segunda-feira, 25 de agosto de 2008

MIGUEL CUNHA NO CIDADE DE TOMAR

“A Associação faz pouco para que os clubes que já tiveram hóquei em patins voltem a praticar a modalidade”
CT – Quando já está perto o regresso ao trabalho, que balanço faz da época passada?
MC – Ao nível dos resultados, não foi uma época onde conseguimos atingir o objectivo a que nos propusemos.
CT – Que era...?
MC – Em primeiro lugar a subida de divisão. Mas a nível do trabalho em si, e da evolução do grupo enquanto equipa, penso que foi uma época bastante importante. O grupo evoluiu no sentido positivo e, nesse aspecto, o clube ganhou bastante.
CT – O que é que falhou?
MC – Alguma consistência nomeadamente nos jogos em casa. Faltou também um pouco de sorte, mas fundamentalmente faltou consistência nos jogos em casa. O Santa Cita acabou por não subir de divisão fundamentalmente por causa dos jogos em casa. Mas também houve mérito das outras equipas. A 3ª Divisão está cada vez mais forte, cada vez tem mais jogadores que recentemente militavam na 2ª e até na 1ª Divisão. Já não é um campeonato onde haja resultados muito desnivelados. Aconteceu que a equipa mostrou pouca consistência em alguns jogos em casa.
CT – O triunfo no Torneio 4 Regiões veio provar o valor da equipa?
MC – O Torneio 4 Regiões não tinha todas as equipas que disputaram o campeonato, mas mesmo assim foi um triunfo inequívoco. Talvez a equipa precisasse de assimilar outros processos, e, nesse aspecto, penso que com a minha entrada, a equipa começou a ter mais cuidado com a defesa, coisa que normalmente não tinha. Era uma maneira de estar do anterior treinador, que nós sempre respeitamos. Era uma equipa muito ofensiva, mas muitas vezes descurava a rectaguarda. Nesta parte final da época a equipa melhorou no aspecto defensivo e conseguimos um feito importante para o clube. Os atletas mereciam ganhar, pelo trabalho feito até longo da época.
CT – É já a segunda ou terceira tentativa falhada...
MC – O Santa Cita é um clube que tem sempre dificuldades em fazer o plantel, porque cada vez há menos apoios. Ainda há uma grande distância entre os Seniores e os Iniciados, que é o escalão mais alto de formação que temos. Não podemos recorrer aos Iniciados para jogar. Já recorremos mas apenas para os treinos. Uma equipa que quer subir tem de ter o apoio na rectaguarda , sobretudo num clube como o Santa Cita, que não tem possibilidades financeiras para ir buscar jogadores que realmente desequilibrem. Temos de recorrer a jogadores com qualidade daqui da zona. Mas sabemos que estamos sempre sujeitos às opções de outros clubes que têm mais poderio financeiro.
CT – Nomeadamente as três equipas da 2ª divisão...
MC – Exactamente, o Sp. Tomar, a Juv. Ouriense e o U. Entroncamento, sobretudo nestes últimos anos. Apesar de tudo, temos um grupo de jogadores com alguma qualidade, que gostam do clube, absorvem o que o clube tem de bom e acabam por ficar. Não tenho duvidas que há no Santa Cita jogadores que tinham lugar nos planteis dessas equipas da 2ª Divisão. Tem qualidade para isso. No final da época vieram buscar dois jogadores importantes, o melhor marcador e o jogador que recuperava mais bolas, e não foram mais porque realmente eles gostam de estar em Santa Cita. O “Zig” também foi sondado para o Alenquer. É um jogador com potencial e que, na época passada, com o Rafael, “explodiu” imenso.
CT – A estrutura à volta das equipas é suficiente?
MC – É a possível. Sabemos que Santa Cita é uma aldeia pequena. Cada vez os jovens de Santa Cita têm de procurar trabalho noutros centros e acabam por ser sempre as mesmas pessoas à volta do clube. Felizmente esta época, para além do meu pai (presidente Barroca da Cunha) e do Sr. Vítor Lopes, conseguimos arranjar mais alguns seccionistas. A maior parte são os pais dos miúdos que dão uma ajuda preciosa ao clube, mas mesmo assim são poucos. Não faltou apoio, eu também dei uma ajuda enquanto coordenador, mas foi um esforço muito grande para as duas pessoas que referi, que já tem alguma idade e saturação, e têm sobre os ombros toda a estrutura do clube. Espero que no futuro haja mais colaboradores.
CT – Mas há uma estrutura mínima para a 2ª Divisão?
MC – Sim há uma estrutura mínima. E penso que se conseguisse-mos subir à 2ª Divisão, haveria certamente mais pessoas á volta do clube. Mas temos de ir vivendo com o que temos.
CT – Na próxima época vão tentar de novo a subida?
MC – Vamos tentar de novo sabendo que perdemos dois jogadores muito influentes na equipa. Fomos buscar dois jogadores que estavam parados (Pedro e Rui Nunes). São dois atletas com qualidade, mas que estavam sem competir há algum tempo. O Nuno Dias também fez uma época no Sp. Tomar praticamente sem jogar. O Tiago, que eu conheço bem, embora não fosse titular era muitas vezes utilizado no União. Vamos lutar pela subida como fizemos nestas ultimas épocas.
CT – No entanto, a equipa tem uma estrutura base já feita...
MC – Temos uma estrutura base que já tem vindo a trabalhar junta há algum tempo, mas tive muita pena pela saída do Marco e do David, pois já tínhamos trabalho feito. Foram opções deles e temos que respeitá-las e desejar-lhes boa sorte. Vamos tentar colocar de novo o Santa Cita na 2ª Divisão que é o patamar que merece estar por tudo aquilo que tem feito pelo hóquei nos últimos anos. E os jogadores merecem jogar na 2ª Divisão, pois tem qualidade para isso.
CT – Se pudesse, em que sector reforçaria o plantel?
MC – Os treinadores normalmente estão sempre insatisfeitos. Neste momento penso que faltaria um jogador com características de finalizador. Temos alguns que fazem essa posição, mas não são jogadores com essas características. Mesmo assim, temos qualidade no plantel para fazer golos.
CT – Como é que os sócios vivem o clube nesta altura?
MC – Neste aspecto, a equipa sénior conseguiu uma vitória na época passada, mérito do Rafael e de todo o grupo de trabalho. O Pavilhão de Santa Cita teve um numero de assistência aos jogos bastante bom, e não só dos Seniores. Houve um grande incentivo, houve muito mais pessoas a ver os jogos de hóquei.
CT – É também o coordenador da formação, que está já a dar frutos...
MC – Na próxima época não vamos ter equipa de Juvenis. E o André Conde, que é juvenil de 1º ano e que teve convite do Sp. Tomar para integrar a equipa de Juvenis, entendeu, e os pais também, que tem condições para subir à equipa senior. Tem envergadura física, tem qualidade, mas vai ser um ano de aprendizagem para ele. É motivo de orgulho termos na equipa sénior um jogador proveniente da nossa formação. Tendo em conta o numero de atletas temos feito um trabalho extraordinário. Há atletas a serem cobiçados, e alguns já se transferiram para outros clubes. O Ricardo Marrucho foi para os juvenis do Sp. Tomar, é um jogador com um potencial enorme. Temos o Êrnani, que foi fazer treinos ao Benfica e queriam que ele ficasse lá. É a prova de que temos trabalhado bem. Mas há outros jogadores com qualidade nas camadas jovens e, no futuro, se continuarmos a trabalhar assim, poderemos tirar bons frutos. Temos uma equipa técnica com qualidade, no caso o Rui Oliveira e o “Zig”, e, em principio também vamos ter o Nuno Nobre...

CT – Quantos atletas tem na formação actualmente?
MC – Nesta altura temos perto de 40 atletas, desde a iniciação à patinagem até aos Iniciados.
CT – É difícil fazer o recrutamento...
MC – É, porque aqui à volta há muitas actividades, outros desportos... Santa Cita é uma aldeia pequena e há poucos jovens. Felizmente têm aparecido alguns interessados em praticar hóquei. Temos recrutado jovens na freguesia da Asseiceira, mas também de outros sítios... O clube tem boas condições de treino, bons técnicos, e os pais já perceberam que isso é sinónimo de evolução e de qualidade.
CT – No futuro o Santa Cita poderá viver apenas da formação?
MC – No futuro imediato, não. Mas daqui a algum tempo, a médio prazo, sim. É para isso que estamos a trabalhar, e foi por isso que eu o ano passado aceitei o convite para coordenador do hóquei no Santa Cita. Temos uma coisa muito importante, que é o pavilhão, que é nosso. Nesta época tivemos os Iniciados a treinar quatro vezes por semana, coisa que aqui na zona se calhar poucos clubes podem fazer. Se continuarmos a trabalhar desta forma, mais cedo ou mais tarde podemos ter uma formação forte.
CT – Metas...?
MC – Continuamos a formar bons jogadores. Não temos como meta principal ganhar campeonatos distritais, porque muitas vezes para conseguir isso têm de se queimar etapas na formação, o que é prejudicial. Por outro lado, ganhar os distritais significa disputar o nacional e dar outro nível de competição aos atletas. Mas o Santa Cita nunca terá muitos jogadores. Nos Iniciados, por exemplo, com a vinda de um jogador de Tomar é que passamos a fazer convocatória. Mas aí, já falei com o Paulo Beirante, vamos procurar cada vez mais fazer um intercâmbio entre os clubes, entre o Sp. Tomar e o Santa Cita. Ainda não está posto em prática, porque há alguma resistência por parte dos pais. O Sp. Tomar tem muitos jogadores e alguns não conseguem jogar com assiduidade. Os pais tem de perceber que é melhor para os filhos irem para onde possam jogar e evoluir. Talvez ainda não se tenham apercebido que aqui em Santa Cita há bons técnicos e condições iguais ou melhores que as do Sp. Tomar. Quando esse protocolo tiver instituído, e espero que o Sp. Tomar esteja aberto a isso, penso que os dois clubes tem muito a ganhar com isso. Por exemplo o Ricardo Marrucho, um jogador de qualidade que foi cobiçado por outros clubes, e de acordo com os pais achámos que era melhor para ele ir um ano para o Sp. Tomar já a tentar fomentar este protocolo. Se eventualmente houver possibilidade de ele regressar, regressa, se não continuará no Sp. Tomar. Se houver um bom entendimento, isso vai reflectir-se nas equipas seniores dos dois clubes. Na formação por exemplo, se um destes clubes atingir os nacionais, poderão ir jogadores de Santa Cita para Tomar ou vice-versa, e assim fazem uma equipa muito mais forte. E os jogadores mais fracos terão oportunidades de jogar e evoluir. Se um jogador ficar limitado só a um clube muitas vezes não tem possibilidades de evolução. Esta época, o Santa Cita tinha no escalão de Infantis seis ou sete jogadores e acabou por ser o 2º classificado. O Sp. Tomar tinha dois ou três jogadores que não jogavam e que, se tivessem vindo para o Santa Cita, poderiam ter evoluído. Por outro lado, o Sp. Tomar, quando jogasse com o Santa Cita, teria mais competição e, por isso, mais andamento no campeonato nacional. Assim, fez um distrital à vontade e depois revelou alguma falta de andamento no campeonato nacional.
CT – Mas, a nível distrital, há poucas equipas em certos escalões...
MC – É a realidade actual, mas penso que a Associação de patinagem do Ribatejo faz pouco para que os clubes que já tiveram hóquei em patins voltem a praticar a modalidade. Há várias situações que poderiam ajudar, como, por exemplo a realização de finais, de torneios, de jogos exibição, como acontece noutras modalidades, em sítios onde já houve hóquei. Um jogo em Torres Noas, no Rossio, onde não há nem houve hóquei, ajudaria ao reaparecimento do hóquei pois os miúdos ficariam interessados. Por exemplo a final-four da Taça de Portugal disputou-se em Aljustrel...eu já vou ao “clinic” do Filipe Gaidão há quatro anos como monitor, e este ano notei que havia uma euforia muito maior pelo hóquei. Quem gosta do hóquei terá de fazer alguma coisa por ele.
CT – A Associação não tem cumprido bem o seu papel?
MC – Tem cumprido, de certa forma, pois até tem trazido para esta região alguns eventos. Mas penso que este tipo de divulgação era muito importante para a modalidade. Tem feito um bom trabalho, mas podia fazer um pouco mais. E isto é uma critica construtiva. Na capital do distrito, por exemplo, com o H. Santarém, assiste-se a um forte ressurgimento do hóquei de formação. O mais natural é que daqui a um ano ou dois tenha uma equipa sénior. Quantos mais atletas houver, quanto mais competição houver, mais forte será o hóquei desta região, para que não aconteça o que aconteceu com os Infantis do Sp. Tomar, ou os Iniciados da Juv. Ouriense, que tiveram dificuldades no nacional.

CT – Que opinião tem dos actuais quadros competitivos?
MC – Não estou totalmente de acordo com os actuais quadros competitivos. Penso que a Federação tem medo de mexer neles. Há muitas associações, quando devia haver em Portugal Continental, apenas três ou quatro. Para quê? Para que houvesse mais competitividade nos campeonatos, para que não houvesse campeonatos com apenas quatro ou cinco equipas. Isto não traz nada de benéfico ao hóquei. Mesmo a nível da 2ª ou 3ª divisões, devia haver três zonas. Quando jogam equipas da mesma zona, isso é sinónimo de casa cheia. A nível de deslocações, cada vez os clubes tem mais dificuldade. Até na 1ª Divisão devia haver duas zonas. A partir daí fazia-se uma segunda fase, um paly-off. Se houvesse mais equipas podiam lançar-se mais jovens, havia mais dérbis regionais, que são importantes para os clubes.
CT – Como é que olha agora para a sua passagem pelo Sp. Tomar?
MC – Foi uma passagem importante, embora só estivesse quatro jogos á frente do Sp. Tomar. Nessa altura o clube tinha uma direcção um pouca instável. Em quatro jogos, ganhei um com a Sanjoanense. Perdemos com a Oliveirense, com o Barcelos em casa e com o Gulpilhares. Quando sai nem estávamos em posição de descida. Houve um corte no orçamento, e também não concordei muito com a política seguida. Saí de cabeça levantada... Mas valeu a pena, tive o privilégio de trabalhar com jogadores de qualidade, e de lançar outros. Como é obvio, tive pena que o Sp. Tomar tivesse descido porque o plantel tinha qualidade para ficar na 1ª Divisão. Houve muita instabilidade à volta do clube. Nos últimos anos tem desenvolvido um trabalho nos seniores que mais tarde ou mais cedo o irá colocar na 1ª Divisão. Na próxima época tem tudo para conseguir subir, porque há processos assimilados e bons reforços, como o Jorge Godinho, que se quererá despedir com o clube na 1ª Divisão.

In JornalCidade de Tomar”, edição de 08 de Agosto de 2008
Cortesia:
Fotos: Blog ACR Santa Cita