Em vésperas de ano olímpico, o hóquei, que persegue o estatuto especial sem sucesso há mais de uma década, mantém-se à margem e tem demasiados problemas para resolver antes de um dia pertencer à elite.
Alguns treinadores portugueses traçaram o diagnóstico, apresentando soluções. Carlos Dantas valoriza o investimento na promoção, acredita no poder do marketing, mas, antes de ir directo à sua teoria em torno da expansão ou lenta progressão do hóquei fora da Península Ibérica, Itália e San Juan, na Argentina, sublinha que "uma Coca-Cola só está onde há muitos praticantes para vender bem o seu produto". Assim, atira: "Os grandes clubes europeus de futebol não estão interessados no hóquei, porque esta é uma modalidade técnica que leva tempo a jogar a alto nível. Ao Real Madrid já lhe foi proposto e a resposta foi negativa, pois iam levar muitos anos até ganhar ao Barcelona e eles não querem." E a acutilância do treinador, que já foi campeão em Portugal e Itália, vai mais longe: "O azar do hóquei foi ter nascido em Inglaterra e não nos Estados Unidos, pois os americanos já o tinham transformado num desporto nacional". Para Dantas, "o hóquei está condenado a ser uma modalidade regional, como tantas outras".
"Não acredito na massificação da sua prática e defendo que se deve investir no fortalecimento das raízes. Ou seja, os que já jogam devem ser mais competitivos", diz, recordando: "Os ingleses já ganharam tudo, mas a II Guerra mudou-lhes as prioridades, enquanto os portugueses, que não entraram no conflito, desenvolveram o hóquei. Hoje, os países desenvolvidos têm muitas solicitações e bons empregos. As crianças aprendem música, por exemplo, não hóquei."
Concordando, e sem se preocupar com o carácter regional da modalidade, Paulo Freitas, treinador actualmente sem clube, tomando o exemplo do curling, localizado no Norte da Europa, diz: "Se este está na Eurosport, o hóquei também pode estar e, mesmo sem conhecer a realidade financeira da FIRS [Federação Internacional de Patinagem], arrisco-me a dizer que não está porque ninguém trabalha para isso. Existe um elevado défice de quadros, demasiado amadorismo e clientelismo. E enquanto o hóquei não for olímpico, não haverá investimento de grandes países. Há também por aí uns velhos do Restelo que têm medo que os Estados Unidos lhes roubem protagonismo". A concluir, Freitas sugere: "Se a Índia esteve no Mundial sub-20 em Barcelos, não seria um mercado a explorar? E o Brasil, que joga hóquei, não tem o Mundial de futebol em 2014 e os jogos em 2016 com dinheiro para investir no desporto? Deviam aproveitar para promover o hóquei, mas, embora haja aqui pequenos focos de investimento, a estrutura brasileira também é demasiado amadora para se lembrar de tal coisa."
P.C.M. in Jornal "O Jogo"
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