De 25 a 29 de Outubro decorre em Wuppertal o Europeu de Hóquei Feminino. A nossa selecção chegou ontem à Alemanha, levando na bagagem as aspirações à conquista do ceptro. Ernesto Sebastião, seleccionador nacional realizou um estágio de 3 semanas e vários jogos de preparação e com um grupo de atletas que alterna a juventude com a experiência preparando assim as nossas “guerreiras” para atacar o lugar mais alto do pódio. A nossa Selecção estreia-se amanhã frente à Suíça e acaba a participação no dia 29 frente à Espanha, pelo caminho joga com a Alemanha (27) e coma a França (28). Num Europeu apenas com 5 Selecções, fomos tentar saber quais as reais possibilidades das Jovens Lusas numa conversa com Rafael Oliveira, ex-Seleccionador Nacional Feminino.
CA – Bom dia Rafa, que Selecção Nacional vamos ter na Alemanha?
RO – Bom dia também para ti Francisco e para os internautas visitantes do Cartão Azul, quanto à participação da nossa selecção sénior feminina no Euro 2011, espera-se o mesmo que se espera de qualquer selecção portuguesa de hóquei em patins, que seja igual a si própria, que seja digna representante de Portugal e que dê o seu melhor para chegar o mais longe possível, claro que tratando-se de Portugal, queremos sempre no mínimo, um lugar no pódio, podendo aspirar a mais em função dos momentos e do que os outros Países possam também fazer, até porque no feminino, existem selecções que tal como Portugal, têm legitimidade para querer vencer e diria até mais legitimidade, porque há anos a esta parte, que a Espanha domina, porque investe em tempo e em meios de trabalho, em quantidades que normalmente ultrapassam largamente o que nos é proporcionado a nós, mas também a França e Alemanha, têm tido investimentos muito sérios na suas selecções, não sendo estranho por isso, nos últimos anos apresentarem-se tanto ou mais fortes do que as nossas selecções femininas, fruto desse mesmo esforço. Mas uma coisa é certa, nós temos o nosso valor e temos atletas que podem perfeitamente fazer diferenças e por isso é legítimo esperar um pódio e em função do que decorrer na própria prova, quem sabe poder discutir a vitória final, que no fundo é sempre o que esperamos e ambicionamos, mas como disse, o equilíbrio de forças é muito grande e um jogo pode ditar tudo a ganhar ou a perder, mas acredito nas nossas atletas e sei que vão fazer tudo o que são capazes para dignificar o nosso país e tentar uma surpresa, pois repito, Espanha, França e a Alemanha a jogar em casa, são muito fortes e muito experientes, conseguir um pódio é muito bom, ser segundo ou primeiro, seria um feito digno de grande realce, diria extraordinário, vamos acreditar, eu acredito nas nossas jogadoras e obviamente em todos os que compõem este grupo, pois todos têm um papel importante e nunca ninguém ganha nada sozinho, tudo o que se conseguir seja bom ou mau é sempre fruto de um trabalho de todos, desde o líder de comitiva ao enfermeiro, mecânico, etc, tudo e todos contam.
CA – Conheces bem as atletas que irão disputar a prova, o que achas desta selecção, e quais as certezas e as revelações que podem acontecer em Wuppertall no seio do grupo Luso
RO – De todas estas atletas, só não trabalhei directamente com a Nídia Vale, a Sofia Cabrita e a Rita Paulo, embora as conheça bem das observações que fiz enquanto seleccionador e do que vou vendo como observador atento e fã que sou do hóquei feminino, sendo elas de certeza boas opções, porque senão, não estavam no grupo. A Adriana Leote, Catarina Coelho, Inês Vieira e a Marlene Sousa, fui eu que as levei pela 1ª vez às selecções e em boa hora, pois têm-se vindo a revelar atletas de eleição, tal como outras que entretanto também terão a sua oportunidade para confirmarem o seu valor na selecção, pois felizmente existem mais atletas que poderiam aqui estar, o que só favorece a luta por estarem muito bem e sobretudo estarem no grupo de eleitas, a Tânia Freire (Pulga), a Andrea Afonso e a Vânia Ribeiro, também atletas com quem trabalhei e também atletas fabulosas. Eu diria que a Vânia Ribeiro, para mim, uma das melhores jogadoras do Mundo, pode ser o peso que faz pender a balança, estando forte fisicamente e mentalmente, enche um campo, jogando e fazendo jogar, mas todas são muito importantes e todas podem marcar momentos importantes, até porque se o Ernesto as chamou é porque entende que são estas as melhores e as que podem neste momento ajudar Portugal a atingir os seus objectivos, embora outras também o pudessem fazer, mas também é esta a missão por vezes ingrata do seleccionador, que só pode levar 10 e ninguém como ele, quererá mais conseguir um grande resultado, portanto independentemente do que eu conheço de cada jogadora e do que cada uma pode fazer, o importante é que elas consigam superar-se e com inteligência e coragem e muita raça, que todas têm, possam servir a selecção e sentirem-se no fim dignificadas e conscientes que fizeram tudo o que estava ao seu alcance, isso é o importante, pois desde as mais novas, às mais experientes, todas têm a sua missão a cumprir e com certeza vão cumpri-la, há que confiar no valor de todas, no fim poderão ser as melhores da Europa, pois foram elas as escolhidas e bem, para atingir esse ponto alto das suas carreiras e da vida do País.
CA – O Seleccionador Nacional optou por um estágio de 3 semanas e jogos contra equipas de Juvenis de vários clubes, nomeadamente UD Oliveirense, HA Cambra, FC Bom Sucesso, na tua opinião é a preparação correcta para encarar uma prova desta dimensão, ou é a preparação que se consegue fazer, tendo em conta as limitações académicas/profissionais das atletas?
RO – Ultimamente a FPP tem disponibilizado condições para 3 semanas, portanto o seleccionador normalmente tem de trabalhar com o que lhe é oferecido e dentro desse espaço, tentar fazer o melhor possível e isso com certeza que fez, infelizmente 3 semanas têm-se revelado pouco, comparativamente a outras selecções, como aquelas que considero favoritas, que raramente dispõem de menos de 6 semanas e isso é o mínimo, pois chegam a ter estágios de 2 e 3 meses, mas é o que dispomos, as despesas são muitas e não tem sido possível a Federação dispor de mais, mas também verdade seja dita e faço questão de o afirmar, que sejam 3 ou 2 ou 4 semanas, as condições de espaço para trabalhar e meios à disposição, bem como alojamento e alimentação, são pontos em que nada há a dizer, pois nisso as selecções podem ter pouco comparado aos outros mas o que têm é bom, mas tudo isto pode ser relativo, pois em 2008, fomos vice campeões do Mundo no Japão, com 2 semanas de estágio e em 2009 em sub 19 fomos vice campeões europeus com uma selecção com média de idades de 16 anos e só com 7 dias de estágio, contra 7 semanas da Espanha que nos derrotou na final, mas a realidade é que na hora da verdade, fez toda a diferença 2 semanas contra 2 meses e meio da Espanha, no Mundial e os 7 dias contra 7 semanas no Euro sub 19, pois os automatismos criados, o aperfeiçoar e limar arestas, assentar e concretizar ideias e a consolidação do trabalho físico, fazem toda a diferença quando se está no limite. Quanto à preparação em si e o tempo que duram, normalmente e enquanto as atletas são estudantes e porque são requisitadas, não são oferecidos problemas de maior, embora algumas escolas e ou universidades, por intermédio de alguns professores obtusos, ainda não perceberam a importância da requisição publica, o facto dos e das atletas serem atletas com estatuto de alta competição, o que isso representa para eles próprios e para o País e então criam problemas, muitas vezes só mesmo para complicar, mas os problemas são maiores, quando as atletas já trabalham e aí o comportamento das empresas, salvo rara excepção é lamentável e nisso o estado e a secretaria do desporto, pecam por omissão e ao não intervir, impossibilita muitas vezes que atletas possam não representar o país, com os prejuízos que isso representa para elas e fundamentalmente para as selecções que podem ser privadas de utilizar atletas que podem ser fundamentais, já houve casos de atletas, que foram despedidas em pleno estágio, outras foram ameaçadas de despedimento se tivessem 3 ou 4 semanas sem ir trabalhar, mesmo querendo gozar as férias nesse período, atletas que não puderam participar, porque não as deixavam fazer estágios finais em datas diferentes, enfim situações tristes e criticáveis a que as autoridades deviam dar outra atenção e exigir que se cumprissem as leis. Quanto às escolhas dos adversários para jogar durante os estágios, essa escolha é do seleccionador e é normal que opte por equipas juvenis, pois os juvenis masculinos já apresentam uma força física e velocidade superiores às mulheres, criando um elemento necessário para que hajam necessidades delas em se aplicarem mais, mas ao mesmo tempo terem possibilidades de discutir os resultados, como fizeram e bem, pois criar níveis de confiança e criar obstáculos que sejam possíveis de ultrapassar, é um factor muito importante e decisivo, mas lá está, o seleccionador avalia e depois é uma questão de bitola e de exigência e da própria realidade da equipa que dispõe, eu fiz alguns jogos com juvenis, mas também com juniores e tivemos sempre excelentes prestações, atingido objectivos de espírito de sacrifício e dando prioridade a aspectos mais defensivos e foram sempre bons testes, portanto, parece.me a mim embora de longe, que o Ernesto foi prudente por um lado, mas também se preocupou em dar-lhes o que elas precisavam em termos de desafio, até porque as equipas de juvenis com que jogaram eram boas equipas, portanto acho correcta a escolha, se é que tenho de achar alguma coisa
CA – Existe algum motivo especifico para que os jogos de treino sejam com equipas do escalão de Juvenis?
RO – Acabei por responder a esta pergunta, no ponto anterior, reforçando, que o seleccionador tem de ser objectivo e realista na escolha das equipas e que sejam juvenis ou juniores, depende muito do valor dessas equipas, do valor da nossa selecção e dos objectivos a atingir, pois mais que o resultado desses jogos, importa mais atingir objectivos previamente delineados e repito, parecem-me ter sido acertadas as escolhas.
CA – Fixando-nos agora em Wuppertal, e conhecendo tu as selecções em competição, o que podes dizer de cada uma delas, e quais as suas possibilidades?
RO – A Suíça à partida será a equipa mais fraca, embora e porque jogue com Portugal no 1º jogo e porque existe sempre algum nervosismo nessa estreia, é tradição criar algumas dificuldades, porque também para elas é a estreia e jogar contra Portugal é sempre motivante e darão tudo o que têm e o que não têm, mas naturalmente e com maior ou menor dificuldade, Portugal vencerá, espero que com facilidade, até para evitar desgaste físico, a Alemanha pelo que têm investido nesta selecção e pelas condições de trabalho que lhes tem proporcionado e porque joga em casa, poderá ter uma palavra a dizer, até porque são jogadoras que há muitos anos jogam na selecção e são muito fortes, com um jogo muito físico, mas muito prático, embora eu ache que o favoritismo maior vá para a Espanha e para a França, a olhar aos mais recentes resultados, França vice campeã da Europa e vice campeã do Mundo, à frente da Espanha e em casa desta o ano passado, a Espanha porque apesar do acidente o ano passado no Mundial, é para mim a grande candidata, com atletas com muitos anos de selecção, muito experientes em jogar grandes jogos nos grandes momentos, pelo valor das suas jogadoras, voltando a ter a Marta Soler a capitaneá-las o que é também uma mais-valia enorme para elas, mas a realidade é que se Portugal for crescendo nos jogos e conseguir começar bem, pode ter uma palavra importante a dizer e pode ambicionar a ganhar a qualquer uma destas equipas, independentemente dos favoritismos, porque é real que são selecções com mais tempo de trabalho que nós, que jogam juntas há muitos mais anos e que jogam todas as provas sejam de sub 19, sejam de seniores, o que lhes dá muitos anos de selecção e de hábito de grandes competições, mas repito, as nossas jogadoras sabem jogar hóquei e estarão à altura dos acontecimentos, merecem toda a nossa confiança
CA – Um Europeu apenas com 5 Selecções, demonstra o quê? Que o Hóquei Feminino está em queda? Que os países não apostam na formação na vertente feminina e daí a escassez de Selecções, ou existem outros factores que contribuem para isso?
RO – Surpreende-me a Inglaterra não estar, pois tem sido presença habitual em todas as competições, mas a realidade é que a pouca evolução vista, poderá ter levado a abandonos e por isso não estão, embora não conheça os verdadeiros motivos, a Itália, mais cedo ou mais tarde acabará por aparecer de novo, mas é verdade que na Europa são só estes países que investem no feminino, infelizmente muito pouco, mas é o que existe no momento, mas que não tira valor à competição, pois é sempre muito exigente este campeonato, mesmo nestes moldes e se olharmos para trás, a nível europeu o nº de participantes há anos que é mais ou menos assim, poucas equipas, mas de nível muito elevado. Esperemos que os países comecem a valorizar mais o desporto no feminino e que o hóquei seja uma dessa realidades, para que no futuro possam haver mais países, mas para isso exige-se um maior esforço de divulgação, fora dos países de tradição na modalidade, cabendo a todos nós e todos os agentes nacionais e internacionais estarem disponíveis para tal missão.
CA – Obrigado Rafa pela tua disponibilidade e o espaço fica à tua disposição para alguma mensagem que queiras deixar
RO – Quero deixar um abraço forte a todo o staff da selecção, desejar as maiores felicidades e que tudo nos corra de feição, desejando o melhor e que o melhor seja o título, um voto de confiança a todas as atletas, que acreditem nelas, que se divirtam jogando hóquei e que desfrutem destes momentos únicos nas nossas vidas, pois podem fazer história e ajudar com o seu esforço e contributo a que o nome de Portugal seja levado bem alto, todos torcemos por elas e confiamos no seu valor, sairemos dignificados com certeza e sabemos que todo o sacrifício que lhes for exigido, será feito, a minha amizade a todos sem excepção, pois tenho na maioria destas jogadoras, e restante staff, grande amizade e respeito pelo que todos fazem e representam.
Aproveito para apelar aos clubes, que percam o receio e o preconceito de apostar no hóquei feminino, evitem-se comparações com o hóquei masculino, porque a realidade é que se joga com muita qualidade, nas equipas femininas, as mulheres têm todo o direito de praticar desporto e se gostam de jogar hóquei e se o sabem fazer bem, porque não se aposta mais? alguém tem mais direito do que outros de competir e de praticar deporto? Somos pessoas de direitos iguais ou não? O hóquei não é uma modalidade diferente? Não a queremos melhor? porque não sermos também nós, pessoas diferentes e aceitar promovendo a igualdade de género, dando um exemplo de civilidade e de evolução como seres humanos que somos de plenos direitos e de oportunidades iguais.
A ti, Francisco, um abraço e continuação deste trabalho que se vai tornando cada vez mais importante, pois cada vez somos mais a visitar o teu Blog, procurando saber sempre mais um pouco a respeito do que se passa no hóquei, seja no Ribatejo seja onde for, pois o Cartão Azul chega a todos os continentes e ainda bem, pois ganha o hóquei em patins. E aproveito para desejar a todas as equipas ribatejanas, as maiores felicidades para as provas em que estão inseridas e que sejam cada vez mais fortes e que com isso aglutinem mais gente e mais atletas pois ganhará o Ribatejo e o hóquei em patins no seu todo.
Fotos: Blog "Europeu Feminino 2011"
A ti, Francisco, um abraço e continuação deste trabalho que se vai tornando cada vez mais importante, pois cada vez somos mais a visitar o teu Blog, procurando saber sempre mais um pouco a respeito do que se passa no hóquei, seja no Ribatejo seja onde for, pois o Cartão Azul chega a todos os continentes e ainda bem, pois ganha o hóquei em patins. E aproveito para desejar a todas as equipas ribatejanas, as maiores felicidades para as provas em que estão inseridas e que sejam cada vez mais fortes e que com isso aglutinem mais gente e mais atletas pois ganhará o Ribatejo e o hóquei em patins no seu todo.
Fotos: Blog "Europeu Feminino 2011"