ENTREVISTA DA SEMANA

Em semana de derby Ribatejano, o sempre apetecível Tigres – Corujas, a contar para a Taça Dr. Joaquim Guerra, o Cartão Azul viajou até á capital da sopa da pedra, Almeirim para entrevistar João Graça, treinador-jogador do HC “OS Tigres”.
CA – Em primeiro lugar obrigado pela sua disponibilidade. Como decorreu a época dos Tigres na série C da 3ª divisão?
JG – Boa tarde. A época não correu como eu e toda a equipa gostaríamos que corresse, pois não conseguimos alcançar o principal objectivo, que era a subida de divisão. Contudo, foi, como também a passada época, uma época positiva. Isto é, o clube está a evoluir bastante, as outras equipas já nos encaram com outra atitude e os Tigres estão a medrar a olhos vistos.
CA – Estiveram sempre nos lugares cimeiros, e com possibilidades de atingirem a liguilha de subida, o que faltou para atingirem os objectivos?
JG – É um facto. Estivemos sempre nos lugares cimeiros e pertíssimos do 1º lugar, não só da liguilha! Se tivéssemos ganho na última jornada e a Lourinhã tivesse empatado, subiríamos na 1ª posição. Eu não gosto de me desculpar com pormenores supérfluos, mas efectivamente tivemos o azar sempre connosco. Infelizmente aconteceram-nos situações que eu não previ… e passo a referir 3 dos momentos em que esse azar nos acompanhou: no jogo Tigres / São Roque, estava-mos a vencer 1-2 ao intervalo; começou a chover; o ringue é descoberto; nós não conseguíamos patinar, travar, dominar a bola; o nosso capitão disse ao árbitro que não queríamos continuar o jogo daquela maneira, pois punha-mos a integridade física dos jogadores em risco; depois de uma breve conversa entre o árbitro e alguns jogadores e público da casa, este decidiu continuar o jogo; fomos alvos de gozo da parte dos outros jogadores, pois disseram-nos variadas vezes que estavam habituados a treinar naquelas condições e que nós não teríamos hipótese; perdemos 7-2. No jogo Tigres / Lourinhã, estávamos empatados quando a 2 segundos do final do encontro marcamos o 4-3; o golo foi anulado, porque o árbitro disse que a bola não tinha entrado, aquando o guarda-redes adversário confirmou o golo. A ultima destas 3 situações foi o facto de o Sporting de Torres ter desistido, e como estão nas regres da federação, os pontos e os golos são retirado das equipas que defrontaram a equipa desistente; perdemos, então 6 pontos, pois tínhamos ganho os dois jogos e retiraram-nos 14 golos, pois marcámos 7 em cada jogo. Só para ter uma ideia, o Vialonga, equipa que subiu em 1º lugar e o Stella Maris, que ficou à nossa frente beneficiaram com isso, pois ambas as equipas tinham perdido pontos com o Sporting de Torres. Enfim, estamos de consciência tranquila pois quem viu os nossos jogos verificou a nossa inconfundível vontade e atitude de vencer.
CA – Uma equipa jovem como é a dos Tigres, inclusive com juniores, a ganhar maturidade de ano para ano, acha que podemos começar a pensar na subida á 2ª divisão num futuro próximo, ou existem outros problemas (logísticos e ou financeiros) que atrasem esse objectivo?
JG – Essa questão já se torna num clássico. Mas não deixa, de todo, de ser pertinente. Eu quando vim para os Tigres trouxe comigo a vontade e o objectivo de, num espaço de 3 anos, subir para a 2ª divisão e depois, mais tarde, consoante os tais problemas financeiros, para a 1ª divisão. Estou à duas épocas nos tigres e ficámos muito perto de subir nas referidas épocas. Fazendo as contas só me resta uma época para subir de divisão… por isso, se cá ficar (nos Tigres), espero que para a próxima época consiga tal feito. Todavia, tenho actualmente no plantel, não juniores, mas sim 3 juvenis, que trabalham como seniores; eu não os vejo como “putos”, como também não vejo os mais velhos como “cotas” ultrapassados. Vejo sim uma equipa jovem, é certo, mas com muita vontade de vingar no hóquei, com muitas potencialidades e uma direcção que faz os possíveis e que se esforça bastante para não faltar nada aos jogadores, o que me deixa muito orgulhoso e com mais vontade de lhes dar a alegria de subir de divisão. Nenhum jogador recebe dinheiro para jogar, mas não é por isso que somos muito piores que os que recebem. Simplesmente, se o clube tivesse patrocínios e como consequência mais dinheiro, talvez desse para trazer um ou outro jogador que fizesse a diferença. Mas o que é certo é que já existem muitos jogadores a querer vir para os Tigres, mesmo não recebendo dinheiro; isso significa que quem está de fora denota que o clube é óptimo e aliciante para se jogar.
CA – Tendo a época terminado bastante cedo na minha opinião, agora a Taça Dr. Joaquim Guerra serve para manter os níveis competitivos e começar a preparar a próxima época, qual a sua opinião em relação a este Torneio?
JG – A minha opinião é idêntica à sua. O torneio vem em boa altura e é sem duvida uma excelente iniciativa, apesar de o meu único objectivo é rodar jogadores e fazê-los correr, para não estarem parados durante tanto tempo. A próxima época vai ser muito mais competitiva e se eu aqui continuar tenho que preparar os jogadores para qualquer situação e para defrontar qualquer equipa. Não sou treinador de ter 5 ou 6 jogadores e os outros serem só estatística. Preparo-os a todos da mesma maneira, pois preciso de todos como eles precisão de mim. Nunca tenho equipa certa para um jogo. Os convocados variam consoante as características do jogo e dos respectivos jogadores. Por isso, neste torneio, o resultado não me interessa para nada! Apenas a minha equipa tem que treinar (nos jogos) bem para ir de férias com tranquilidade!
CA – Na jornada passada sofreram uma pesada derrota em Arazede, foi daqueles jogos em que tudo correu mal, ou realmente o Arazede tem uma boa equipa, e jogar no pavilhão deles com o seu publico é difícil?
JG – A derrota foi pesada e tudo correu mal… é um facto! Quase todos os jogadores tiveram mal inclusive eu. Mas não foi mérito do Arazede. Eles têm um hóquei muito inferior ao nosso e os jogadores têm má conduta. O árbitro era péssimo, apesar de eu muito raramente me desculpar com os árbitros, e o ringue não é dos melhores. Contudo, o Arazede limitou-se a fazer a única coisa que sabe: contra-atacar e “mandar paulada”. Quanto ao público, contava-se pelos dedos e como é hábito não o senti e os meus jogadores estão treinados também para não o sentirem, independentemente do número de assistentes. Mas como já disse, os resultados neste torneio são-me indiferentes… e não tenho nada a provar. Quando precisar de ganhar em Arazede, ganharei sem dificuldade!
CA – Sábado temos o derby do sul Ribatejano o sempre aguardado Tigres – Corujas, como está a encarar o jogo?
JG – Estou a encarar o jogo com a maior tranquilidade. Vai ser só mais um jogo, que para nós não passará de um treino. O Corujas tem jogadores que encaram os jogos connosco como se fossem ganhar uma taça e isso é bastante positivo, pois quanto mais competitivos forem os jogos deste torneio melhor para os meus jogadores. Todavia, se jogarmos mal, talvez percamos o jogo, se jogarmos o nosso normal, certamente que ganharemos.
CA – Os Corujas lideram a prova com mais 3 pontos e mais um jogo, pensa que a luta pela conquista da prova passa exclusivamente por vocês e pelos Corujas, ou vê mais alguma equipa capaz de vencer o troféu?
JG – Eu acho que os Corujas, mesmo com a vontade que têm para vencer este torneio, não o vão conseguir. Nós somos candidatos a ganhar o troféu porque simplesmente provámos ao longo da época que temos capacidades para vencer qualquer equipa inscrita neste torneio. Mas não estou preocupado com isso. Eu acho que o Stella Maris e o Marrazes são mais candidatos que os Corujas. Mas isto é só a minha opinião… no final do torneio todos verão a classificação.
CA – Mudando de assunto, existe um jogador no plantel que eu acompanhei durante algum tempo nos escalões de formação, jogador que foi campeão distrital de Infantis-B nos Tigres, de Juvenis no União do Entroncamento e com chamada á Selecção Distrital de Iniciados, que é o Tito Correia, como está ele como jogador, integrado num plantel com atletas experientes e a lutar por os lugares cimeiros de uma competição nacional?
JG – O Tito é um jovem com muita vontade e potencialidade. Ele enquadrou-se muito bem no meu hóquei e está em pé de igualdade com os outros jogadores. Não só o Tito, mas todos sabem que têm que dar sempre o seu melhor, porque se não o fizerem, nem sequer são convocados. O Tito é um exemplo que confirma o que disse anteriormente; ele mesmo sendo juvenil, jogou, na época passada e nesta época, vários jogos, inclusive como titular, curiosamente contra os Corujas em que marcou o 1º golo da partida.
CA – Para terminar uma pergunta, costuma acompanhar os escalões de formação? Qual a sua opinião acerca dos mesmos, nomeadamente a nível do Ribatejo?
JG – Eu tento sempre acompanhar todos os escalões e equipas possíveis, e tenho uma opinião peculiar, não só sobre o hóquei em geral, como também sobre o hóquei infantil; tanto no Ribatejo como em qualquer outra parte de Portugal, os clubes deveriam apostar muito mais nos escalões de formação, não fossem eles o futuro do hóquei em patins. O principal problema reside nos treinadores que os formam e nos clubes que contratam esses treinadores… na maioria, pretendem ganhar jogos com os miúdos, e o certo é formá-los convenientemente – dar-lhes boa patinagem e educação táctica – as vitórias vêm por acréscimo. Ainda à uns tempos, assisti a um jogo de infantis em que um dos treinadores saltava e gritava de tanto querer vencer o jogo e a táctica que utilizava era simplesmente mandar 3 jogadores passarem a bola ao jogador mais alto para este fintar os outros e marcar ele o golo. Isto faz com que nem o jogador mais alto, nem os outros jogadores evoluam, independentemente do resultado. Acabaram, mesmo assim por perder o jogo e não ganhar maturidade com isso. Eu defendo que até aos iniciados todos devem ter oportunidades de evoluir como jogadores, pois se existe um jogador mais fraco em infantil, não quer dizer que este não se venha a destacar de todos os outros a partir de iniciados. Espero que me esteja a fazer entender.
Há também que aliciar os miúdos para o desporto, nomeadamente para o hóquei em patins, pois o futebol, com o euro e com o mundial despertou muito mais interesse nos miúdos de hoje, os jogos de consola de futebol são os mais jogados em todo o mundo, etc. isto faz com que os miúdos e os pais dos miúdos queiram ir para o futebol e queiram ver os filhos no futebol, respectivamente. O hóquei não se pode encostar aos títulos que conquistou outrora. Há que ir às escolas e distribuir convites para o miúdos ir verem jogos de hóquei, para a modalidade despertar interesse neles, há que publicitar a modalidade… só assim o hóquei não morrerá, que sinceramente, é isso que eu temo.
CA – Obrigado pela entrevista, e votos de um bom torneio Dr. Joaquim Guerra e que o derby de sábado seja um hino ao hóquei ribatejano e ao desportivismo.
JG – Obrigado, eu, pela disponibilidade. E certamente que da parte dos Tigres será cumprido esse hino! Felicidades para o Cartão Azul.