da APS em castigar o Azeitonense, por questões extra desportivas e apenas relacionadas com dívidas, e cujas consequências se estenderam aos outros clubes.
Sinto-me pois obrigado a perguntar “Porquê penalizar quem tem cumprido com todas as suas obrigações, com maiores ou menores dificuldades? E com que bases?”
Meus senhores, não sou advogado nem tão pouco jurista e não pretendo, de forma alguma, querer contrariar legalmente a decisão tomada por Vªs Exªs, nem me compete fazer tal coisa, mas apenas tentar demonstrar-lhes que é bastante duvidosa e carece de qualquer fundamento legal ou moral.
Assim, no direito que me assiste enquanto cidadão português e adepto da modalidade, decidi proceder à leitura do Regulamento Geral do Hóquei Patins e do respetivo Regulamento de Justiça e Disciplina para procurar entender a vossa decisão mas não fiquei convencido, antes pelo contrário.
Verifiquei que a homologação de qualquer campeonato tem que ser efetuada antes do seu início. As competições têm de constar do calendário geral das associações e homologadas pela federação nos primeiros 8 dias úteis do início de cada época desportiva. Uma vez o Campeonato Distrital de Setúbal ter começado na data prevista, estou em crer que a sua homologação foi efetuada pela FPP dentro do prazo designado e que, consequentemente, todos os requisitos necessários para a sua concretização estavam reunidos. Não vi, nos referidos regulamentos, mencionada a necessidade de homologação quando o campeonato termina. É indiscutível que aquele campeonato distrital terminou com cinco equipas mas também é verdade que começou com seis e a sua realização foi autorizada por Vªs. Exªs.
Contrariando o que penso ser o vosso parecer, o fato do campeonato distrital ter terminado com cinco equipas não é, na minha opinião, causa para a sua anulação ou não homologação e não contraria em absoluto o artº. 53 do RGHP, que só se pode referir ao início do campeonato e não ao fim. Quanto ao nº. 6 do artº. 80º do RGHP refere-se apenas ao clube prevaricador e a nenhum outro. Pretende punir o clube que violou os seus deveres e não estender esta punição aos outros intervenientes.
Reconheço que se trata de uma situação anómala e extraordinária, que merecia, também ela, uma avaliação excecional, decorrente de uma decisão burocrática da APS que determinou o impedimento do Azeitonense em continuar a sua participação na prova, contra a vontade daquele clube, quando faltavam apenas quatro jornadas para terminar.
Ora, não me parece que seja intenção daquele mesmo regulamento, que se pretende justo e perfeitamente imparcial, punir quem cumpre mas sim os prevaricadores e faltosos. Desta forma, entendo que a decisão proferida pela FPP assenta na interpretação bastante extensiva do que o regulamento efetivamente pretende proteger, nomeadamente a verdade desportiva, que assim está a ser completamente atropelada e que contraria em absoluto o Principio da Legalidade que se encontra consignado no RDJ como seria expetável.
Lamento que a vossa decisão se tenha baseado numa análise bastante subjetiva do dito regulamento, que na ausência de uma norma direta sobre um fato concreto, permitiu que o decisor usasse do seu poder discricionário para proferir uma decisão, que se pretende justa e imparcial e que, neste caso, não foi.
A avaliação objetiva do desempenho das equipas indica que, merecidamente, as três equipas apuradas deveriam de ser autorizadas a participar no respetivo Campeonato Nacional, pois não violaram quaisquer deveres consignados nos regulamentos, e que os motivos que realmente levaram o Campeonato Distrital de Setúbal de sub 20 a terminar com cinco equipas deveria de ser objeto de análise por parte de Vªs. Exªs.
Meus senhores, julgo que não é punindo os três clubes apurados e que cumprem as suas obrigações, pois que de um castigo se trata, que se está a dignificar o Hóquei Patins Nacional. Pagar o justo pelo pecador é uma forma indigna de resolver um problema criado por uma entidade, a Associação de Patinagem de Setúbal, que, se não estou em erro, também está sob a alçada da justiça federativa e a quem devem ser assacas as responsabilidades pelo ocorrido. Foi esta associação quem subverteu o normal decorrer do Campeonato Distrital de Sub 20, devidamente homologado pela FPP, e não os clubes, obrigatoriamente inscritos naquela competição pela referida associação.
Falando agora concretamente do Club Naval Setubalense, onde os meus filhos praticam esta modalidade há vários anos, é com orgulho que posso afirmar, sem qualquer dúvida, que a equipa onde joga o mais velho se sagrou campeã distrital de Setúbal no escalão de sub 20 na época desportiva 2013/2014, e, até há poucos dias, tinha conseguido o apuramento para o Campeonato Nacional.
Esta equipa efetuou o número mínimo de jogos exigido pela FPP, 10 jogos, tendo jogado 2 com cada um dos seus adversários, incluindo o Azeitonense, e terminou o campeonato com 25 pontos (73 golos marcados – site oficial da APS), pelo que se torna incompreensível esta decisão federativa, que lesa fortemente o clube nas suas vertentes desportivas e financeiras. Sobre este último aspeto, penso que, a manter-se esta decisão federativa, os dirigentes do clube terão que procurar imputar as devidas responsabilidades.
Os senhores, melhor que eu, sabem das dificuldades em motivar os jovens para a prática da modalidade, em particular ao sul do tejo (para alguns considerado um deserto), sendo necessário, em alguns escalões, competir no campeonato regional de forma a permitir um número suficiente de equipas para a sua homologação. Nesta época desportiva não foi necessário recorrer a tal opção no escalão sub 20, uma vez a FPP ter aceitado as inscrições das seis equipas propostas pela APS e ter igualmente procedido à homologação do respetivo campeonato. Se assim não fosse, e agora estou apenas a conjeturar, é provável que os responsáveis pela equipa de sub-20 do clube tivessem optado por a inscreverem num campeonato organizado por outra associação, que lhes permitisse competirem para serem apurados para o Nacional, porque, meus senhores, o objetivo primeiro de qualquer equipa ao sul do Tejo, e mesmo na maioria dos clubes nacionais, é o de conseguir obter uma classificação que lhes permita serem apurados para participarem naquele campeonato. Esta nossa equipa conseguiu esse objetivo e depara-se agora com uma decisão contrária e extremamente questionável, assente na livre interpretação das normas, por parte de quem teve a responsabilidade para decidir.
A seção de hóquei patins do Club Naval Setubalense está, até ao momento, única e exclusivamente virada para a vertente da formação e competição jovem, embora acalente a ideia de formar uma equipa sénior num curto espaço de tempo. Assim, presentemente, os Sub-20 são o escalão máximo do clube e referência para os atletas mais novos. Pretende-se que sejam um exemplo desportivo e pessoal, e que o seu desempenho sirva de modelo para os “miúdos”.
Orgulhamo-nos de ter contribuído para o crescimento de atletas de sucesso, ainda bastante jovens, que culminou com a presença de um deles na fase final do campeonato do mundo de sub 20 do ano passado e com a extraordinária conquista do título mundial.
Numa altura em que se fala na promoção e fomento do hóquei patins, na necessidade do seu crescimento e captação de jovens atletas, são estes exemplos individuais que estimulam a prática e o aparecimento dos novos “miúdos”, mas também as conquistas das equipas pertencentes ao clube nas diferentes competições.
No caso em apreço, o justo apuramento para o Campeonato Nacional foi um “prémio” que, para além do gosto inquestionável pela modalidade, motiva os jovens e estimula-os a praticarem a modalidade ainda com mais vontade. A perspetiva da equipa de Sub 20 do CNS participar numa competição onde as grandes equipas do panorama nacional também estão envolvidas é garante da conquista de novos praticantes, necessários para a sobrevivência de qualquer clube, e do aparecimento de mais adeptos.
Decisões como esta, tomada por Vªs Exªs, por motivos completamente alheios ao desempenho desportivo daquela equipa, ou do próprio clube, poderá ter efeitos bastante negativos na vontade e disponibilidade dos atletas que, há semelhança de outros por todo o país, fazem “das tripas coração” para participarem semanalmente nos treinos, deslocando-se vários quilómetros e a horas menos próprias, para depois verificarem que a razão do seu sacrifício lhes foi retirado de uma forma incompreensível, contrariando assim tudo aquilo que se deseja para a modalidade – mais e melhores homens e atletas.
Meus senhores, não se consegue perceber o motivo por que esta equipa foi excluída do campeonato nacional, pois o seu percurso, durante toda a competição, foi irrepreensível e isento de quaisquer polémicas ou conflitos. Não consegui encontrar nos regulamentos qualquer fundamento para que tal tenha acontecido.
Quanto à tão apregoada necessidade de divulgação da modalidade, que o próprio regulamento contempla nalguns artigos, é por demais evidente que sai bastante beliscada deste grande imbróglio. A publicidade do ocorrido e a sua divulgação é significativamente negativa para o hóquei patins e para a justiça federativa que, com esta decisão, por muitos considerada anómala e desapropriada, eu incluído, não o enobrece.
Apenas a reparação desta injustiça poderá apagar a imagem menos boa e bastante negativa provocada por esta decisão da Federação de Patinagem. Acredito que a vossa decisão foi tomada de forma consciente e independente mas baseada em pressupostos erróneos, ainda a tempo de ser corrigida.
Grato pela atenção
Um adepto preocupado
Jorge Manuel da Silva Contreiras"