quarta-feira, 31 de outubro de 2007

ENTREVISTA DA SEMANA

Forte presença no banco, disciplinador e profundo conhecedor da modalidade, começou como preparador físico da equipa sénior dos “Tigres de Almeirim” no ano de 1994, passando pelo Sporting de Tomar e Centro Desportivo de Fátima sendo mais tarde um dos responsáveis pelo aparecimento do hóquei em patins na Gualdim Pais em Tomar. Passou pelo União Futebol Entroncamento onde foi campeão distrital e assegurou a manutenção das suas equipas nos nacionais, rumou a Almeirim onde além dos escalões de formação foi o responsável pelo escalão sénior do clube. Após esta ultima experiência abandona o hóquei e segue para treinar/ensinar os jovens do CLAC a dar as suas primeiras braçadas e consolidar a sua adaptação ao meio aquático. Foi nas piscinas Municipais do Entroncamento que o Cartão Azul foi encontrar Barros Simões para uma agradável conversa.
CA – Boa noite, o que é feito do Barros Simões treinador de hóquei que nos habituamos a ver por esses pavilhões fora?
BS – O Barros Simões que muitos conheceram como treinador de hóquei continua a existir estando no entanto neste momento inactivo por opção própria porque os convites para reiniciar a minha actividade como treinador têm existido quer ao nível da formação como da competição. Talvez não sendo do conhecimento de muito daqueles que privaram comigo durante o período em que tive envolvido no hóquei em patins eu sempre mantive outra actividade desportiva nomeadamente a natação na sua vertente formativa (ensino) sendo essa actividade aquela que me ocupa neste momento todo o tempo.
CA – Um treinador disciplinador e com um excelente curriculum a acompanhá-lo, ao abandonar a modalidade, deixa-a mais pobre a nível técnico/táctico. Para quando o regresso, se é que haverá regresso?
BS – Não sei se o meu abandono deixou a modalidade mais pobre a nível técnico/táctico, o que posso garantir é que enquanto treinador/formador durante o período em que estive envolvido com a modalidade sempre primei pela responsabilidade, empenhamento e dedicação para que o meu trabalho fosse avaliado positivamente por quem de direito e que todos aqueles que me tiveram como treinador, quer dos mais novos aos mais velhos conseguissem apreender novos conceitos tácticos, desenvolvessem a sua cultura táctica de jogo e nomeadamente assumissem o jogo com desportivismo respeitando sempre o adversário, no fundo respeitarem os outros para que possam ser respeitados. Em relação a um possível regresso nada poderei dizer de concreto adiantando no entanto que continuo a gostar muito do hóquei em patins e que a porta não esta fechada mas sim encostada podendo ser reaberta a qualquer momento.
CA – O que leva uma pessoa que respirava hóquei por todos os poros, abandonar assim de um momento para o outro a modalidade e sem praticamente aviso prévio?
BS – Como é do conhecimento da maioria das pessoas eu nunca foi praticante da modalidade e talvez por esse facto seria difícil alguém acreditar que eu poderia ser um bom treinador de hóquei, no entanto eu procurei encontrar uma forma de começar a perceber a modalidade, e esse respirar de hóquei foi conseguido através de muita observação, nomeadamente de jogos realizados pelo Sporting de Tomar quando este se encontrava na primeira divisão e inclusivamente na observação de muitos treinos ministrados na altura por Jorge Vicente e também por muita leitura de documentos relacionados com a modalidade. Todo este saber acumulado contribuiu para que eu pudesse desenvolver um trabalho que foi sendo reconhecido por diversos clubes passando pela formação até a competição sénior e terá sido ai que este ciclo de envolvimento com a modalidade chegou ao fim, e como o meu ultimo envolvimento foi com uma equipa sénior terá dado a ideia de que eu deixei o hóquei sem dizer nada a ninguém até porque, a relação que as pessoas faziam da minha pessoa com a modalidade era quase sempre com escalões jovens, dai talvez a minha saída da modalidade não tenha sido assim tão prematura mas talvez o chegar ao final de um ciclo de envolvimento com o hóquei em patins.
CA – Que recordações positivas e negativas ficaram da passagem pela modalidade?
BS – Será sempre ingrato estar a fazer referencia a situações positivas ou negativas, mas não posso deixar de dizer a satisfação que sinto em verificar que depois de tantas dificuldade que tive em desenvolver um projecto inicial para o aparecimento do hóquei em patins na Gualdim Pais culminar depois de alguns anos com o aparecimento de mais uma equipa sénior no nosso distrito, assim com, os tempos em que estive no União do Entroncamento a trabalhar com um conjunto de atletas fabulosos (Iniciados e Juvenis) que me permitiram grandes sucessos desportivos e valorização profissional quer a nível regional como nacional. A referencia mais negativa não tenho duvidas nenhumas em dizê-lo, foi que, com o passar dos anos a realidade de um treinador quer nos escalões de formação ou competição passava por ter que treinar com quatro, cinco atletas por treino o que convenhamos não é de todo normal para quem quer desenvolver a todos os níveis um trabalho sustentado, objectivo e estimulante.
CA – O Gualdim estreou-se na 3ª divisão nacional em seniores, tendo sido um dos clubes que treinou e penso que alguns dos jogadores do plantel foram seus atletas, o que lhe apraz dizer?
BS – É com grande satisfação e orgulho que verifico que o trabalho, os sacrifícios e a grande força de vontade de todos aqueles que estiveram envolvidos no projecto inicial da Gualdim Pais, e isso aconteceu no ano de 1996, conseguiu criar raízes muito fortes nas crianças na altura, e passado 10 anos algumas dessas crianças agora já adultos continuam a ter a mesma vontade a mesma satisfação em representar o Clube que os viu nascer para a modalidade, como se costuma dizer em gíria desportiva “é o amor á camisola” o que é muito difícil de encontrar nos dias de hoje.
CA – Dos atletas que treinou no União, actualmente só o Rui Alves, Pedro Brazete, continuam em actividade, jogadores como o Daniel Pires, Catarino, Sapateiro, Velez entre outros abandonaram a actividade. Será reflexo do estado actual da modalidade, ou será que a mesma necessitava de ser redimensionada para colmatar o conflito universidade/desporto para quem vive no interior e tem de sair da sua terra para ir estudar?
BS – O facto da maioria dos jovens jogadores não darem continuidade a sua carreira desportiva no escalão sénior estará sempre associada a necessidade desses jovens começarem a dar prioridades a sua vida e como é bastante fácil de perceber a formação académica na maioria dos casos sobrepõem-se sempre a continuação da formação desportiva, e será uma utopia pensar-se que a modalidade se irá adaptar a essa realidade. Não tenho duvidas nenhumas que existem excepções, mas isso depende muito da força de vontade de cada atleta e em especial do gosto pela modalidade, ou de um grande sacrifício entre a obtenção do sucesso académico com a pratica desportiva e essa simbiose por vezes não é fácil de acontecer e não nos podemos esquecer que a passagem para o escalão sénior representa maior responsabilidade, nomeadamente o numero de treinos aumenta significativamente e a condição física necessária para a pratica do hóquei em patins requer um trabalho continuo e sustentado, não acreditando que modalidade esteja sensível a estes problemas nem tenha num futuro próximo mecanismo para os resolver.
CA – De entre os clubes que representou, qual lhe proporcionou melhores condições de trabalho, projecção desportiva, e obtenção de resultados?
BS – Durante os anos em que estive envolvido com a modalidade sempre tive o cuidado de transmitir a quem de direito as necessidades mínimas para se realizar um trabalho condigno, e para conseguir alcançar esse resultado sempre tive ao meu dispor as condições necessárias, mas como sou exigente comigo próprio procurei sempre alcançar as melhore condições de treino para obter determinados objectivos, e não querendo esquecer os outro clubes por onde passei, seria ingrato da minha parte não referenciar o clube do União do Entroncamento, como sendo o clube onde consegui alcançar os melhores resultados desportivos da minha curta carreira como treinador.
CA – Muitos treinadores queixam-se durante a época que lhes falta o “background” necessário por parte da direcção. Alguma vez sentiu isso?
BS – Para ser sincero não tenho razões de queixa em relação ao apoio prestado pelas diversas direcções dos clubes por onde passei para poder desenvolver o meu trabalho, claro que nem sempre foi possível satisfazer algumas necessidades, mas com menor ou maior dificuldade essas necessidades eram ultrapassadas com a vontade e dedicação de todos os intervenientes no processo de resolução dos problemas. Isto talvez porque eu quando iniciava um projecto fazia questão de reunir com elementos da direcção e ai colocar algumas condições quer de trabalho quer de acompanhamento do grupo que eu iria treinar. Como exemplo posso dizer que raramente começava um treino sem estar presente no mínimo um elemento da secção do escalão que iria iniciar o treino na altura.
CA – Enquanto treinador dos Tigres, fazia diariamente ou quase diariamente mais de 100 km para treinar/jogar, o que o movia, o amor á modalidade ou ter encontrado em Almeirim uma base para um projecto com cabeça tronco e membros?
BS – Talvez na vossa pergunta falte a parte da gratificação monetária, porque na opinião de muitos os treinadores vão para onde essa gratificação for maior. Não escondo que sou da opinião que quando o trabalho de um treinador é reconhecido e algum clube quer obter os seus préstimos esse trabalho deve ser valorizado, mas como é óbvio não existe nenhum clube no distrito que possa valorizar de uma forma real esse trabalho. A minha ida para os Tigres de Almeirim em primeiro lugar nada teve haver com melhores gratificações monetárias como potencialmente muitos possam pensar, porque na altura eu estava a treinar no União do Entroncamento equipas que participavam nos campeonatos nacionais, e essa participação estava incluída num ciclo que iria ser concluído, entretanto foi-me proposto um novo desafio, nomeadamente vindo dos Tigres de Almeirim, e esse desafio englobava a formação e a possibilidade de treinar uma equipa sénior, e sendo um convite findo do clube onde comecei para a modalidade, assim como os objectivo apresentados serem muito interessantes, nomeadamente a possibilidade de poder efectuar um trabalho na formação que mais tarde poderia ser transferido para a equipa sénior que julgo ser este o método mais correcto para que um clube possa manter a sua sustentabilidade competitiva, acabei por aceitar o convite independente da distancia que tinha de percorrer diariamente para treinar as diversas equipas que tinha á minha responsabilidade.
CA – Como vê neste momento a modalidade a nível de formação, e a nível de seniores no Ribatejo, se é que continua a acompanhá-la?
BS – Na minha opinião a formação será sempre o alicerce para que, mais tarde se consiga um bom desempenho competitivo ao nível do escalão sénior, agora como é que se consegue uma boa formação, com muita dedicação, empenhamento e sacrifícios, porque sem estes atributos não chega termos ao nosso dispor um grande numero de praticantes para se poder dizer que temos uma boa formação, ou seja para quem quer uma boa formação deve preocupar-se em encontrar alguém que se dedique de uma forma efectiva e consistente, e sinceramente não sei se actualmente os clubes se preocupem muito com esse aspecto. Em relação ao escalão sénior não poderei dizer grande coisa porque normalmente o objectivo é ganhar e para se ganhar temos de ter os melhores jogadores e o melhor treinador e será sempre esse o objectivo principal de todos os clubes que tenham equipas seniores.
CA – Estando agora ligado á natação uma modalidade bem diferente do hóquei, em que ponto as mesmas se tocam?
BS – É muito difícil efectuar um paralelismo entre as duas modalidades, porque desde logo uma é colectiva a outra é individual, uma utiliza o meio aquático outra o meio terrestre sendo também os seus objectivos completamente distinto. Talvez por serem tão diferentes eu tenha optado por me manter directamente envolvido com a sua pratica e na ausência de uma existe sempre a outra, não sendo na minha opinião muito fácil de encontrar pontos de convergência entre ambas.
CA – Até que ponto a experiência adquirida ao longo dos anos em que esteve ligado ao hóquei, lhe trouxe dividendos para esta nova experiência, ou então até que ponto a natação lhe pode dar traquejo para um eventual regresso ao hóquei?
BS – Ambas as modalidades requerem muita dedicação. É muito difícil alguém conseguir transportar de uma modalidade para a outra, entre outros aspectos, esquemas de treino ou envolvimentos tácticos, agora em relação as necessidades pedagógicas aos conhecimento técnicos essas necessidades são comuns a todas as modalidades e serão estes aspectos que iram condicionar o sucesso ou insucesso do trabalho do treinador/formador.
CA – Bem resta-me agradecer a disponibilidade, e o espaço fica á disposição para alguma mensagem que queira deixar aos visitantes do Cartão Azul
BS – Desde já um muito obrigado por terem a amabilidade de me efectuarem esta entrevista, nunca esquecendo a importância que o hóquei em patins tem para mim, assim como da grande importância que tem a existência de um espaço como o vosso para que toda a família hoquista possa dialogar, comentar e consultar todo sobre hóquei. Gostaria de deixar o alerta para quem de direito que o hóquei em patins é uma modalidade muito especial para a maioria dos portugueses e que a mesma deve ser defendida, acarinhada e apoiada e não o contrario como vem acontecendo com alguma frequência.

9 comentários:

Anónimo disse...

Pode ter a certeza Sr. Barros foi dos bons treinadores que passou por Almeirim, como adepto e sócio dos Tigres, desejo-lhe as maiores felicidades e espero voltar a vê-lo por estes lados.

Anónimo disse...

Concordo plenamente consigo adepto dos Tigres, o Barros com a sua atitude, a disciplina que punha nos jogos e nos treinos, os seus conhecimentos fizeram com que as equipas que treinou no União, praticassem hóquei sempre em bom nivel e fossem equipas respeitadas pelos adversários. Gerou amor e ódio nos adeptos do clube, o que prova que os seus jogos eram acompanhados por muitos adeptos, uns para aplaudir, outros para criticar.
Eu pessoalmente gostei de o ver como treinador do União.

Anónimo disse...

Bom treinador sim senhor, e penso que os clubes por onde passou devem-no ter como uma das pessoas válidas que passou pelos seus quadros técnicos.

Anónimo disse...

Quem não se lembra dos seus gritos que entoavam nos pavilhões, incentivando, corrigindo os atletas durante os jogos e os treinos.

Anónimo disse...

Volta ao União Barros.

Anónimo disse...

Queria deixar aqui, via cartão azul, um cumprimento especial ao mister Barros Simões, reforçando o desejo de grandes sucessos, tanto pessoais como profissionais. Agradeço também ao Sr.Gavancho, pela existência do cartão azul, que permite momentos como este, de recordação de tempos de grandes alegrias e conquistas. Foi realmente um enorme prazer trabalhar com o Mister Barros, e ter suado aquela camisola, ao lado de todos aqueles que desde puto aprendi a admirar.
Cumprimentos a todos desde longe...

Anónimo disse...

Um grande abraço para o Prof. Barros do amigo Cajé. São pessoas como este homem que fazem falta ao hoquei do nosso distrito.
Um grande abraço tb para o Dani.
Cajé

Anónimo disse...

Já estão a fazer a cama ao Frenando Vaz... sei que este comentário não vai se publicado mas não posso deixar de o escrever....

Anónimo disse...

Ao Fernando Vaz porquê?