sexta-feira, 14 de março de 2008

RAFAEL OLIVEIRA - O PORQUÊ DA MUDANÇA

Foi o próprio Rafael Oliveira que confirmou ao Cartão Azul, a sua saída de Santa Cita rumo a Alenquer. Fomos ter com ele para numa agradável conversa saber algo mais acerca da sua saída, os porquês, e quais os objectivos nesta nova aventura.
CA - Bom dia Rafael, obrigado mais uma vez pela disponibilidade, quais os motivos que te levaram a aceitar o convite do S Alenquer B?
RO – Bom dia para ti Francisco e para os visitantes do cartão azul, os motivos da minha aceitação são vários e o 1º é o apelo do clube que me criou como desportista e como homem também, depois porque já era a 4ª vez este ano, que este convite acontecia e depois pelo desafio que implica todo o projecto de intenções que me foi apresentado.
CA - Vais encontrar uma equipa que começa o Play Off B da 1ª Divisão em ultimo lugar com 6 pontos, a 5 pontos do 3º lugar que é a ultima posição que confere a manutenção. Não será á partida uma tarefa com contornos dificílimos, ou será um resto de época já a pensar na próxima?
RO – As duas coisas são verdade, em 1º lugar e ao contrário das notícias que foram divulgadas, infelizmente notícias são dadas sem as pessoas falarem com quem sabe, mas como dizia o objectivo principal é sem duvida começar a trabalhar num projecto que visa dar seguimento à formação do clube, pois como sabemos o Alenquer tem muitíssimos bons jogadores espalhados por vários clubes, porque não tiveram seguimento na sua equipa sénior ou porque não viam à distância essa possibilidade, coisa que agora vai ser diferente pois como se sabe para alem da reviravolta que o clube está a dar na formação, sendo o principal rosto o Bruno Monteiro, coadjuvado por mais técnicos e pelo staff directivo, existe a vontade de começar a estabelecer a ponte desses jovens de grande valor, uns que estão fora e outros que estão no clube, com os seniores, como tal e rentabilizando o facto de a equipa sénior ter atletas de grande carácter como o são um Tiago Roquete, um Miguel Dantas e todos os outros rapazes como o Dani, o Covas, o André, o Bábá, o Canelas, o Ivo e claro que o Bruno, tudo pessoas muito humanas e que irão ser fundamentais em todo este processo, de motivação, integração e de ajuda dos atletas mais novos, numa perspectiva de futuro, e foi nesta perspectiva que eu fui convidado, quanto á manutenção, temos de ser realistas, até porque o plantel já está a ser reformulado com a saída do Johe e do Chalupa, por isso será muito difícil conseguir transpor uma diferença pontual tão evidente, mas quem me conhece também sabe que eu luto até ao ultimo fôlego e faço questão de tornar cada jogo até ao final, não só numa final, mas também numa festa de hóquei onde os atletas e todos os agentes se revejam e se divirtam assistindo ao espectáculo maravilhoso que é o hóquei e claro que todos os jogos foram feitos para serem ganhos, não importa se conseguimos ou não ficar na 1ª, importa sim é que todos sejamos dignos de nós próprios e do clube que representamos, que sejamos dignos representantes de um clube de grandes tradições e que se habituou ao longo dos tempos a lutar para vencer, mas de forma digna, e isso sem duvida nenhuma irá acontecer, como é certo que lutaremos até ao final pela melhor classificação possível, ao fim faremos contas e veremos o que tudo isto nos dá, mas importa frisar que há valores prioritários que ultrapassam a própria manutenção na 1ª divisão.
CA - És o quarto treinador esta época no SAB, não achas que é sinonimo de alguma instabilidade no seio do clube, ou a tua escolha por parte da direcção sendo tu um “filho da casa”, é com intenções da acabar com a instabilidade e começar a alicerçar o futuro.
RO – Concerteza que também foi intenção do clube chamar alguém que reúna consensos e que torne este clube um só clube, com uma vontade una, representativa de todos sem excepção e a minha escolha também se prende com isso claramente, por outro lado como já disse atrás, o principal objectivo é preparar o futuro com alicerces sólidos o que com a contribuição de todos será conseguido.
CA - Deixas o Santa Cita no final da 1ª fase do Campeonato, onde o objectivo subida que foi assumido no inicio da época, não foi atingido, assumes a tua quanta parte de responsabilidade, ou foram outros factores que motivaram esse insucesso?
RO – Com certeza que sou responsável, como o seria se tivéssemos conseguido, também é verdade que houve factores estranhos e exteriores que contribuíram para esse insucesso, mas o principal factor foi alguma inoperância da equipa em momentos decisivos, essa responsabilidade de não conseguir finalizar quando tivemos oportunidades, a de sofrer golos em condições evitáveis, essa responsabilidade repito é só nossa, faltou alguma eficácia em momentos chave, portanto não o conseguimos porque não fomos capazes.
CA - A equipa foi construída a teu pedido com excelentes jogadores, o caso do Tiago, do Rui, do João Martins jogadores da casa e das mais valias, Nobre, Marco, David, Bruno Aires, com este leque de jogadores o que falhou?
RO – Isso é um profundo exagero, eu não pedi jogadores, nem escolhi jogadores para a equipa, houve dois atletas que foram comigo por vontade própria, porque entenderam que queriam trabalhar comigo, que foram o Marco e o David, o Marco um jogador com características muito próprias, mas que teve uma época para esquecer no ultimo ano no Entroncamento e havia que o recuperar para o colectivo poder usufruir do seu valor individual o que foi conseguido, porque soube fazer a diferença, o David, um jovem em plena fase de explosão, com muita margem de progressão, mas que ainda não encontrou o tempo certo para cada acção, saber andar em função da leitura que o jogo dá é uma coisa que vai aprender com o tempo e com as oportunidades que lhe possam dar para evoluir, porque senão corre o risco de se perder, como se perdeu o Zig, um jogador fabuloso mas que em função de resultados foi amputado em plena fase de desenvolvimento, depois acomodou-se e foi perdendo terreno, também por falta de rigor e de capacidade de exigir e motivar por quem com ele trabalhou, foi também ele recuperado para poder explanar todo o seu hóquei que é muito, o Nobre era um jogador que durante anos não jogava em Tomar, ou jogava muito pouco e isso reflectiu-se, porque tinha falta de confiança, estava preso, não tinha rotina de jogo, o que com muito trabalho veio a conseguir mudar consoante a época foi avançando, sendo hoje um jogador muito importante na manobra da equipa, o Bruno Aires não jogava em Ourém e por isso foi dispensado, em Santa Cita para poder jogar tinha de treinar como todos, não fazendo e criando mau ambiente, não estava lá a fazer nada e por isso saiu, mas se tivesse ficado, se quisesse trabalhar, tinha feito possivelmente a diferença e hoje estávamos claramente na 2ª divisão, até porque a presença dele influenciaria o João Martins pela positiva e teríamos também o João em forma o que só aconteceu em alguns jogos já na parte final, porque este sim foi um factor determinante, depois tivemos um Rui Oliveira que adorei conhecer, ser humano fabuloso, um verdadeiro capitão, um homem de quem eu nunca me vou esquecer, extraordinário no esforço, na luta , no querer, um verdadeiro exemplo e que melhorou muito também na sua performance enquanto jogador. Portanto é uma falsa questão e um exagero colocar-se a questão nos termos em que foi colocada o que aconteceu também noutras alturas.
Agora todos eles são pessoas fabulosas, nunca encontrei um grupo tão bom, tão unido e tão amigo como este, de facto o balneário do Santa Cita foi uma surpresa muito boa e uma prenda que vou guardar para o resto da minha vida.
Mas a realidade é que era um grupo que precisava de muitos ajustes e de muito trabalho para poder desenvolver o seu grande potencial, porque a falta de ritmo era gritante, os desequilíbrios desta equipa eram por demais evidentes, por isso sempre disse desde o principio que das 4 candidatas a nossa era a mais fraca, pois o BIR com os jogadores que vieram do Benfica, mais os que já tinha que são muito evoluídos e com ritmo de 2ª divisão estavam em vantagem. O Vilafranca a mesma coisa, a Lourinhã estava na 3ª mas recebeu jogadores como o Samuel da Física e o André Azevedo, um GR que fez toda a diferença enquanto lá esteve e ainda tínhamos os Tigres com uma equipa fabulosa e que fizeram um campeonato como fizeram, mas mesmo assim não tivemos medo de assumir a nossa vontade, mesmo sabendo das dificuldades, e lutamos muito para o conseguir, nenhuma equipa jogou o hóquei que nós jogámos, ninguém deu os espectáculos que nós demos, não foi por acaso que o pavilhão do santa cita tinha tanta gente a ver os jogos e muita dessa gente vinha de longe e de fora para nos ver jogar.Mas faltou-nos eficácia em determinados momentos, faltou-nos sorte noutros, jogámos mal noutros, enfim, acima de tudo éramos uma equipa normal, igual às outras mas com factores de desequilíbrio que outros não tinham, portanto se éramos candidatos e se andámos nos 1ºs lugares isso foi por mérito do nosso próprio trabalho enquanto equipa e mérito do clube que nos soube sempre apoiar e incentivar, não o conseguimos, parabéns ao BIR e ao Vilafranquense que souberam aproveitar melhor, fica-nos a consolação da excelente época, do excelente ambiente, que as pessoas todas em santa cita nos proporcionaram e fica um trabalho que já permite ao clube partir para este desafio que continua, com outras bases e outra competitividade que não tinha antes.
CA - Uma equipa candidata á subida e que liderou a tabela, não pode perder tantos pontos em casa, aliás foram esses pontos que fizeram a diferença toda, e foi esse o “handicap” para a classificação final?
RO – Pode-se dizer que sim, falhamos muitos golos nesses jogos e sofremos alguns golos impensáveis, ao falharmos tanto na finalização, demos oportunidade aos outros de se manterem na luta e isso saiu-nos caro, fomos dominadores, não tivemos um único jogo em que tivéssemos sido dominados pelo adversário, houve sim 3 casos em que adoptamos uma estratégia de falsa contenção, que nos proporcionou matar adversários com o mesmo veneno que eles usam por sistema, como foi o caso dos tigres em casa e da Lourinhã e o BIR fora, em que do ponto de vista da estratégia tudo funcionou, demos uma sensação de domínio ao adversário, soubemos esperar e matar na altura certa.
CA - Para terminar, vais levar algum atleta contigo neste nova aventura?
RO – Há atletas que eu gostaria de continuar a trabalhar, porque os conheço e eles conhecem o que eu pretendo do jogo, também pelo seu valor como pessoas e como jogadores, mas isso é uma coisa que neste momento não está em causa, há por aí vários atletas que eu acho que podem ter grande futuro, não só no santa Cita mas também no União do Entroncamento, quem sabe se alguém me vai acompanhar se for caso disso e se o clube para onde vou precisar? Mas para já é prematuro falar nisso, existem outras prioridades de momento, como deves imaginar.
CA - Obrigado Rafael, fica o espaço disponível para alguma mensagem que queiras deixar aos amantes da modalidade, ás gentes de Santa Cita e claro aos visitantes do Cartão Azul
RO – Aos amantes da modalidade, que vão aos pavilhões ver o hóquei, gritar pelas suas equipas, incentivar os atletas e a todos, que levem o primo do amigo da vizinha que leva o avô da tia do amigo, etc, que assistam e encham os pavilhões, que sejam activos na participação, mesmo que seja “atrás da baliza”, pois só assim o o hóquei em patins sobreviverá, só assim vêm os miúdos para a formação. Ás gentes de Santa Cita o meu obrigado, foram insuperáveis em tudo desde o primeiro dia, gente séria de palavra, gente amiga que nos trata como família, gente que sabe o que quer e para onde quer ir, gente que trabalha muito e se sacrifica pelo seu clube, gente que merece todo o respeito de toda a gente e principalmente daqueles que gostam de hóquei e sobretudo daqueles que são responsáveis por tremendas faltas de respeito a que este clube tem sabido sobreviver, lutando e tornando-se ainda mais forte, uma palavra de gratidão a todos e em particular ao Sr. Barroca da Cunha, por manter os sonhos vivos, os sonhos de um clube e de uma Aldeia do tamanho do Mundo, uma palavra de incentivo para o Miguel e para o Rui Pedro Cunha, de forma a darem continuidade e manterem esses sonhos bem ao alcance de quem os queira viver, a todos o meu obrigado, ao visitantes do cartão azul, que sejam sérios na abordagem e nos comentários que fazem do hóquei em patins, pois a modalidade merece isso e muito mais, que continuem a ser activos nas suas opiniões, que sejam construtivos e acima de tudo que vão para os clubes pois só comentar não chega, MAIS IMPORTANTE QUE FALAR É AGIR, É TORNAR REALIDADE AS NOSSAS IDÉIAS. Muito obrigado também para ti Francisco e que tornes este blog um caso sério para o hóquei, porque o hóquei precisa dessa seriedade.