quinta-feira, 28 de março de 2013

PORTO NÃO ERA FAVORITO, APESAR DE SER CRÓNICO CANDIDATO

Foto: FotoReport.in
A Selecção do Porto conseguiu na Mealhada a 5ª posição no Torneio Inter-Regiões 2013, uma das piores “performances” da equipa. Colocada no Grupo A conjuntamente com o Minho, Alentejo, Coimbra e Ribatejo, pensou-se que seria entre o Porto e Minho que se decidiria quem vencia ao grupo, pura ilusão afinal foi entre o Porto e o Minho que se decidiu quem ia às meias-finais e o Minho apesar do empate seguiu em frente. Fomos ao encontro de Hélder Antunes que orientou a equipa neste evento.
CA – Bom dia Hélder, obrigado pela tua disponibilidade. Que balanço fazes deste Inter-regiões?
HA – Ao nível do hóquei que praticamos e da evolução crescente que tivemos de jogo para jogo o balanço é positivo. Ao nível da classificação final obtida o balanço não é positivo. Se fizermos contas, a selecção de Lisboa perde um jogo e sagra-se campeã, a selecção de Aveiro perde um jogo e sagra-se vice campeã, a selecção do Minho perde dois jogos e empata um e obtém o 3º lugar, a selecção do Alentejo perde dois jogos e obtém o 4º lugar e a selecção do Porto, obtém uma derrota e um empate e não passa do 5º lugar. Para quem assistiu aos jogos, sabe que a selecção do Porto ficou a apenas um golo das meias-finais e curiosamente esse golo foi marcado (jogo Porto – Minho), mas não validado e tinha feito toda a diferença. Já para não falar em uma ou duas grandes penalidades que ficaram por marcar nesse jogo. Não quero com isto arranjar desculpas, mas a nossa performance não foi assim tão má quanto muitos querem fazer parecer.
Ao nível das arbitragens penso que o balanço só não é mais positivo porque existiu alguém a prejudicar a imagem de todos. Curiosamente, e esta é apenas a minha opinião, o Porto teve a infelicidade de ser apitado duas vezes por alguém que não merecia estar a apitar a este nível. Destaco as excelentes arbitragens da Cláudia Rego e da Sílvia Coelho que estiveram em muito bom plano. Ao nível da estadia, o balanço é super positivo. Foram-nos dadas excelentes condições. No restante apenas faço um reparo na alimentação que se deu aos atletas depois de eles competirem duas vezes por dia. Não está em causa a quantidade ou qualidade mas sim a substância alimentar que foi colocada à disposição. Os atletas têm de repor o que gastaram em campo e isso nem sempre foi possível, obrigando os Staff’s a arranjarem alternativas.
 
Foto: Porto vs Coimbra - Carlos Emídio Martins, Plurisports

CA – O Porto ficou aquém das expectativas, quais os motivos que levaram a esta prestação mais modesta, visto que o Porto é sempre apontado aos lugares do pódio?
HA – O Porto é e será sempre um eterno candidato, mas se formos sérios a analisar as equipas todas, verificamos que o Porto não era favorito, apesar de ser um crónico candidato. Se tivéssemos alcançado as meias-finais tudo poderia acontecer. A selecção do Porto pagou caro algumas desatenções. Por exemplo, no jogo com o Alentejo tivemos 4 bolas nos ferros e falhamos pelo menos dois lances de enorme importância (Livre directo e penalti) e sofremos o golo da derrota a 50 segundos do final da partida. Contra o Minho voltamos a vacilar no último minuto, numa falha de marcação sobre o portador da bola. A juntar a isso, os erros graves de arbitragem em nosso prejuízo e daí o 5º lugar. Afirmo novamente que os erros de arbitragem não desculpam os nossos, mas que tiveram influência, tiveram na minha opinião. Acho que o seleccionador de Leiria também partilha da minha opinião, visto que também sentiu a sua equipa claramente prejudicada num jogo em particular.
CA – No Grupo A partiam como favoritos a par do Minho, no entanto acabaram ambos surpreendidos pelo Alentejo. Achas que a equipa Alentejana foi um outsider, ou confirmou ser uma excelente equipa, bem orientada e fruto disso ter vencido o grupo só com vitórias?
HA – Para nós o Alentejo não foi uma surpresa. Tínhamos analisado os adversários previamente e sabíamos que o Alentejo estava forte e bem organizado. Já no ano passado tivemos muitas dificuldades em vencer o Alentejo. Só quem estava distraído é que não levaria em conta este Alentejo. O Alentejo tinha cerca de 50% do seu plantel do ano passado e penso mesmo que alguns destes atletas fizeram o seu 3º Inter-regiões. Após a vitória do Alentejo sobre o Minho, a equipa alentejana cresceu ainda mais e “embalou”.
 
Foto: Porto vs Ribatejo - Carlos Emídio Martins, Plurisports

CA – No jogo com o Minho em que só a vitória vos interessava, o que faltou, depois de estarem a vencer por duas vezes, a ultima das quais a pouco mais de um minuto do final e acabam por sofrer o golo do empate na bola de saída?
HA – No jogo com o Minho, penso que é unânime que o Porto merecia a vitória. Fizemos um jogo pautado de grande maturidade e classe táctica. Precisávamos de ganhar e jogamos claramente para ganhar. Ninguém nos pode dizer o contrário. Pressionamos todo o jogo o Minho a 3/3. Ao intervalo tínhamos uma vantagem de um golo e se tivéssemos a vantagem de dois golos, tudo seria diferente. Essa vantagem só não a alcançamos, porque alguém não deixou. Invalidaram-nos um golo legal e ficaram duas grandes penalidades por assinalar. Não sei se marcaríamos as grandes penalidades, mas marcamos um golo legal que não contou. Se ao intervalo tivéssemos essa vantagem de dois golos ou mais, a história do jogo seria outra e o Porto teria alcançado as meias-finais e hoje não falávamos em prestação modesta. Quem viu o jogo ao vivo ou através da Internet sabe bem do que falo. Quem não viu e quiser ver é só carregar o vídeo do jogo no site Indoor.pt e ver o que aconteceu nos minutos 38:15, 44:25 e 53:20 desse vídeo. As imagens falam por si. Mesmo assim, mantivemo-nos organizados, concentrados e chegamos à vantagem a um minuto e pouco do final da partida, no entanto tivemos um falha defensiva logo na saída de bola do Minho e eles fizeram o empate no minuto final. Estivemos quase perfeitos. Penso que não merecíamos!
CA – Depois de “gorada” a presença nas meias-finais, como foi motivar um grupo que vinha com o pódio em mente, e que era apontado como um dos favoritos?
HA – Mais uma vez afirmo que não éramos favoritos apesar de sermos candidatos. Não é fácil motivar uma equipa para jogar para 5º lugar, mas estes atletas sabem da responsabilidade que é representar a AP Porto e como tal tinham de dar o máximo nesse jogo e foi o que fizeram. O jogo merecia mais golos, mas devido ao encaixe táctico defensivo das equipas não foi possível. Ainda assim utilizamos todo o plantel nesse jogo. Leiria foi e é uma equipa muito compacta e organizada.
CA – Miguel Camões o seleccionador não esteve presente pelo menos em alguns jogos, segundo me apercebi, podes explicar a que se deveu a sua ausência?
HA – O Miguel Camões acabou por não estar presente em nenhum jogo pelo maior motivo do mundo. Ser pai. Ele viajou com a comitiva na 5ªfeira, mas logo nesse dia à noite a sua mulher entrou em trabalho de parto e ele teve de regressar ao Porto como é óbvio. Logo aí ficamos desfalcados de uma peça chave. No sábado antes do jogo com o Minho, ficamos desfalcados novamente. Desta vez, o nosso médico, Dr. Freitas, teve uma cólica renal e teve também de regressar ao Porto. Eu estive quase para regressar também ao Porto, uma vez que no domingo faleceu um familiar meu. Mesmo com estes contra tempos todos fizemos tudo para que a equipa não sentisse a falta destas peças chave e se apresentasse o melhor possível em campo.
 
Foto: Porto vs Alentejo - Carlos Emídio Martins, Plurisports

CA – Lisboa acabou por ser o justo vencedor, ou antes das meias-finais apontavas outro favorito? Já falaste do Alentejo queres deixar a tua opinião em relação aos outros três participantes?
HA – Todos os campeões são sempre justos e Lisboa é um justo campeão. Poderia apontar Aveiro e Minho como favoritos. Aveiro, não pelo facto de jogar em casa, mas pelo facto de ser uma equipa muito bem organizada/orientada e possuir dois excelentes guarda-redes. Aliás, penso que a final foi entre uma equipa com valores individuais acima da média como Lisboa contra a organização de Aveiro e dos seus guarda-redes. Acabou por vencer Lisboa. Se o pavilhão da Mealhada se tivesse galvanizado por Aveiro e criado um ambiente mais “barulhento/hostil” a favor de Aveiro, tal como Lisboa teve no ano passado em Oeiras, penso que a equipa de Aveiro poderia ter ido buscar mais algumas forças no jogo da final. Minho, porque é uma equipa fisicamente capaz, guerreiros e com alguns jogadores de grande classe. Penso que não é justo emitir opinião em relação aos outros três participantes, uma vez que a prova teve 10 participantes. Assim sendo e de uma forma breve posso emitir uma opinião de todas as outras equipas:
  • Lisboa: Valores individuais acima da média. Gonçalo Nunes (sobretudo) a fazer a diferença. Equipa muito forte a defender a 1/3. Equipa bem organizada.
  • Aveiro: Equipa muito bem orientada e organizada. As duas soluções que têm para a baliza a serem o ponto forte da equipa. O capitão de equipa a ser um jogador chave no processo da equipa.
  • Minho: Equipa que tem em Pedro Silva o seu pêndulo de equilíbrio e em Gonçalo Meira o perigo ofensivo. Equipa compacta e guerreira.
  • Alentejo: Equipa bem organizada. Defende bem a 1/3 com saídas rápidas para o contra ataque bem delineadas. Tem no seu capitão o pêndulo de equilíbrio e tem no seu n.º 8 e 9 a velocidade ofensiva e o poder da meia distância.
  • Leiria: Mais uma equipa bem organizada e orientada. Fortes a defender a 1/3, rápidos nas transições e em ataque organizado com um esquema de jogo interior difícil de defender.
  • Ribatejo: Equipa muito equilibrada e que é “um osso duro” de roer. Faltou-lhes alguma ponta de sorte para surpreenderem.
  • Setúbal: Equipa muito disciplinada a todos os níveis e de uma entrega fantástica em todos os jogos. Fortes nas transições defesa ataque.
  • Coimbra: Equipa organizada a defender a 1/3 onde são peças chave nesta equipa o seu capitão n.º6 e a sua guarda redes. São uma equipa matreira nas transições defesa ataque.
  • Açores: Uma equipa que parte em desigualdade perante todas as outras, mas que merece todo o nosso respeito. Ninguém os pode acusar de não lutarem pelo melhor resultado possível.
CA – Neste Inter-Regiões na tua opinião quais os pontos positivos e negativos?
HA – Positivos:
- Nível das equipas participantes
- Organização
- Estadia
- Público presente
- Comunicação social presente
- Ambiente geral entre as comitivas
Negativos:
- Erros de arbitragem
- Reforço alimentar em algumas refeições
 
Foto: Porto vs Leiria - Carlos Emídio Martins, Plurisports

CA – Antes de finalizar, como é que com um leque grande de equipas a jogar na área de jurisdição da AP Porto é feita a selecção dos atletas até ao 10 final e depois de eleito quanto tempo de preparação e quantos treinos de conjunto e com quem até ao inicio do Torneio?
HA – Começamos em Setembro os treinos e as observações. Todas as equipas da APP são visualizadas, por muito que digam o contrário. Começamos com um leque abrangente de atletas e vamos reduzindo consoante o que vão evoluindo nos nossos treinos e nos seus clubes. Até ao torneio de Natal tentamos realizar 2 treinos por mês. Até ao torneio de Carnaval já temos o lote reduzido a 12 jogadores ou até mesmo a 10. Este ano como o Inter-regiões foi mais cedo, tentamos fixar o lote de 10 até ao torneio de carnaval. No mês que antecede o Inter-regiões tentamos treinar 1 vez por semana e na semana que antecede o Inter-regiões realizamos 2 ou 3 treinos. Nas últimas semanas tentamos realizar jogos treino de forma a dar entrosamento à equipa e retificar erros. Quando chegamos aos 10 finais e ao contrário do que nos acusam não olhamos aos clubes que esses atletas representam, mas sim ao critério de serem os melhores jogadores que possuímos naquele momento para “atacar” o Inter-regiões. A selecção da APP é composta pelos melhores da área de jurisdição e não pelos melhores de cada clube. Outra coisa que temos em atenção é que tentamos ter sempre uma equipa equilibrada. Não podemos ir para uma prova com 8 avançados ou 8 médios ou 8 esquerdinos. Selecionamos aqueles que achamos serem os melhores para aquela posição e que nos dão garantias, para além de terem agarrado o lugar nos treinos e nas provas que disputamos previamente ao Inter-regiões. Sejam quais forem as nossas escolhas seremos sempre criticados. Mas estamos cientes que não estamos aqui para agradar as críticas. Apenas nos concentramos no nosso trabalho. No final, tudo se resume, ganhas, és o melhor e fizeste as escolhas certas, perdes, és a maior besta. Isto é a vida de um treinador.
CA – Hélder, mais uma vez obrigado pela tua disponibilidade, e fica o espaço à tua disposição para alguma mensagem que queiras deixar aos visitantes do Cartão Azul e do teu Blog “THP – Treinadores de Hóquei em Patins”. Obrigado
HA – Obrigado Francisco. O Cartão Azul e o THP – Treinadores de Hóquei em Patins para além de serem já da “velha guarda” continuam a ter uma coisa em comum “juntos pelo hóquei em patins”.

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