terça-feira, 6 de maio de 2008

FERNANDO VAZ - A ENTREVISTA

Pegou na equipa de juniores do União no início da época, depois de na época passada ter levado o Santa Cita a disputar à liguilha de acesso á 2ª divisão. Era o retorno de uma pessoa da casa, e com a experiência necessária para desenvolver um trabalho válido e com futuro. Debateu-se com inúmeros problemas a nível de atletas, desde abandonos motivados por lesões e outros por motivos que onde não foi perdido nem achado, dentro dessas limitações consegue ser vice campeão distrital com uma equipa formada maioritariamente por juvenis, e quando tudo apontava para um final de época já com olhos na próxima, preparando a equipa no decorrer do Torneio das 4 Regiões, acaba dispensado por razões que o Cartão Azul irá tentar saber, assim como os projectos para o futuro. Fomos encontrar Fernando Vaz no Entroncamento e foi com ele que tivemos uma agradável conversa.
CA – Boa noite Fernando, em primeiro lugar quais os motivos que foram alegados para seres dispensado do comando técnico dos juniores?
FV – Esses motivos já foram expostos num esclarecimento que fiz aqui no Cartão Azul, e como disse no mesmo, esse assunto está acabado para mim. Acho que acima de tudo houve muitas influências negativas, informações erradas e falsas.
CA – Tivestes uma época inconstante, recheada de episódios, desde lesões, a abandonos sem motivos aparentes, ou pelo menos nunca te foram comunicados, mesmo assim contra ventos e marés, consegues ser vice campeão. O que te apraz dizer em relação a esta época como treinador dos juniores do União?
FV – Em conversas que tive com o presidente do clube, os objectivos desta época eram o de trabalhar o melhor possível para que na época a seguir se começasse a colher os frutos desse trabalho. A época até começou a correr bem, com algumas dificuldades a nível organizativo, mas nada que me levasse a pensar negativamente. Apanhei uma equipa muito desorganizada, sem hábitos de trabalho rigorosos e muito indisciplinada ao nível do treino. Foi preciso muito tempo para que eles percebessem que tinham de levar os treinos mais a sério e com outra atitude, para que nos jogos as coisas se tornassem mais fáceis. Esta equipa, quanto a mim, perdeu uma peça fundamental que foi o Nuno Gavancho. Era um GR com muitas qualidades e com uma certa experiência e quem anda no Hóquei sabe que um bom GR é mais de meia equipa. Não quero com isto tirar o mérito ao Rodrigo, que para mim é o jogador revelação desta equipa por tudo o que trabalhou e evoluiu (só é GR à 8 meses), mas o Nuno dava outra segurança. Apesar disso, acho que esta equipa podia e deveria de ter feito mais e melhor. Tanto eu como os atletas, em conversa, tivemos a mesma opinião.
Trabalhei com aqueles que realmente gostam da modalidade, que se esforçaram, que mostraram que estavam com o grupo de trabalho e com o clube e mais não podia pedir. Havia acima de mim uma pessoa responsável por esses assuntos e a quem competia a resolução dos problemas dos atletas. Na altura nada foi feito, não quiseram saber o porquê, e o que foi feito, quanto a mim, foi mal feito. Até hoje não sei as razões para o abandono de 3 atletas ao fim de 3 semanas de trabalho, mas, como tive oportunidade de lhes dizer, considerei uma falta de respeito para com o grupo de trabalho e para com as pessoas que os acompanhavam. No mínimo uma palavra. A formação para mim não passa só por aprender a jogar hóquei. Á que ensinar os atletas a respeitar os colegas, os treinadores, os dirigentes e os adversários. Como um treinador meu me dizia « conheci homens de 16 anos e cachopos de 30». Foi necessário partir muita pedra, só espero que esse trabalho não se perca.
CA – Tiveste no Saboga o teu braço direito, que te acompanhou sempre nos treinos, jogos, pelo contrário nos jogos que pude assistir, achei sempre falta do apoio por parte dos elementos da direcção ligados ao hóquei. Terá sido apenas uma impressão minha, ou sentiste o mesmo?
FV – Quem acompanhou esta equipa mais de perto, sabe que essa situação se passou, não só nos jogos como nos treinos. Situação esta, que por várias vezes, me levou a transmitir o meu desagrado junto do responsável pela equipa. Uma vez que até estávamos a treinar longe da casa mãe, a presença de alguém responsável pelo clube, seria o sinal de que a equipa não estava esquecida e que existia um interesse na mesma. A mudança dos jogos do Pavilhão Municipal para o União, já foi uma forma que eu encontrei para tentar fazer com que essa ligação não se perdesse. Para mim não era a situação ideal, pois preferia jogar onde treinava, as dimensões dos ringues não são iguais nem os pisos mas isso passou a ser um mal menor.
Foi sem duvida o Saboga e o Sr Marquitos, como é conhecido, a me acompanhar. De referir que o Sr Marquitos não tinha qualquer ligação ao clube e á equipa, mas apesar disso nunca deixou de a apoiar. A ambos os meus agradecimentos, tal como já tive oportunidade de o fazer.
CA – Falando da equipa em si, tinhas um grupo de atletas em que alternava a experiência do Paulo Silva, enquanto júnior, com a falta de maturidade de outros jogadores, és da mesma opinião? E achas que esse terá sido um dos pontos para dar aquele salto que levaria á conquista do distrital?
FV – Este é sem duvida um conjunto de jogadores de valor inquestionável e reconhecido a nível distrital. Andaram foi muitos anos sem uma orientação rigorosa e sem um acompanhamento competente, de maneira a que não tivessem perdido o sentido de equipa, de espírito de grupo e de capacidade de trabalho. O meu principal objectivo, inicialmente, era o de os tentar unir de novo como equipa, formar um grupo coeso e depois a partir dai trabalhar os aspectos mais centrados no jogo. Trabalho esse que já ia dando alguns frutos. Iria sempre ser complicado participar num campeonato de um escalão acima da idade, pois mais de 80 % dos jogadores ainda são juvenis. A falta de maturidade pode explicar algumas coisas mas, como disse atrás, esta equipa andou a marcar passo durante muito tempo e já tinha por obrigação ter uns níveis de rendimento muito superiores aos que tem. Mas caso o Nuno não tivesse sido forçado a abandonar devido a lesão, esta equipa tinha, concerteza, atingido outros níveis de rendimento.
Eu costumo dizer que nem tudo depende do treinador ou dos jogadores. Quem está por trás, a organizar, a gerir, a acompanhar a equipa, tem um papel fundamental nos sucessos ou insucessos da mesma. Quem trabalhou neste clube á uns anos atrás, sabe muito bem do que eu estou a falar e compreende perfeitamente as minhas palavras.
CA – No jogo que a equipa efectuou com os juniores do Sporting CP, o treinador Leonino elogiou bastante alguns atletas e o comando técnico da equipa, achas que esse jogo foi um dos exemplos da forma como querias que a equipa se apresentasse e evoluísse dentro de campo?
FV – Concerteza, esse jogo foi sem duvida um exemplo daquilo que eu queria para esta equipa. Mas houve muitas forças ocultas (ou não) que se encarregaram de começar a minar um trabalho que estava a ser realizado. Houve demasiados problemas para uma “época” só. Os responsáveis pelo clube têm que tratar a formação com mais respeito e atenção, pois são estes jogadores os futuros seniores do clube.

CA – No jogo com a Académica de Coimbra para o Torneio de Abertura a equipa volta a realizar uma excelente exibição, onde faltou apenas a estrelinha da sorte. Para o distrital, tanto em Santarém como no Entroncamento joga taco a taco com a equipa que viria a vencer, depois alterna jogos fracos como por exemplo em casa com “Os Tigres”. A que se deveu essa alternância?
FV – Acho que essa alternância se deveu muito á falta de concentração em alguns momentos do jogo, á falta de maturidade que alguns atletas ainda têm, o facto de jogarmos contra atletas mais velhos e mais fortes no contacto físico e, como já disse atrás, a perda do GR titular desta equipa.
Esse jogo com os Tigres é daqueles jogos em que tudo corre mal. Apesar de termos perdido o jogo houve vários aspectos positivos na equipa que eu gostei de ver. Fizeram uma boa circulação de bola, realizaram as movimentações que lhes pedi e criaram várias oportunidades de golo. Infelizmente ao nível da finalização esta equipa é muito perdulária e ainda é um aspecto que eles têm de trabalhar mais. Estivemos foi muito desconcentrados a defender e permitimos ao nosso adversário muitos espaços para jogar e como quem não marca sofre acabamos por perder um jogo que teve apenas um sentido único, a baliza dos tigres. Serviu também para eles verem que se deve de encarar todos os jogos com a mesma atitude e concentração, pois também entraram a pensar que o jogo seria mais fácil do que aquilo que foi. É aqui que entra a tal falta de maturidade que vem com o tempo e com um trabalho rigoroso.
CA – Deixas a equipa quase no final da época, e penso que agora será altura de reflexão, no entanto há uma pergunta que tem que ser feita. Que projectos para o futuro?
FV – Para já estou a tirar o curso de treinadores de nível 2 e depois o futuro a Deus pertence. Vou continuar a acompanhar o hóquei, na perspectiva de espectador e vou aproveitar para passar mais tempo com a minha família e gozar o prazer que tenho em andar na minha menina de 2 rodas.
CA – Vamos voltar a ver o Fernando Vaz como treinador de uma equipa do União?
FV – Nunca se sabe, eu gostaria muito de voltar a colocar o União no patamar a que ele nos habituou e merece. É óbvio que a conjuntura teria de mudar muito para que isso acontecesse, mas nunca escondi que o meu clube sempre foi o União Futebol Entroncamento. Foi ai que fui campeão distrital em todos os escalões, fiz parte da 1ª equipa sénior desta era do União e ajudei a subir o clube á 2ª divisão pela 1ª vez. São marcos históricos do clube, dos quais me orgulho muito e que gostaria que se voltassem a repetir.
CA – Fernando obrigado pela disponibilidade, felicidades para o teu futuro como treinador, pois todos nós ligados á modalidade sabemos o teu potencial enquanto técnico. Fica o espaço aberto para deixares alguma mensagem para os amantes da modalidade, e para os visitantes do Cartão Azul
FV – Obrigado eu por esta entrevista e não deixem de apoiar a melhor modalidade do MUNDO. Ao Cartão Azul desejar que continue com o bom trabalho, pois é sem duvida um blog de referência.
Saudações desportivas.

1 comentário:

Anónimo disse...

Um pessoa ser frontal e directa, nem sempre é sinónimo de sucesso, nomeadamente, quando o trabalho sério que está a fazer, está ao mesmo tempo a ser minado, por alguem que ambiciona o patamar que essa pessoa já atingiu fase á sua maneira de estar no desporto. Força Fernando, ainda tens muito para dar ao hóquei e acredito que também ao União, mas para já aproveita como tu dizes a "menina de 2 rodas"