quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

JOÃO HENRIQUES EM ENTREVISTA AO "MIRANTE"...!!!

“Temos um projecto que visa dar continuidade ao bom trabalho de anteriores direcções e reorganizar o clube”

João Henriques é professor na Escola Jácome Ratton, em Tomar. É também um dos treinadores de futebol mais carismáticos do distrito de Santarém. Ambiciona chegar como técnico a uma equipa profissional. Mas, devido a uma lesão que o levou a uma delicada operação, resolveu fazer uma paragem na carreira de treinador. Paragem que foi aproveitada pelo Sporting de Tomar que o foi buscar para presidente da direcção. Aceitou o desafio e agora, em conjunto com um grupo de amigos, está a levar o clube tomarense para a frente, estando o projecto da nova sede praticamente concluído e o espaço pronto a ser inaugurado.
Como é que um jovem treinador de futebol surge à frente de uma direcção de um clube que é mais dedicado ao hóquei em patins? 
É um grande desafio. Foi uma situação inesperada, nada planeada. Surgiu após um apelo da anterior direcção. Os seus elementos estavam cansados e queriam sair. Falaram comigo e convenceram-me a procurar outros elementos para formar uma lista. Procurei as pessoas certas que aceitaram colaborar comigo, pessoas que nalguns casos já estavam ligadas ao clube como seccionistas do hóquei em patins e da patinagem artística. Aceitei e cá estamos a trabalhar em pleno. 
Numa altura de crise é uma grande responsabilidade assumir a presidência de um clube tão carismático?
Eu e todos os dirigentes que me acompanham temos consciência da responsabilidade que é dirigir um clube que já teve muitos directores de grande carisma e que vai a caminho de fazer um século de vida. Obviamente que é um legado muito pesado. Mas por outro lado todos acreditamos que podemos contribuir para continuar a desenvolver o clube e ajudá-lo a fazer cem anos de vida com grande dinamismo e actividade. 
Tiveram que ser rápidos a elaborar um projecto? 
Sim elaborámos um projecto rapidamente. Um projecto que passa por dar continuidade ao trabalho executado pelas anteriores direcções, que tem como principal objectivo terminar as obras na nova sede. Obras que estão quase prontas. Iiremos já fazer o jantar de Natal com todos os atletas, dirigentes e famílias, no espaço e contamos fazer a sua inauguração em Fevereiro do próximo ano. Por outro lado, estamos apostados em reorganizar o clube, avançando com a actualização da questão estrutural, organizativa e administrativa do clube. 
O clube não estava devidamente organizado? 
Estava, mas a nossa intenção é modernizar essa organização. Estamos a mudar de uma sede antiga para uma sede nova que está mais adaptada a uma série de coisas que queremos modificar. Queremos informatizar tudo o que for possível. Vamos fazer uma angariação de novos sócios. Vamos fazer a recuperação de sócios que se afastaram do clube. Vamos reestruturar sem descurar aquilo que é a imagem de marca do clube, o hóquei em patins, mantendo como objectivo equipas competitivas nas várias vertentes. 
Em termos desportivos a aposta é subir de novo à primeira divisão nacional? 
Não. Em termos desportivos a nossa grande aposta vai continuar a ser a formação, porque será o futuro do clube. É claro que não iremos deixar de apostar nos séniores e se a subida acontecer não vamos abdicar de dotar a equipa com as melhores condições possíveis de trabalho. 
A nível financeiro como é que vieram encontrar o clube? 
A anterior direcção deixou-nos uma herança normal. Não existe passivo, tivemos apenas de continuar a pagar as coisas do dia a dia. Pudemos começar a trabalhar sem sobressaltos. É preciso dizer que o trabalho realizado pela anterior direcção foi extremamente positivo, tinham tudo regularizado. 
O projecto sede é o grande desafio do vosso mandato? 
É, mas mesmo aí o trabalho da anterior direcção foi muito bom. Deixou-nos condições para continuarmos com o processo e avançar com a obra. Não é uma tarefa fácil, é preciso encontrar verbas com um valor elevado. Há ainda muitas coisas para fazer, mas no final acredito que vamos dotar o clube com uma sede de que se deve orgulhar. 
Para a obra tem sido necessário verbas importantes. Qual tem sido o apoio das entidades oficiais? 
Sim, as verbas gastas têm sido elevadas. Da autarquia recebemos o que tinha sido prometido para algumas situações pontuais que estavam acordadas com a anterior direcção. Estamos à vontade para dizer que a câmara tem cumprido com o que estava contratado anteriormente. Agora também sabemos que em relação ao apoio ao associativismo em 2011 o clube recebeu zero. 
O trabalho com as secções está a ser profícuo? 
Sem dúvida que sim. Uma das condições para avançar com uma lista foi a de ficar com alguns seccionistas do hóquei senior, juvenil e da patinagem artística na direcção. Isso aconteceu e passou a haver uma maior ligação direcção - secções. Hoje todas as directrizes são passadas pela direcção e cumpridas pelas secções. A ligação clube/secções é um facto que mostra a coesão dentro do clube. Este ano tratámos de organizar o jantar de Natal juntando toda família do clube.


“Se não houver bons princípios em casa dificilmente há bons princípios na escola”

Sendo professor há 16 anos, que análise faz do ensino? 
Tenho apanhado algumas modificações graduais. Nos últimos anos sinto-me mais desgostoso em relação ao ensino. Não representa bem a visão daquilo que eu acho que deve ser. Quando digo ensino refiro-me à educação. Tudo o que envolve pais, filhos e escola. Este triângulo não está a funcionar muito bem. Não estou muito agradado como as coisas estão a funcionar actualmente. 
De quem é a culpa? 
Todos têm culpa. Mas há uma coisa que considero importante. Se não houver um clima de trabalho agradável, dificilmente se conseguirá atingir o sucesso. E na escola, fruto de todas as mudanças, não tem havido um clima saudável. Há choques com os alunos e com os professores. É fundamental que se crie um bom clima e motivação, principalmente nos professores. Se eles não estão motivados as coisas ficam mais complicadas. Não quero dizer com isto que os professores são todos uns santos. Mas é preciso alguém pensar de uma forma diferente. Ver a floresta de cima, de um lado e do outro. O que está bem e o que está mal. Porque senão dificilmente as coisas terão outro rumo. 
Mas também há falta de opções de futuro? 
É verdade, um jovem quando chega ao 12º ano e olha em frente dificilmente vê uma saída de futuro. Esse é também um grande problema. Isso tem grande problema no empenho que os jovens têm. Habituados a grandes facilidades desistem facilmente. 
Como olha para os alunos de hoje? 
De uma maneira muito diferente da do meu tempo. Acima de tudo a vida é-lhes muito mais facilitada hoje mas vão pagar a factura mais tarde. O que mais me magoa e desgosta nestas questões da educação é a falta de responsabilidade, de educação, que se nota em alguns momentos, mas sobretudo a falta de empenho. Existe um certo laxismo na questão da educação. Toda a gente se preocupa com a nota que vai obter, mas ninguém se preocupa com aquilo que aprende. Vejo poucos pais preocupados em saber se o filho aprende ou não. Apenas a nota é que interessa. Agora se os conhecimentos estão lá ou não, isso é secundário. E esta visão tem modificado os alunos e por conseguinte as escolas e os professores e o seu próprio papel. 
Os pais passam a responsabilidade da educação para a escola? 
A escola jamais pode substituir os pais. Tem-se feito alguma confusão. A função do professor é acima de tudo ensinar. Se puder ensinar alunos com boa essência e bons princípios tudo se torna muito mais fácil. Mas se não houver bons princípios em casa dificilmente há bons princípios na escola. Não é um professor que vai resolver os problemas que não são resolvidos em casa. 
Como assim? 
Os pais têm hoje uma visão diferente. Os miúdos não sabem o que é viver com mais dificuldades, com problemas e ultrapassar obstáculos. Não sabem dar valor às coisas que têm nem conseguem admitir um não. Não estão preparados para a parte negativa. O serem preteridos. E isto não forma ninguém para a vida futura. Leva antes a uma falta de responsabilidade e de empenho. Digo sempre aos meus alunos: antes prefiro um aluno que quer e não pode do que aquele que pode e não quer. Da mesma forma que o digo aos meus jogadores.


“Já conquistei todos os títulos de futebol que se disputam no distrito de Santarém”

Onde é que fica a carreira de treinador de futebol? 
A carreira de treinador de futebol continua a ser a minha grande prioridade. Apenas resolvi fazer uma paragem para resolver um problema fisico que me apoquentou e tornou o final da época passada muito difícil. 
Quando é que começa realmente a sua carreira de treinador? 
Comecei em 1995 ainda na altura em que fazia o mestrado em metodologia de treino. Fui acompanhar uma equipa de futebol para fazer um relatório de acompanhamento. Foi-me dada a possibilidade de escolher uma equipa profissional, escolhi o Sporting e na altura Carlos Pereira era o técnico dos juniores, tive a felicidade de fazer esse acompanhamento. Ia só para ficar quinze dias, mas os responsáveis do Sporting gostaram tanto do meu trabalho que me convidaram a ficar e estive lá durante um ano. Foi a partir daí que se enraizou em mim a vontade de ser treinador de futebol. 
A sua estreia oficial não foi no Sporting? 
Não, comecei efectivamente como treinador a comandar a equipa de infantis do Atlético Clube de Portugal. A partir daí já não parei. 
Voltou ao distrito de Santarém. Por onde é que voltou? 
Voltei a Tomar e ao União. No Atlético não queriam que eu me viesse embora. Os dirigentes e pais dos atletas chegaram mesmo a propor-me o pagamento das viagens entre Tomar e Lisboa para eu continuar. Mas tinha sido colocado como professor na Escola de Santa Maria dos Olivais, em Tomar. E apostei em ficar na cidade e aceitei o convite do União. 
Quando é que apareceu o futebol sénior? 
No mesmo ano em que regressei a Tomar. Estava a treinar os infantis e o treinador dos séniores, o Mário Ruas foi vendo os meus treinos e fomos conversando e a determinada altura convidou-me para ser seu adjunto. Aceitei e passei a acumular o treino dos jovens com o lugar de adjunto do Mário Ruas. Fomos campeões distritais nesse ano. 
Foi a sua primeira subida ao nacional? 
Sim. Ficámos no União de Tomar até meio da época, altura em que o Mário Ruas se demitiu. Convidaram-me para continuar, não aceitei por motivos de solidariedade. Depois continuei como técnico no Riachense e em Abrantes, altura em que tive que parar porque estava a fazer o mestrado e não conseguia conciliar as coisas para fazer a viagem entre Lisboa e Abrantes. Algum tempo depois fui convidado para ser adjunto de Paulo Leitão em Fátima na Segunda Divisão Nacional. 
Quando é que efectivamente se estreou como técnico principal numa equipa sénior? 
Foi no ano seguinte. Fui com o Paulo Leitão para Rio Maior e foi na altura em que ele deixou os riomaiorenses que quase me obrigou a ficar à frente da equipa. Foi aí que comecei. Hoje digo que foi uma experiência muito positiva. Quem trabalhou com o então presidente do Rio Maior ganha uma escola muito grande. 
Nesta altura, depois de ter passado pelos melhores clubes do distrito, que balanço é que faz da sua carreira de treinador? 
Estou extremamente satisfeito com o trabalho que tenho desenvolvido. Consegui cumprir com os objectivos a que me propus. Já conquistei todos os troféus que se disputam no distrito de Santarém. Já treinei equipas nos campeonatos nacionais da segunda e terceira divisão. Fiquei sempre com as portas abertas em todos os clubes por onde passei. 
Apesar de trabalhar no futebol amador trata sempre as coisas de forma profissional? 
Tem sido isso que leva a que os clubes por onde passei continuem a manter as portas abertas para mim. Faço questão de fazer as coisas com a máxima seriedade e profissionalismo e por isso tenho tido algum êxito. Agora continuo a ter expectativas altas. Quero chegar ao futebol profissional. 
A vinda para a direcção do Sporting de Tomar teve alguma influência na interrupção da sua carreira como treinador? 
Não. A minha decisão de parar foi tomada em Junho na final da Taça do Ribatejo que vencemos. Falei com a direcção do Clube Desportivo de Torres Novas e resolvi fazer a interrupção. A decisão de vir para o Sporting de Tomar foi tomada em Outubro. Não teve nada a ver uma coisa com a outra.
O que é que o influenciou a tomar a decisão de parar? 
Foi a lesão que me apoquentou no final da época passada. Fui operado ao joelho e tive um final de época muito difícil. A segunda razão foi o facto de actualmente não me estar a identificar com a forma de estar de alguns agentes envolvidos no campeonato distrital. Sou um treinador muito exigente. Só consigo perceber o treino quatro vezes por semana com um grau de exigência muito elevado e com objectivos altos. Situações que os jogadores de hoje, com o dinheiro que não ganham, não estão para aí muito virados, preferem que as coisas vão mais devagar.

 
O menino que começou cedo a sonhar com a carreira de treinador de futebol

Falar de João Alexandre Nunes Henriques é falar de futebol. Hoje, com 39 anos, o ex-treinador do Torres Novas e recentemente eleito presidente do Sporting Clube de Tomar, apaixonou-se pelo desporto rei quando ainda era uma criança. Desses tempos recorda, com um brilho nos olhos, as tardes passadas nos treinos e jogos das camadas jovens do União de Tomar.

A “epopeia” começava logo a seguir à saída das aulas e só terminava à noite. “Hoje vejo que se calhar foi aí que tudo começou. Jogava à bola na rua e em tudo o que era sítio e depois no União de Tomar fazia-o mais a sério. Sempre vi esta actividade com grande paixão e entrega. Tinha o sonho de ser jogador e estar sempre ligado ao desporto e ao futebol”, revela João Henriques.

João Henriques foi fazendo carreira desportiva, conciliando sempre com os estudos. Licenciou-se em Educação Física pela Faculdade de Motricidade Humana. Antes estudou na escola Jacóm Ratton, que considera a “sua escola”, onde o professor João Henriques lecciona durante os últimos anos, num total de 16 ao serviço do ensino.

Ainda como estudante em Lisboa foi chamado para um estágio onde podia ter escolhido vários clubes. Escolheu o clube do seu coração, o Sporting Clube de Portugal. Aí deu-se a grande mudança na sua vida desportiva. “Senti que o meu futuro passava pela carreira de treinador e no Sporting deram-me condições para avançar e preparar-me para essa carreira. Fui para ficar um mês no Sporting e acabei por ficar um ano. Gostaram do meu trabalho e incentivaram-me a continuar”.

Frontal e ambicioso mas ao mesmo tempo humilde, o técnico tem consciência das suas capacidades mas recusa embandeirar em arco. Realismo e pragmatismo são características que lhe assentam que nem uma luva. Adora desafios e garante que quando abraça um projecto, seja ele qual for, é de corpo e alma. Se as coisas correrem menos bem, prefere levantar a cabeça e seguir em frente em vez de deitar a toalha ao chão.

Durante os últimos anos, João Henriques concilia o cargo de treinador das mais fortes equipas do distrito de Santarém com o de professor em Tomar. Todos os dias - excepto o de folga - o treinador João Henriques desloca-se de Tomar para o clube que treina na altura. Não é um profissional mas actua sempre como tal. “Para esta época resolvi fazer um interrupção como treinador de campo, mas não é definitiva, quero continuar e chegar ao futebol profissional”.

Surgiu então o desafio de presidir aos destinos do Sporting de Tomar. Hesitou muito, mas acabou por aceitar e conjuntamente com um grupo de amigos está a levar por diante um projecto que visa dar continuidade ao bom trabalho de anteriores direcções. “Estamos a reorganizar o clube e a terminar as obras na nova sede, mantendo o clube nos lugares de topo do hóquei em patins português”.

João Henriques é casado e com duas filhas, a Beatriz tem 9 anos e a Carolina com 5 anos, que às vezes cobram um pouco as ausências do pai. Cobrança que é atenuada pela esposa que, como ele, é também professora de educação física.

In Jornal "O Mirante"
Fotos: SC Tomar, Rádio Hertz e Jornal "O Templário"

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