sábado, 26 de janeiro de 2013

PAI, MÃE, FILHO E HÓQUEI EM PATINS

Pai e Mãe eu quero jogar hóquei em patins com estas regras:  

Foto: Amigos do Hóquei
    1. Não me fales aos gritos
    2. Não me grites em público
    3. Não grites com Treinador
    4. Não menosprezes os meus companheiros
    5. Não menosprezes os meus adversários
    6. Não menosprezes os árbitros
    7. Não percas a calma
    8. Não me dês lições sobre os meus erros depois da partida
    9. Não te rias e brinques, inadvertidamente, sobre o jogo
    10. Não me julgues só por um jogo; há mais
    Foto: Maria Eduarda Figueiredo - HC Santarém

    - A  importância  do  desporto  na  vida  dos  jovens
    Uma  explicação  para  os  pais
    1.     Introdução 
    • Existe a crença generalizada de que fazer desporto faz bem à saúde das crianças. Por isso, são cada vez mais os pais que apostam no desporto como forma de ocupação dos tempos livres dos seus filhos, pois reconhecem que este veicula um conjunto de valores e virtudes.
    • Contudo, alguns investigadores nesta área, colocam em causa os benefícios da prática desportiva, ou seja, fazer Desporto tanto pode ser bom, como pode ser mau; depende sobretudo da experiência vivida pelas crianças. Quer isto dizer que não basta colocar as crianças a frequentar uma qualquer actividade desportiva para que elas beneficiem dessa mesma prática. A qualidade da prática é o mais importante. De seguida, passaremos a explicar as possíveis virtudes do desporto.

    2.     Benefícios do desporto 
    • Realizar exercício físico, seja em que idade for, pode trazer um conjunto de benefícios, não só a nível físico, como psíquico e social.
    • A nível físico é sabido que o desporto ajuda no combate à obesidade, reduz o risco de doenças cardiovasculares, fortalece músculos, ossos e articulações.
    • A nível psíquico, eleva a auto- estima dos praticantes, pois este desenvolve um conjunto de habilidades que antes não possuía e melhora o seu aspecto físico, tendo consequentemente uma melhor imagem de si.
    • A nível social, o Desporto assume-se como um lugar privilegiado para se realizarem laços sociais de amizade, permitindo a partilha de sentimentos e dando ao indivíduo a sensação de pertença a um grupo.
    • Por tudo aquilo que se acaba de explanar, fica bem patente a importância da prática desportiva para o pleno e harmonioso desenvolvimento das crianças.
     
    Foto: Amigos do Hóquei

    3.    O Desporto para jovens e crianças 
    • O desporto para crianças e jovens é hoje organizado e orientado tendo como modelo a prática desportiva dos adultos. Quer isto dizer que os vícios próprios do desporto para os adultos, invadem hoje a prática desportiva dos mais jovens. Um olhar mais atento sobre o desporto para jovens permite-nos verificar um quadro profundamente negro, alicerçado em atitudes incorrectas de treinadores, atletas e pais. É normal verem-se pais a dirigirem todo o tipo de impropérios aos árbitros, treinadores que tratam as crianças como se estas fossem profissionais e jovens atletas utilizando um vocabulário de todo reprovável. Estes acontecimentos fazem-nos levantar algumas questões às quais importa responder:
    1. Quais os objectivos do desporto para jovens?
    2. Qual a importância dos pais na obtenção dos objectivos?
    Foto: Maria Eduarda Figueiredo - HC Santarém

    - O Desporto de jovens deve ter como objectivos fundamentais

        A aquisição de valores, pois o desporto é um contexto propício a essas aquisições.
    No Desporto o seu filho pode aprender
    • O Valor da saúde, pois a prática desportiva apela à adopção de um estilo de vida saudável;
    • O valor da cooperação, pois num desporto de equipa só se conseguem atingir os objectivos quando todos unem esforços em torno de um projecto comum;
    • O valor do respeito, ou reconhecer que todos erram e que o mais importante é apoiar os colegas nos maus momentos, para que os colegas façam o mesmo;
    • O valor da Amizade, pois a prática desportiva favorece a possibilidade de se fazerem amigos;
    • O valor da justiça, recusando vantagens injustificadas e reconhecendo no adversário um elemento indispensável sem o qual não há competição;
    • O valor da Multi-culturalidade, pois na prática desportiva, os mais jovens partilharão o mesmo espaço com crianças de diferentes meios económicos e culturais, contribuindo para o respeito pelas diferentes culturas;
    • O valor do Empenho, pois aprenderão que para se atingir um determinado objectivo é necessário, muito trabalho, esforço e dedicação, sem os quais nunca obterão sucesso;
    • O valor da Derrota. O desporto ensina as crianças a compreenderem que a vida se faz de sucessos e insucessos e que é importante aprender com os insucessos que vão surgindo ao longo da vida.
     
    Foto: maria Eduarda Figueiredo - HC Santarém

    Contudo para que isto seja possível, o papel dos pais é determinante
    Por isso, dirigem-se aos pais os seguintes conselhos:
    • Explique ao seu filho que perder não significa fracasso. A derrota é uma consequência lógica de quem pratica desporto, pois existem sempre 3 resultados possíveis: ganhar, empatar e perder. Além disso, a derrota permite-nos reflectir acerca dos aspectos onde devemos melhorar;
    • Refira-lhe que a vitória é um estado transitório, ou seja, se hoje ganhamos, é possível que amanhã percamos. Quer isto dizer, que deve ensinar o seu filho a ser humilde nas vitórias, respeitando os adversários.
    • Diga-lhe convictamente que o Desporto não é uma guerra e que os adversários não são inimigos (Pinheiro,Costa, Sequeira e Cipriano, 2008). As crianças tendem a encarar os jogos desportivos como uma “guerra de vida ou morte”, esquecendo-se frequentemente de se divertirem com o jogo. Diga-lhes que o mais importante é tirar partido dos benefícios que o jogo lhes dá. Não se canse de lhes dizer que o adversário não é um inimigo. O adversário é um elemento indispensável à competição, ou seja, sem adversário não há jogo,  e é o jogo a maior motivação e fonte de prazer das crianças. Por  isso, devemos sempre respeitar o adversário como um amigo.
    • Diga ao seu filho que é possível ganhar e jogar com Fair-Play (Pinheiro, Costa, Sequeira e Cipriano, 2008). Alguns estudos feitos com crianças demonstram que estas pensam que quem joga com Fair-Play quase sempre perde. Não tenha receio de lhe afirmar que é possível conciliar a vitória jogando com respeito pelos regulamentos, árbitros, adversários e público.
    • Não se esqueça de lhe dizer que fazer desporto é uma opção saudável e um excelente complemento para os tempos livres, mas que o mais importante é estudar.
    Por fim, gostaríamos de dar alguns conselhos acerca do comportamento dos pais durante as competições desportivas 
    • Respeite as opções do treinador e não interfira no seu trabalho. O treinador quer o melhor para a equipa, ou seja, para todos os jogadores, onde se inclui o seu filho. Deixe o treinador trabalhar livremente.
    • Respeite as decisões dos árbitros, mesmo que lhe pareça que este tenha errado contra a equipa do seu filho. O erro faz parte do ser humano. Se não respeitar o árbitro, estará a influenciar o comportamento do seu filho dentro de campo. Não se admire depois que ele mesmo desrespeite o árbitro;
    • Respeite os jogadores adversários, evitando comentários depreciativos acerca dos mesmos. Não se esqueça que é uma competição de crianças e que certamente também não gostaria de ouvir comentários desagradáveis acerca do seu filho;
    • Não se envolva em atritos e discórdias com os pais da equipa adversária, mesmo quando sente que está a ser provocado. Nunca se esqueça que o seu filho está dentro do campo, mas vê perfeitamente aquilo que se passa na bancada.
    • Aplauda as coisas bonitas feitas pelos colegas dos seus filhos. Mas, não se esqueça também de aplaudir aquilo que os jogadores adversários fazem de bem. O desporto é rico em situações de virtuosismo e por isso devemos aplaudir sempre, mesmo quando essas façanhas tenham sido realizadas pelos adversários.
     Em jeito de conclusão, reflicta nesta frase:

    Ensine o seu filho a gostar de Desporto,
    em vez de o ensinar a gostar apenas de ganhar.

    1 comentário:

    Luís disse...

    Começo por endereçar uma palavra de apreço ao autor do Blogue "Cartão Azul", sublinhando a sua dedicação, atenção e disponibilidade para com uma modalidade tão nobre como é o hoquei patins.
    Decidi ser "saudavelmente ousado" e, após leitura calma e atenta do texto exposto intitulado "Pai, Mãe, Filho e Hoquei Patins", é com um sentimento de alegria e de "algum alivio" saber que na realidade desportiva Portuguesa ainda existem instituições/pessoas com a preocupação e responsabilidade social para olhar o desporto de tal forma! Ser treinador, director, delegado, massagista, entre outros, de um escalão de formação não é uma tarefa fácil e, talvez por não ser fácil, se torna tão interessante! Acompanhar crianças num contexto desportivo onde as aprendizagens pela modelagem aparecem fortemente relacionadas, numa maioria considerável, com práticas de desportistas, treinadores e directores de maior idade com os tais vícios de que se fala no texto exposto, dificulta o trabalho que se tenta desenvolver apoiado numa ideologia desportiva um pouco ao estilo da Europa Nórdica: saudável (cívica, socialmente responsável, de maturação e evolução).
    Acompanhar escalões de formação representa para as pessoas que com estes trabalham uma tarefa de intensa e imensa responsabilidade! Penso que quem perceber muito de hóquei, nos escalões de formação, pouco de hóquei irá perceber, ou seja, engane-se aquele que ache que a abordagem altamente recheada de aspectos técnicos e taticos vincada por uma personalidade de estilo "Durão" será o requisito obrigatório e unico para se trabalhar com crianças... Não, Não e novamente Não! A prática multidisciplinar onde se aliam correntes de várias áreas da ciência terá de ser considerada. Ser desportista/treinador, ser pedagogo, professor, amigo, companheiro de viagem, confidente, entre outros tantos aspectos, representa esta multidisciplinaridade necessária! Acredito que um pouco por todo o pais o paradigma está a mudar e o acompanhamento com jovens desportistas vem assumindo já outras características. Acredito que um maior número de instituições olha para o desporto com a responsabilidade cívica já aqui falada. Acredito que o trabalho irá continuar a ser feito e que uma renovada, melhorada e sustentada abordagem aos escalões de formação poderá ser implementada por uma maioria. É hora de proporcionar o debate entre dirigentes/treinadores, pais e mães... É hora de desenvolver um trabalho sistémico para bem das crianças e do desporto de formação.

    Parabéns pelo Blogue.
    Até breve.

    Luís Neves - Treinador de Escolares (UDO -- Região de Aveiro)