Durante anos e anos, a modalidade que os portugueses mais apreciavam depois do futebol era, sem discussão, o hóquei em patins. E por mais estranho que isso, hoje em dia, possa parecer, no passado era uma constatação pacífica. Afinal de contas, um povo gostar do desporto em que o seu país obtém os melhores resultados internacionais é… normal.
Nunca pratiquei hóquei e para ser totalmente sincero devo acrescentar que só uma vez, creio que em Santo Amaro de Oeiras, tentei patinar. O resultado não foi famoso. Estimo ter estado menos de 5 segundos de pé. Mal desejei esboçar um movimento e “aterrei” no chão. Não precisei de segunda experiência para descodificar o sinal divino. Aquilo não era coisa para mim. Descalcei os patins… até hoje.
Mas, paradoxalmente, fui sempre um bom adepto do hóquei em patins. Mesmo tendo optado por jogar basquetebol e – num curto período – andebol, passei muitas manhãs de domingo no Pavilhão da Liga de Algés (clube que era uma referência ao nível da formação) a ver jogos dos vários escalões jovens. E por vezes, aos sábados à tarde, também espreitava os seniores na segunda divisão.
Era um seguidor tão atento do hóquei que, para além de não perder as poucas transmissões televisivas, acompanhava, de rádio colado ao ouvido, as jornadas do Nacional que decorriam religiosamente nas noites de sábado. Como aqueles relatos eram entusiasmantes! E para ajudar a essa emoção, convém salientar que os três grandes clubes cá da terra estavam sempre na luta pelos títulos.
Nessa altura, quando por vezes até chegava a “esquecer-me” de ir à escola para assistir, “in loco”, a umas partidas internacionais (ai se a Dona Emília lê isto…), não imaginava que, anos mais tarde, teria oportunidade de acompanhar de perto alguns dos feitos relevantes da modalidade. Mas foi isso que aconteceu. E entre outras vivências, recordo com satisfação ter sido um dos jornalistas de Record (juntamente com o meu camarada Vítor Ventura) presentes no último título mundial de seniores de Portugal. Foi em Oiveira de Azeméis, em 2003.
Gostar de uma modalidade não é suficiente para me fazer ignorar o que considero estar mal nesse desporto. Bem pelo contrário. E no caso concreto do hóquei em patins, nunca deixei de, junto de pessoas bem mais entendidas, lamentar a forma passiva como os dirigentes assistiam à perda de popularidade da sua modalidade. Os meus recados/alertas, porém, tiveram o mesmo destino que as propostas/recomendações de tantos outros que, ao longo dos anos, também se indignaram perante determinadas situações.
Contudo, se em Portugal, aqui e ali, ainda se vislumbram algumas pequenas tentativas dos responsáveis para tentar puxar a modalidade de novo para a ribalta, o que se passa nas instâncias internacionais é simplesmente inacreditável. Quem devia estar na primeira linha do combate pela evolução do hóquei em patins, aparentemente pouco faz por isso. Ou então até faz, mas com a particularidade de optar quase sempre pelas soluções erradas, revelando insensatez e falta de visão estratégica.
Quem assistiu, como eu, à meia-final do actual Mundial entre Argentina e Portugal percebeu, de imediato, o porquê do hóquei em patins ser, muito provavelmente, a única modalidade que, há décadas, não conhece evolução alguma. Qualquer dirigente internacional que tenha visto o jogo deve sentir vergonha. O que se passou em San Juan só contribuiu para o descrédito da modalidade. Com tristes espectáculos como este, dificilmente novas nações irão aparecer no hóquei ou as existentes reforçarão a aposta na modalidade.
Deixemos as questões de patriotismo de lado, mesmo assumindo que a Selecção Nacional realizou perante a equipa da casa a sua melhor prestação na prova. Quem viu o jogo percebeu, mal arrancou a segunda parte, que a Argentina tinha de ganhar e que, como consequência, Portugal teria de perder. E sendo assim, todos os expedientes eram válidos para assegurar esta “determinação superior”.
Um golo válido que não contou; faltas inexistentes que se transformaram em penáltis contra; infracções sofridas na área contrária que não foram assinaladas; livres directos a beneficiar a equipa da casa repetidos até a bola entrar; cartões azuis mostrados a pedido para deixar a equipa em inferioridade e um longo período de mais de 15 minutos sem ver os juízes sancionar uma falta aos adversários. Tudo isto aconteceu à equipa portuguesa, com o alto patrocínio de dois árbitros (?) que, num desporto com regulamentos a sério, arriscavam-se a nunca mais apitar uma partida.
Mas, sendo isto hóquei em patins, uma modalidade que tem nas suas fileiras os seus maiores adversários, nada vai acontecer. Para a próxima, poderá voltar a estar um juiz espanhol (com o seu país a ter assegurado minutos antes a qualificação para a final) a “escolher” o opositor do seu país para o embate decisivo ou um suíço a tratar de “encomendas”. E assim o hóquei vai continuar a definhar, a perder popularidade, a ser relegado para um plano inferior. Se ninguém o salva depressa, temo que o processo se torne irreversível. Infelizmente…
Por: Luís Avelãs / Record
Foto: Vestuarios
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