terça-feira, 16 de outubro de 2007

RAFAEL OLIVEIRA - PARTE III

CA – Agora que falamos do estado actual da modalidade e deixando de parte a formação, como vistes a participação de Portugal em Montreux?
RO – Com tristeza, pois apesar de todos no fundo temermos um mau resultado, não se esperaria que o mau resultado fosse tão baixo, mas foi baixo, não porque a selecção estivesse mal preparada, foi mau porque a pressão foi muito alta, porque o que se exigia era o titulo Mundial, mas esqueceram-se as pessoas que para se conseguir um feito desses é preciso a conjugação de vários factores e eu posso perguntar por alguns desses factores que nunca estiveram presentes: tranquilidade para os atletas e técnicos poderem trabalhar, apoio incondicional de todos os agentes e quadrantes do país, ligados ao hóquei e ao desporto em geral, assim como tenho de juntar a isto uma grande destabilização provocada por algumas pessoas com responsabilidades mais que não seja morais na modalidade, e que mais não fazem do que atirar bombas de forma constante e cirurgicamente como se tivessem medo que alguma coisa de boa aconteça e que vá atirar para o esquecimento aquilo que o passado possui, mas que é isso mesmo, passado.
Também vi a necessidade de Portugal continuar a seguir de uma forma muito firme uma linha que traçou e vem executando, embora ainda sem resultados visíveis, mas que lá estão, não se pode perder a coragem nem a paciência, quando se acredita num trabalho, esse trabalho não pode ser abalado por meia dúzia de pessoas que mais não faz que dizer mal, mas dizem mal de forma gratuita, sem serem capazes de dizer o que está mal e o que poderia ser feito para melhorar, é um vazio de ideias completo, gente que só se preocupa com a selecção principal, esquecendo-se e ignorando por completo o que de bom vem a ser feito de raiz ao nível das selecções, é bom lembrar que as selecções jovens à muito não tinham capacidade para discutir títulos com espanhóis e italianos, hoje estamos outra vez nas finais, fortes a dominar e a vencer, nos últimos 2 anos já conseguimos vencer o Europeu de juvenis em Quimper à Espanha, vencemos o Europeu de juniores à Espanha em Santander, portanto na sua própria casa e fomos vice campeões da Europa em juvenis em Sesimbra, mas perdemos a final com a Espanha à custa de uma verdadeira chouriçada dos Espanhóis, que no final reconheceram sem margem para duvidas e com uma humildade que muitas vezes faz a diferença, que Portugal tinha melhor equipa, que em jogo pelo jogo não tinham argumentos e por isso resolveram tentar a sorte com um remate de longe que fosse desviado ou que desse para uma 2ª bola, a realidade é que Portugal está outra vez na disputa, nos escalões mais jovens, fruto de um trabalho bem planeado e bem executado, que faz parte de um projecto que existe, é palpável e tem pernas para andar, mas como tudo na vida, precisa de apoio de todos sem excepção.
Concluo dizendo que o resultado de Portugal em Montreux, serviu para que alguns acordem e se deixem de baboseiras, pois ninguém ganha nada à sombra de títulos ou glórias do passado, e todo o sucesso que se possa vir a alcançar no futuro, nunca aparecerá por acaso e muito menos por fruto de um qualquer iluminado, que chegue a seleccionador, estale os dedos e está ganho, porque é importante que se perceba que o problema de Portugal não começou depois de Oliveira de Azeméis, porque é muito fácil dizer que Portugal não ganha o Mundial à 4 anos, só diz isso quem está desatento ou quer tapar o sol com a peneira, é bom lembrar que Portugal só ganhou um Mundial em 13 anos e que para o ganhar teve de o organizar em casa, que fez exibições péssimas durante essa prova e que ganhou a final aos italianos nos últimos segundos do prolongamento com uma jogada individual feita por um jogador como hoje já não há, pois mesmo o Pedro que nessa altura teve essa capacidade hoje já não a tem., portanto é bom que se acorde e se valorize o que de bom está a ser feito, melhorando o que houver para melhorar, mas acima de tudo que se unam tudo e todos para um objectivo que é Nacional.
CA – Achas que a saída de Paulo Batista é a solução, ou a solução passa também pela própria FPP, ou seja remodelação e reestruturação a nível de dirigentes e corpo técnico e a própria estrutura federativa?
RO – A saída do Paulo acaba por ser uma consequência do que de mau se passou neste ciclo que terminou no Mundial de Montreux, foi desagradável para todos, mas acredito eu que tenha sido também o melhor para ele e para a FPP, dado o desgaste causado pela má classificação, agora também acho que o valor do Paulo enquanto técnico de valor reconhecido, ficou intacto. Se foi a melhor solução, o tempo o dirá, mas também acredito que quando se tomam decisões a este nível, pretende-se sempre e de forma inequívoca o melhor para as selecções e o melhor para Portugal e nesse aspecto tenho total confiança em quem dirige, veja lá o que era cada vez que uma empresa, uma instituição ou mesmo um governo falhasse numa estratégia se fossem todos demitidos ou se demitissem, não fazíamos outra coisa se não marcha trás e se as coisas já estão difíceis então ainda seriam piores, mas a esse respeito reafirmo que existe projecto e merecedor de confiança, no fundo é isso que falta um voto de confiança e de paciência que ajude as pessoas a manter a serenidade para que o trabalho que estão a fazer possa dar frutos de maneira sólida e sustentada e não de forma abrupta e sem raízes e que no futuro venha a redundar no mesmo que aconteceu em 2003, em que se conseguiu um título baseado em nada e por isso o que veio a seguir foi uma travessia no deserto em cima de uma que se estava a fazer e que está agora a ser colmatada com resultados promissores e títulos na base, coisa que não acontecia à muito e que nos dá garantia de que podemos melhorar no futuro, por isso não aprovaria uma saída extemporânea dos actuais dirigentes porque o que viria a seguir era o marasmo, a anarquia a falta de ideias e verdadeiros desfiles de vaidades e de vaidosos e de penetras, que de positivo para o hóquei só deram o seu contributo enquanto jogadores e porque foi no tempo das vacas gordas e em que tudo era um pouco anárquico e porque Portugal tinha nessa altura influência nos centros de decisão, mas o que é certo é que durante anos não se pensou no futuro e esses que o hipotecaram querem agora num estalar de dedos que tudo aconteça, ou não querem, porque cada vez mais, penso que há muito quem armadilhe e faça pressão constante para que as coisas não corram bem e poderem com isso fazer um assalto ao poder, e para fazerem o quê? Perguntem-lhes qual o projecto, o que têm para fazer do ponto de vista estrutural e organizacional, é que a Federação não é só a selecção principal que é só o que alguns vêem, ponham os olhos nos Espanhóis e na sua estrutura federativa e técnica e depois vejam se o que eles fazem é diferente do que faz a nossa DTN, claro que não, o que difere realmente são os meios à disposição e a mentalidade das pessoas, que mesmo que tenham diferenças resolvem-nas de forma construtiva e sempre em favor da sua causa, não é como cá em que o principal inimigo de Portugal são os próprios portugueses com a sua mesquinharia e vaidade caquéctica fazendo-se passar por aquilo que já não são, não deixando trabalhar em paz quem quer trabalhar e tentando impedir que se ganhe o que quer que seja, comportamentos dignos de verdadeiros traidores à pátria que noutros tempos tinham penalização adequada, a esses o desafio que faço é: MOSTREM O SEU PROJECTO, MOSTREM EM QUE É QUE SE PROPÔEM A FAZER MELHOR E COMO, NÃO SE RESUMAM À INSIGNIFICÂNCIA DE COMENTÁRIOS VAZIOS DE CONTEUDO E QUE NÃO LEVAM A LADO NENHUM, NÃO BASTA DIZER QUE É MAU, TEM DE SE PROVAR SER CAPAZ DE FAZER MELHOR, COMEÇANDO POR APRESENTAR IDÉIAS MELHORES, NO DIA QUE ISSO ACONTECER EU MUDO DE OPINIÃO, ATÉ LÁ CONFIO E APOIO QUEM ESTÁ, PORQUE CONHEÇO A SUA SERIEDADE E A SUA VONTADE DE OBTER O MELHOR PARA PORTUGAL, ASSIM COMO CONHEÇO E RECONHEÇO A QUALIDADE DO SEU TRABALHO, DEIXEM AS PESSOAS TRABALHAR QUE OS RESULTADOS APARECERÃO NATURALMENTE E DE FORMA CONSISTENTE E NÃO POR OBRA DO ESPIRITO SANTO.
CA – Na tua opinião o que faz falta ao hóquei para voltar a ocupar o lugar que é seu por direito, em virtude de ser uma das modalidades que mais títulos trouxe ao nosso pais?
RO – Faltam essencialmente apoios e faltam pessoas qualificadas na base, a trabalhar com a base e essa também é uma consequência da falta de apoios, depois falta por esse motivo a obtenção de resultados, mas antes disso falta algo que a meu ver tem de ser mudado urgentemente, que são as regras que atrofiam o jogo e consequentemente o espectáculo, coisa que em breve terá alterações interessantes a bem do hóquei, por outro lado quando se conseguir consolidar estes componentes do espectáculo desportivo e deslumbrante que é o Hóquei em Patins, poderemos ambicionar a que alguma grande marca se associe à modalidade e com isso darmos o salto que falta dar, por outro lado adaptar a modalidade às novas tecnologias dará a possibilidade dos média terem outra capacidade de ir ao núcleo da modalidade e aí contribuírem eles também para um espectáculo que se deseja e se necessita, pois a realidade é que se queremos títulos mundiais e europeus em modalidades colectivas, coisas tão vitais até para a auto estima do cidadão português, há que apostar onde temos hipóteses de o conseguir e sinceramente não vejo outra modalidade com possibilidades tão fortes como a nossa, porque a glória de ser quem mais títulos tem, por enquanto ainda é nossa, vamos então trabalhar para a manter e torná-la ainda mais forte.
CA – Se uma grande multi-nacional tipo Coca-Cola, ou outra de igual dimensão pegasse na modalidade e a projectasse, achas que as pessoas começariam a olhar o hóquei de outra maneira, ou ficaria tudo na mesma?
RO – No fundo seria um sinal de que muito tinha mudado, principalmente ao nível do espectáculo, portanto nada seria igual, mas ainda sobre o espectáculo, queria deixar aqui um ponto de vista que considero importante, que é o facto de os treinadores se reunirem e trabalharem entre si uma ideia que quanto a mim pode ter grande relevo no desenvolver da modalidade e na componente espectáculo, que seria começarmos todos a privilegiar as tácticas ofensivas em vez das tácticas defensivas, pois ninguém pode esperar que com tácticas tão defensivas e consequentemente resultados tão curtos e muitas vezes nulos o publico e as televisões e por sua vez as marcas se venham a entusiasmar e a participar de forma mais activa, é que hoje em dia há jogos de hóquei que são um verdadeiro tédio e muitas vezes entre equipas que têm excelentes jogadores com capacidades técnicas muito altas, por isso afirmo que também aqui temos de fazer uma opção, que se quer séria e corajosa, porque senão houver espectáculo não há publico, se não há publico não há pais a levar os filhos, logo não há novos praticantes e a modalidade acaba, portanto as marcas e os média são só uma parte do problema.
CA – O facto do hóquei ser praticado em poucos países, e a luta pelo titulo cingir-se sempre a dois ou três candidatos, aliado ao facto de a televisão achar que a nível de directos não ser um desporto viável (a ver pelos resultados dos shares publicados durante o ultimo mundial), está a contribuir para a modalidade estar numa fase menos visível?
RO – Quantos Países normalmente discutem a final do mundial de futebol? E do mundial de basquetebol? e de futsal? Isso não serve de desculpa nem é motivo, nem os resultados de shares são desculpa, pois os melhores resultados de audiências até hoje em modalidades que não o futebol continuam a ser do hóquei em patins, agora se derem os jogos à mesma hora de jogos de futebol e se a componente espectáculo não melhorar, é complicado melhorar o que quer que seja e muito menos a visibilidade, por isso não me admira embora tenha de ficar confuso com o facto de se dar relevo da maneira que se deu a participações Portuguesas, onde numa modalidade o objectivo é levar menos de 100 em determinados jogos e mesmo assim não conseguiram atingir esse objectivo, noutra ter ganho um jogo foi um acto do outro mundo, todos foram considerados heróis e prometeram-lhes dar-lhes mais condições dados os “excelentes” resultados alcançados, já não falando no que se gastou antes das participações, enquanto que no hóquei em patins a nossa equipa de seniores femininos ganhou a medalha de bronze, sabendo-se que a modalidade na vertente feminina em Portugal ainda é pouco competitiva e que no Euro fomos extremamente prejudicados, o que só valoriza ainda mais a medalha de bronze alcançada, e que noticia de destaque teve este feito? Uma medalha de bronze já de nada vale num País como o nosso? Em Espanha valorizou-se muito a medalha de prata da sua selecção e foram heroínas porque ganharam 2-1 a Portugal em sua casa no seu ambiente com tudo a favor, o único consolo para estas jovens guerreiras lusas de quem nos devemos orgulhar é que pelo menos já não disseram mal delas como fizeram antes da partida para o Euro e enquanto elas se preparavam, pelo menos alguma coisa mudou, percebes Francisco porque é que as coisas são tão difíceis de alcançar?